Um pouco antes...

Segunda, 15 Agosto 2016 09:17 Escrito por  Pe. Marcos Sandrini, SDB
Um pouco antes... iStock Images
Muitos crimes hediondos acontecem, causam comoção, manifestações nas redes sociais e comentários nos noticiários. Isso até serem abafados por um novo escândalo.

Estamos acostumados a ver os fatos em si e não como um processo que levou a eles. A gente se preocupa com o estupro quando ele é divulgado nos MCS ou na internet. O mesmo acontece com crimes praticados por adolescentes. Depois que aconteceu, vira notícia, gera revolta e alavanca oportunistas, até ser esquecido.

Com a corrupção acontece o mesmo. Ninguém é corrupto sozinho. Quem traz o fruto da corrupção para dentro de casa, só pode ser com a conivência dos familiares. Se o fizer em um órgão público, só pode ser com a conivência dos iguais. Quem segura a escada para a prática do crime, também é criminoso.

Muitos crimes hediondos acontecem, causam comoção, manifestações nas redes sociais e comentários nos noticiários. Isso até serem abafados por um novo escândalo.

Nada do que acontece a nossa volta em casa, na vizinhança, na sociedade; acontece de repente. Tudo vem sendo gestado e preparado por ideias e pensamentos que os produzem. Se nós não cuidamos de nossa família e da família dos outros, ela vai se esfacelando e desmoronando aos poucos até que vem o golpe fatal.

Um grupo de homens se reúne e começa a fazer piadas machistas e sexistas com a anuência de todos os participantes do grupo. De tanto rir e achar engraçadas as piadas que vão minando a família, de repente isso fica incorporado na consciência da pessoa. A boca fala aquilo de que o coração está cheio. É preciso resistir. Como posso admitir que falem mal de uma mulher por ser mulher, na minha frente, se tenho uma mulher na minha casa? Como posso admitir que se refiram a uma moça de forma desonesta, se tenho uma filha ou irmã em minha casa? É respeitado quem se dá respeito.

 

Seguir a própria consciência

Sempre aprendi que devemos seguir a consciência. Quem segue sua consciência está no caminho certo. Até certo ponto. O importante é saber onde alimento minha consciência. Se a alimento com bagaceira, de repente minha consciência não tem mais capacidade de discernir. O certo vira errado e o errado, certo.

Onde alimento minha consciência moral? A grande fonte de alimentação que o cristão tem à sua disposição é o Evangelho de Jesus. Certa feita, encontrei na agenda de um irmão salesiano a seguinte frase: “De tanto ler o Evangelho de Jesus, de repente começo a pensar como ele pensa!” É verdade, alimentar-se com a Palavra de Deus na Bíblia e nos acontecimentos do mundo é o caminho correto para a formação da consciência moral.

Um escritor medieval chamado Pedro Abelardo (1073-1152) dá três critérios básicos para o agir humano ético. O primeiro deles é a fuga do legalismo. Para tanto, é preciso interiorizar a moral. Quem comanda a moral não são as leis, força exterior, mas a consciência, força interior. Depois, as paixões humanas não nos levam para o bem ou para o mal. Elas tomam um ou outro caminho de acordo com a adesão voluntária às suas solicitações. Terceiro, é preciso contestar o estilo tão difundido de julgar o próximo sem conhecer os seus fins e objetivos. Você consegue ler a consciência de outra pessoa?

 

Valores não se perdem, se trocam

Costuma-se dizer que as pessoas perderam os valores. Ninguém perde valores. Eles são trocados. Uma criança, um adolescente ou um jovem está cercado de valores e contra-valores, que não deixam de ser valores também. Todos temos de fazer opções. Nesse momento, as pessoas mais significativas de sua vida é que têm a maior influência. Se alguém está rodeado de pessoas fúteis e banais, as opções de vida também serão fúteis e banais. Se de pessoas sábias, que pensam duas vezes antes de falar e de agir, suas opções de vida serão certamente mais fundamentadas, profundas e duradouras.

