“Penso sempre em vós”: saber cuidar

Sexta, 20 Setembro 2024 16:02 Escrito por  Pe. João Mendonça, SDB
“Penso sempre em vós”: saber cuidar iStock.com
A expressão carinhosa acima é de Dom Bosco. Repetida em várias comunicações, tanto aos jovens das casas, como também para os salesianos.

 

Pensar sempre nas pessoas significa conhecê-las, ter vínculos; ou seja: ter amizade, amor ágape. É sobre isso que desejo escrever nestas linhas pastorais e pedagógicas salesianas a partir de uma carta de Dom Bosco. Era o ano de 1875, a Congregação Salesiana estava em plena expansão, inclusive missionária, e Dom Bosco escreveu uma carta muito carinhosa e objetiva aos alunos do Colégio de Lanzo (Cf. MB, vol. XI, p. 15-16), na qual fez duas importantes recomendações: 1. Saber cuidar: saúde, estudo e moralidade; 2. Apelo missionário.

É do conhecimento de todos que Dom Bosco dava muito valor à disciplina pessoal e comunitária. Não aquela disciplina militar com ameaça do castigo, não! Mas a disciplina ética e moral, cujo resultado é a formação do “bom cristão e honesto cidadão”. Uma pessoa sem disciplina não chega a lugar nenhum. Perde-se pelo caminho. Então, Dom Bosco, um evangelizador nato e pedagogo, com tino para a formação de pessoas, sobretudo de jovens, aconselha questões práticas, do cotidiano. Nada que não fosse do alcance dos jovens e dos salesianos.

 

Cuidado com a saúde

A saúde é o dom de viver plenamente para poder trabalhar, gastar a vida pelo ideal e ser proativo na ação. Na Ratio encontramos uma prática orientação sobre isto quando diz: “O estilo salesiano de vida e de ação requer habitualmente boa saúde física, com uma grande capacidade de trabalho. Dom Bosco recomendava aos noviços: preciso que cresçais e vos torneis jovens robustos, a fim de mais tarde poderdes trabalhar muito, pois quem quiser entrar na Congregação deve amar o trabalho” (Ratio, n. 59). É por isso, seguindo a Ratio, que o salesiano: zela pela saúde, ama o trabalho cotidiano, assume um ritmo de vida e de trabalho ordenado, garante e programa todos aqueles elementos que favorecem o equilíbrio físico (Ratio, n. 60).

Pois bem. Na carta aos alunos de Lanzo, Dom Bosco recomenda que eles cuidem da saúde para manter um bom ritmo de estudo e também moral. Diferentemente dos dias atuais, no qual o cuidado com a saúde virou, em algumas situações, uma obsessão. Há o cuidado da saúde por questões estéticas, exibicionismo, o culto ao corpo perfeito. No entanto, quando se recomenda a saúde é para manter-se fisicamente bem nas diferentes idades: jovem, adulto e idoso. Ser saudável, longevo, requer a disciplina consigo mesmo e Dom Bosco recomendava sempre boa alimentação, descanso, higiene e trabalho, como um conjunto do bem-viver. Além do mais, agradecer e cuidar de si mesmo é corresponder ao dom da saúde que recebemos de Deus.

 

Zelo pelo estudo

Na mesma correspondência, Dom Bosco exortava os alunos a terem disciplina quanto ao estudo; aliás, é bom salientar que na casa salesiana, entre o trabalho e o lazer, estava o estudo como exigência quase ascética, mesmo em meio a muitas ocupações. Ele mesmo, Dom Bosco, era um homem dedicado ao estudo permanente. Estudar para poder corresponder às exigências da missão. Quando foi necessário ter as escolas no Oratório e o governo exigiu titulação, Dom Bosco enviou os salesianos para a Universidade de Turim e muitos conseguiram títulos importantes, porém, sempre em vista do desenvolvimento da missão.

O estudo não nos torna mais importantes, mas sim servidores do Evangelho. Não bastam os títulos. Dom Bosco não obteve nenhum título acadêmico, a não ser os estudos seminarísticos de Filosofia e Teologia; no entanto, permitiu, motivou e quis seus salesianos preparados.

Aos alunos de Lanzo ele exorta a seriedade nos estudos. Nada de superficialidade. Nada de se aproveitar dos esforços dos outros colegas para obter boas notas. Cada um deveria ser responsável com o estudo sistemático.

Certamente, em nossos dias, o estudo não pode ser negligenciado. Abrir a mente ao processo atual de mudança de época é fundamental para que nossos destinatários se tornem sujeitos, sejam protagonistas da própria história. A tendência ao menor esforço, à mediocridade e ao fanatismo são tentações frequentes numa sociedade cheia de álibis que reforçam a ignorância e o fundamentalismo, sobretudo o religioso. Ajudar na formação de pessoas livres, com bom senso e senso crítico, capazes de compreender a realidade, é uma tarefa que, primeiramente, requer disposição do educador salesiano e, depois, capacidade de interagir com os demais, de construir conhecimento.

