“O contexto hoje é muito diferente daquele dos projetos missionários que difundiram a Congregação nas Américas (1875), na Ásia (1906) e na África (1980). Corremos o risco de nos apegar a antigos paradigmas missionários que já não condizem com as atuais orientações eclesiais e missiológicas. Urge criar um perfil renovado do missionário salesiano”. Assim começa a reflexão que o padre Alfred Maravilla.
“Hoje não é apenas o missionário salesiano quem dá; ele acima de tudo recebe; não só ensina: acima de tudo aprende com as pessoas a quem serve, as quais não são somente recebedoras passivas dos seus esforços. Ele não é construtor nem arrecadador de fundos: é, antes de tudo, um mediador humilde e discreto. Que nada reserva para si próprio, mas se preocupa por manter vivo o seu ardor de santidade pela 'graça da unidade'. Que se doa generosamente, até se consumir (v. «Fratelli Tutti», n. 284).
A inculturação é um processo lento que nunca se pode realizar completamente. A presença dos missionários na inspetoria fortalece a enculturação, porque os coirmãos locais têm uma tal perspectiva da própria cultura que os missionários ainda não possuem, e vice-versa os missionários oferecem perspectivas de cultura talvez ainda não percebidas pelos coirmãos locais. De fato, uma inspetoria composta apenas por coirmãos da mesma cultura corre o risco de ser menos sensível ao desafio da interculturalidade e menos capaz de entrever para além das fronteiras de seu próprio mundo cultural. Da mesma forma: o missionário está aberto a se enriquecer com a cultura local, enquanto aprofunda a sua compreensão, à luz da fé cristã e do carisma salesiano. Graças aos missionários, hoje o carisma de Dom Bosco encontra-se presente e inculturado em 134 países.
O missionário salesiano se insere na Igreja local, na vida e no projeto educativo-pastoral da inspetoria, enriquecendo-os com seus dons pessoais, seu zelo apostólico e sua sensibilidade missionária. Portanto, ele está destinado de forma definitiva a uma inspetoria ou delegação (Const. 159), não apenas para responder às demandas de colaboradores, mas, acima de tudo, para contribuir com o diálogo intercultural, para a inculturação da fé e do carisma e para a desencadear processos que possam gerar novas vocações locais.
Ele se empenha por colaborar com os leigos, voluntários missionários e outros membros da Família Salesiana, promovendo uma verdadeira troca de dons e valores, de acordo com as distintas vocações e formas de vida específicas de cada grupo. Quando em idade avançada, continua seu trabalho missionário, partilhando a sua amizade e sabedoria, com a oração e o exemplo de vida. O missionário entrega às pessoas que lhe foram confiadas também seu último respiro: o sepultamento em sua terra de missão sela esse amor.
Não há dúvidas de que os missionários salesianos de hoje precisam ter o zelo e a audácia do padre João Cagliero e dos seus nove primeiros companheiros missionários, mas hão também de renovar sua mentalidade missionária e seu perfil de missionário!".
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- Já chegou a refletir sobre a necessidade, tanto para os salesianos locais quanto para os recém-chegados, de inculturar melhor o carisma salesiano?