A caminhada até a basílica Nossa Senhora das Dores homenageou o centenário da diocese de Crato e proporcionou aos romeiros e romeiras das CEBs, mais um momento de mística. Durante a procissão, cânticos e orações populares das romarias criaram um ambiente de fé e confiança para viver os compromissos assumidos pelo tema do Intereclesial: “Justiça e Profecia a serviço da Vida” e o lema “CEBs romeiras do reino no campo e na cidade”.
Um dos cânticos entoados dava o ritmo da caminhada. “Sou, sou teu, Senhor, sou povo novo, retirante e lutador, Deus dos peregrinos, dos pequeninos, Jesus Cristo Redentor”. Intercessões reuniam demandas do povo na vida das comunidades.
A representante do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) do Maranhão, Maria Madalena Borges, estava entre a multidão. “O Cimi tem um compromisso com a vida e a defesa dos povos indígenas e a participação neste Intereclesial significa alimentar esse compromisso. Este encontro vem reafirmar o que o Cimi já assumiu em seu Congresso nacional por ocasião dos 40 anos de sua fundação”, explica a missionária.
João Paulo dos Santos Silva faz parte do Movimento Social da Juventude conhecido como Levante Popular, e circula entre a Via Campesina e as CEBs. “Estamos acompanhando a comunidade do Gravatá no vizinho município de Caririaçu. Essa comunidade está sendo removida para dar lugar a um Aterro Sanitário, projetado por dez municípios da região do Cariri. Estamos na luta para evitar essa remoção”, diz o jovem.
Na chegada à Praça da Basílica, o povo foi recebido com o refrão: “É muito gostoso este nosso aconchego, este nosso chamego, essa nossa alegria de ser feliz”. Nesse clima familiar e típico das CEBs, a multidão se acomodava para a missa que foi presidida por dom Fernando Panico, bispo de Crato, ladeado por vários outros bispos, padres e diáconos.
“Façamos deste momento uma grande festa de fé no Batismo do Senhor. Vamos ouvir a Palavra de Deus e partir o Pão da Eucaristia solícitos às necessidades dos nossos irmãos e irmãs”, exortou dom Fernando ao convidar para a oração.
Em diversos momentos, a equipe de liturgia formada por representantes dos regionais levou até o símbolo da caminhada.
A missão das CEBs
“Neste encontro, nos renovamos na missão de evangelizar a serviço da vida, pois esta é a nossa vocação”, disse o bispo na homilia. “Convido-os a ir e anunciar. Chegou a hora de partir para a missão”, completou. “Nas margens do Jordão, Jesus é revelado o Filho dileto do Pai. Ele nos envia dois a dois formando pequenas comunidades para que o tornemos presente na caminhada do povo. As CEBs são chamadas a contribuir para a salvação de todos os povos da terra, sem nada impor ou desanimar”, lembrou o celebrante. A exemplo de Jesus, “também as CEBs levarão a justiça às nações não com o recurso da força, da violência ou do espetáculo, mas com a bondade, a mansidão que definem o jeito de Deus. A sua missão não se desenvolve no triunfalismo, mas na obediência ao Pai”.
Dom Fernando lembrou ainda que, “a profecia desencadeou um processo corajoso por justiça. Na América Latina, a conferência de Medelín foi a maior expressão dessa profecia”. O bispo de Crato fez um apelo: “CEBs, sejam romeiras do Reino a serviço da justiça e profecia. CEBs em missão é o grito que levamos desta terra de romarias. O trem das CEBs não pode parar e a próxima estação será Londrina, no Paraná. O trem está de partida. Boa viagem e boa missão. CEBs, não percam o trem, não atrasem a marcha e o ritmo da missão”, concluiu.
Na Festa do Batismo de Jesus, empunhando velas acesas no Círio Pascal, o povo renovou as promessas do batismo e seus compromissos, dentre os quais, guardar os conselhos deixados pelo padre Cícero: denunciar a cobiça do poder e a devastação da terra, a degradação do meio ambiente, combater a miséria. Anunciar a economia solidária, numa sociedade onde todos tenham oportunidades, casa, escola, saúde, segurança, festa e felicidade. O povo cantava: “Ao chegar em Juazeiro, temei a resolução de seguir os conselhos do padre Cícero Romão”.
O convite para a comunhão resumia a motivação para a missão: “Comungar é comprometer-se com a nova sociedade inaugurada com o Batismo de Jesus”, dizia. Os cânticos entoados com emoção reforçavam os anseios do povo das CEBs. “Se calarem a voz dos profetas, as pedras falarão... É Jesus este Pão de igualdade, viemos pra comungar, com a luta sofrida de um povo que quer ter voz, ter vez, lugar...”
No final da missa, padre Vileci Vidal, coordenador do Intereclesial, agradeceu todas as comissões de serviço e as famílias das cinco cidades da região que hospedaram os participantes do encontro. A diocese de Crato, na pessoa do seu bispo, entregou à delegação do Paraná a réplica de um caminhão Pau de Arara, meio utilizado pelos romeiros, como símbolo de comunhão na preparação do 14º Intereclesial a ser realizado na diocese de Londrina em 2017.
Conferência dos Religiosos do Brasil