 

Atenção à moralidade

Por moralidade Dom Bosco considerava a boa conduta, sem afetações, e chamava a atenção que tudo começa no próprio salesiano que assiste e orienta os jovens. Ele exortava, em 1875, em outra carta aos salesianos da casa de Valdocco: “Ninguém dá o que não tem. Um saco vazio não pode oferecer trigo, nem um frasco cheio de borras pode dar bom vinho. Portanto, antes de colocar-nos como mestres dos outros, é essencial que possuamos o que queremos ensinar aos outros” (MB, vol. XI, p. 926). Neste campo da moralidade, a sexualidade precisava ser transparente, sem meio termo. Por isso, Dom Bosco indicava quatro meios para este fim.

  1. Guarda dos olhos: “um olhar, dizia ele, é o suficiente para acender mil desejos” (MB, vol. XI, p. 913). No contexto atual de tanto acesso a pornografia, até digo que é uma síndrome do cenário contemporâneo, é fonte de grande sensibilidade que distorce o valor da sexualidade, pois nossos sentidos tornam-se canais de erotismo: língua, ouvidos, paladar, cheiro. Fortalecendo em muitos casos o narcisismo, o egocentrismo e o subjetivismo.
  2. Oração: a oração não pode ser alienante, uma espécie de fuga em fórmulas mágicas, numa religiosidade à base de ficção do tipo Harry Potter. A oração é deixar-se mover pela ação do Espírito Santo que constrói a nossa casa interior (Sl 126,1).
  3. Sacramentos: o valor da Eucaristia e da Reconciliação na vida de um cristão é importante para compreender mais ainda o valor da oração que faz mover as entranhas. No ambiente das casas salesianas ficou marcada a prática dos dois sacramentos para aproximar os jovens do amor misericordioso de Deus.
  4. Guardar o coração: Dom Bosco não era contrário ao afeto. O que considerava excessivo era o descontrole na afetividade, as amizades fechadas, ou seja, lobby afetivos que podem criar situações perigosas e escandalosas do ponto de vista moral.

A crise atual da moralidade com casos de pedofilia, pornografia, assédio sexual e moral causa grande desgaste na Igreja. É um caso a se ter muito cuidado em nossos ambientes, sobretudo na relação com as crianças, os adolescentes e os jovens. Prudência e disciplina religiosa são fundamentais para a fidelidade consagrada.

 

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Sexta, 20 Setembro 2024 16:02 Escrito por  Pe. João Mendonça, SDB
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A expressão carinhosa acima é de Dom Bosco. Repetida em várias comunicações, tanto aos jovens das casas, como também para os salesianos.

 

Pensar sempre nas pessoas significa conhecê-las, ter vínculos; ou seja: ter amizade, amor ágape. É sobre isso que desejo escrever nestas linhas pastorais e pedagógicas salesianas a partir de uma carta de Dom Bosco. Era o ano de 1875, a Congregação Salesiana estava em plena expansão, inclusive missionária, e Dom Bosco escreveu uma carta muito carinhosa e objetiva aos alunos do Colégio de Lanzo (Cf. MB, vol. XI, p. 15-16), na qual fez duas importantes recomendações: 1. Saber cuidar: saúde, estudo e moralidade; 2. Apelo missionário.

É do conhecimento de todos que Dom Bosco dava muito valor à disciplina pessoal e comunitária. Não aquela disciplina militar com ameaça do castigo, não! Mas a disciplina ética e moral, cujo resultado é a formação do “bom cristão e honesto cidadão”. Uma pessoa sem disciplina não chega a lugar nenhum. Perde-se pelo caminho. Então, Dom Bosco, um evangelizador nato e pedagogo, com tino para a formação de pessoas, sobretudo de jovens, aconselha questões práticas, do cotidiano. Nada que não fosse do alcance dos jovens e dos salesianos.

 

Cuidado com a saúde

A saúde é o dom de viver plenamente para poder trabalhar, gastar a vida pelo ideal e ser proativo na ação. Na Ratio encontramos uma prática orientação sobre isto quando diz: “O estilo salesiano de vida e de ação requer habitualmente boa saúde física, com uma grande capacidade de trabalho. Dom Bosco recomendava aos noviços: preciso que cresçais e vos torneis jovens robustos, a fim de mais tarde poderdes trabalhar muito, pois quem quiser entrar na Congregação deve amar o trabalho” (Ratio, n. 59). É por isso, seguindo a Ratio, que o salesiano: zela pela saúde, ama o trabalho cotidiano, assume um ritmo de vida e de trabalho ordenado, garante e programa todos aqueles elementos que favorecem o equilíbrio físico (Ratio, n. 60).

