Ainda que essa preocupação com a política vá além das eleições, a Igreja reconhece que o pleito é um momento crucial e incentiva que os católicos tenham uma participação consciente e ativa no debate e nas definições das políticas públicas do país. Uma iniciativa concreta realizada pela Igreja no Brasil é o lançamento de cartilhas, produzidas pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), com orientações sobre o processo eleitoral e o necessário protagonismo político por parte dos católicos.
Diante de tal importância, podemos nos perguntar: Qual é o papel da catequese na formação para a política? Cabe inserir discussões políticas nos encontros de catequese? Se acreditamos na catequese catecumenal, ou seja, uma catequese experiencial e vivenciada em comunidade, perceberemos que a catequese pode colaborar para a formação política e tem um imenso potencial de despertar, sobretudo nos jovens e adultos, o desejo de contribuir com a melhoria da sociedade.
“Ninguém pode exigir de nós que releguemos a religião para a intimidade secreta das pessoas, sem qualquer influência na vida social e nacional, sem nos preocupar com a saúde das instituições da sociedade civil, sem nos pronunciar sobre os acontecimentos que interessam aos cidadãos. Uma fé autêntica – que nunca é cômoda nem individualista – comporta sempre um desejo de mudar o mundo, transmitir valores, deixar a terra um pouco melhor depois da nossa passagem por ela” (FRANCISCO, 2013, n. 183).
Por outro lado, envolver reflexões políticas na catequese não significa substituir os encontros por debates sobre modelos de governo ou ideologias partidárias. Discussões sobre as políticas públicas devem surgir em nossos encontros porque emergem dos valores do Evangelho. Para bem exercermos o nosso ministério de catequistas, também na formação para a política devemos cultivar em nós uma autêntica espiritualidade do catequista educador.
Quando encontramos irmãos que limitam a catequese ao ensino de orações e novenas, percebemos que abandonamos a essência de educadores para sermos catequistas rezadores. Se nossa preocupação maior for “entreter” os catequizandos – porque se não for desta maneira eles perdem o interesse no encontro de catequese –, estaremos limitados a ser catequistas brincadores. E se, ainda, restringirmos as discussões à doutrina da Igreja, esqueceremos a vivência da fé encarnada e seremos meros agentes autoritários da imposição alienada da doutrina.
Defendo que nossa espiritualidade de catequistas educadores beba do Sistema Preventivo idealizado por São João Bosco e seja uma espiritualidade pascal da alegria, do otimismo, e da relação pessoal com Jesus, de comunhão, mariana, do serviço responsável. Além disso, seja uma espiritualidade que promova a dignidade das pessoas e seus direitos. Os catequistas, portanto, precisam estar conscientes da complexidade de sua missão, e as comunidades devem oferecer adequada formação, auxiliando-os na vivência da catequese renovada que desperta as consciências para ações que visem o bem comum.
Mas é preciso não confundir formar para a política com defender ideologia partidária. Ao catequista cabe estimular, fundamentado nos valores do Evangelho, a reflexão crítica para que os catequizandos possam discernir sobre a realidade que os atinge e agir em favor de todos, inspirados na entrega de Jesus Cristo pela humanidade.
A catequese de estilo catecumenal cumprirá sua vocação se despertar nos catequizandos os compromissos eclesial e social. Já nós, catequistas, cumpriremos nossa missão se contribuirmos com o amadurecimento da consciência política dos catequizandos, através de nosso testemunho de vida, incentivando-os a serem protagonistas de um mundo novo.
Hudson Ramos é mestre em Comunicação (PPGCOM - UFPE) e bacharel em Rádio, TV e Internet pela mesma universidade. Atua como catequista na Paróquia São José do Carpina (Diocese de Nazaré, PE) desde 2004.