Pois bem. Na carta aos alunos de Lanzo, Dom Bosco recomenda que eles cuidem da saúde para manter um bom ritmo de estudo e também moral. Diferentemente dos dias atuais, no qual o cuidado com a saúde virou, em algumas situações, uma obsessão. Há o cuidado da saúde por questões estéticas, exibicionismo, o culto ao corpo perfeito. No entanto, quando se recomenda a saúde é para manter-se fisicamente bem nas diferentes idades: jovem, adulto e idoso. Ser saudável, longevo, requer a disciplina consigo mesmo e Dom Bosco recomendava sempre boa alimentação, descanso, higiene e trabalho, como um conjunto do bem-viver. Além do mais, agradecer e cuidar de si mesmo é corresponder ao dom da saúde que recebemos de Deus.

 

Zelo pelo estudo

Na mesma correspondência, Dom Bosco exortava os alunos a terem disciplina quanto ao estudo; aliás, é bom salientar que na casa salesiana, entre o trabalho e o lazer, estava o estudo como exigência quase ascética, mesmo em meio a muitas ocupações. Ele mesmo, Dom Bosco, era um homem dedicado ao estudo permanente. Estudar para poder corresponder às exigências da missão. Quando foi necessário ter as escolas no Oratório e o governo exigiu titulação, Dom Bosco enviou os salesianos para a Universidade de Turim e muitos conseguiram títulos importantes, porém, sempre em vista do desenvolvimento da missão.

O estudo não nos torna mais importantes, mas sim servidores do Evangelho. Não bastam os títulos. Dom Bosco não obteve nenhum título acadêmico, a não ser os estudos seminarísticos de Filosofia e Teologia; no entanto, permitiu, motivou e quis seus salesianos preparados.

Aos alunos de Lanzo ele exorta a seriedade nos estudos. Nada de superficialidade. Nada de se aproveitar dos esforços dos outros colegas para obter boas notas. Cada um deveria ser responsável com o estudo sistemático.

Certamente, em nossos dias, o estudo não pode ser negligenciado. Abrir a mente ao processo atual de mudança de época é fundamental para que nossos destinatários se tornem sujeitos, sejam protagonistas da própria história. A tendência ao menor esforço, à mediocridade e ao fanatismo são tentações frequentes numa sociedade cheia de álibis que reforçam a ignorância e o fundamentalismo, sobretudo o religioso. Ajudar na formação de pessoas livres, com bom senso e senso crítico, capazes de compreender a realidade, é uma tarefa que, primeiramente, requer disposição do educador salesiano e, depois, capacidade de interagir com os demais, de construir conhecimento.

 

Atenção à moralidade

Por moralidade Dom Bosco considerava a boa conduta, sem afetações, e chamava a atenção que tudo começa no próprio salesiano que assiste e orienta os jovens. Ele exortava, em 1875, em outra carta aos salesianos da casa de Valdocco: “Ninguém dá o que não tem. Um saco vazio não pode oferecer trigo, nem um frasco cheio de borras pode dar bom vinho. Portanto, antes de colocar-nos como mestres dos outros, é essencial que possuamos o que queremos ensinar aos outros” (MB, vol. XI, p. 926). Neste campo da moralidade, a sexualidade precisava ser transparente, sem meio termo. Por isso, Dom Bosco indicava quatro meios para este fim.

  1. Guarda dos olhos: “um olhar, dizia ele, é o suficiente para acender mil desejos” (MB, vol. XI, p. 913). No contexto atual de tanto acesso a pornografia, até digo que é uma síndrome do cenário contemporâneo, é fonte de grande sensibilidade que distorce o valor da sexualidade, pois nossos sentidos tornam-se canais de erotismo: língua, ouvidos, paladar, cheiro. Fortalecendo em muitos casos o narcisismo, o egocentrismo e o subjetivismo.
  2. Oração: a oração não pode ser alienante, uma espécie de fuga em fórmulas mágicas, numa religiosidade à base de ficção do tipo Harry Potter. A oração é deixar-se mover pela ação do Espírito Santo que constrói a nossa casa interior (Sl 126,1).
  3. Sacramentos: o valor da Eucaristia e da Reconciliação na vida de um cristão é importante para compreender mais ainda o valor da oração que faz mover as entranhas. No ambiente das casas salesianas ficou marcada a prática dos dois sacramentos para aproximar os jovens do amor misericordioso de Deus.
  4. Guardar o coração: Dom Bosco não era contrário ao afeto. O que considerava excessivo era o descontrole na afetividade, as amizades fechadas, ou seja, lobby afetivos que podem criar situações perigosas e escandalosas do ponto de vista moral.

A crise atual da moralidade com casos de pedofilia, pornografia, assédio sexual e moral causa grande desgaste na Igreja. É um caso a se ter muito cuidado em nossos ambientes, sobretudo na relação com as crianças, os adolescentes e os jovens. Prudência e disciplina religiosa são fundamentais para a fidelidade consagrada.

 

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