Nem pobreza e nem riqueza são sinônimos de violência. No casebre mais miserável brotam os valores mais humanos. No Evangelho de Jesus tem uma frase encantadora. Referindo-se a João Batista, Jesus pergunta: “E então? O que fostes ver no deserto? Um homem vestido com roupas finas? De fato, os que usam roupas finas estão nos palácios reais. Mas, afinal, o que fostes ver? Um profeta? Sim, Eu vos afirmo. E mais do que um profeta!” (Mt 11,8-9). João Batista não era um caniço agitado pelo vento. O que está faltando mesmo em nossa sociedade são pessoas com espinha dorsal, erguidas, com os pés no chão e a cabeça no infinito. Quem pensa grande, age com convicções grandes e engrandecedoras.

O Sistema Preventivo de Dom Bosco é fantástico em sua concepção e em sua metodologia de ação. Antes da ação existe um trabalho prévio, paciente e envolvente de educação. Tudo o que acontece na nossa vida e na vida da sociedade não é de repente, mas foi sendo gestado aos poucos, silenciosamente. Assim, são os bons frutos. Assim, são as aberrações humanas. Somos anjos, mas também somos demônios. Somos simbólicos, mas também diabólicos.

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Última modificação em Sábado, 14 Março 2020 13:41

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Segunda, 15 Agosto 2016 09:17 Escrito por  Pe. Marcos Sandrini, SDB
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Muitos crimes hediondos acontecem, causam comoção, manifestações nas redes sociais e comentários nos noticiários. Isso até serem abafados por um novo escândalo.

Estamos acostumados a ver os fatos em si e não como um processo que levou a eles. A gente se preocupa com o estupro quando ele é divulgado nos MCS ou na internet. O mesmo acontece com crimes praticados por adolescentes. Depois que aconteceu, vira notícia, gera revolta e alavanca oportunistas, até ser esquecido.

Com a corrupção acontece o mesmo. Ninguém é corrupto sozinho. Quem traz o fruto da corrupção para dentro de casa, só pode ser com a conivência dos familiares. Se o fizer em um órgão público, só pode ser com a conivência dos iguais. Quem segura a escada para a prática do crime, também é criminoso.

Muitos crimes hediondos acontecem, causam comoção, manifestações nas redes sociais e comentários nos noticiários. Isso até serem abafados por um novo escândalo.

Nada do que acontece a nossa volta em casa, na vizinhança, na sociedade; acontece de repente. Tudo vem sendo gestado e preparado por ideias e pensamentos que os produzem. Se nós não cuidamos de nossa família e da família dos outros, ela vai se esfacelando e desmoronando aos poucos até que vem o golpe fatal.

Um grupo de homens se reúne e começa a fazer piadas machistas e sexistas com a anuência de todos os participantes do grupo. De tanto rir e achar engraçadas as piadas que vão minando a família, de repente isso fica incorporado na consciência da pessoa. A boca fala aquilo de que o coração está cheio. É preciso resistir. Como posso admitir que falem mal de uma mulher por ser mulher, na minha frente, se tenho uma mulher na minha casa? Como posso admitir que se refiram a uma moça de forma desonesta, se tenho uma filha ou irmã em minha casa? É respeitado quem se dá respeito.

 

Seguir a própria consciência

Sempre aprendi que devemos seguir a consciência. Quem segue sua consciência está no caminho certo. Até certo ponto. O importante é saber onde alimento minha consciência. Se a alimento com bagaceira, de repente minha consciência não tem mais capacidade de discernir. O certo vira errado e o errado, certo.

Onde alimento minha consciência moral? A grande fonte de alimentação que o cristão tem à sua disposição é o Evangelho de Jesus. Certa feita, encontrei na agenda de um irmão salesiano a seguinte frase: “De tanto ler o Evangelho de Jesus, de repente começo a pensar como ele pensa!” É verdade, alimentar-se com a Palavra de Deus na Bíblia e nos acontecimentos do mundo é o caminho correto para a formação da consciência moral.

Um escritor medieval chamado Pedro Abelardo (1073-1152) dá três critérios básicos para o agir humano ético. O primeiro deles é a fuga do legalismo. Para tanto, é preciso interiorizar a moral. Quem comanda a moral não são as leis, força exterior, mas a consciência, força interior. Depois, as paixões humanas não nos levam para o bem ou para o mal. Elas tomam um ou outro caminho de acordo com a adesão voluntária às suas solicitações. Terceiro, é preciso contestar o estilo tão difundido de julgar o próximo sem conhecer os seus fins e objetivos. Você consegue ler a consciência de outra pessoa?

 

Valores não se perdem, se trocam

Costuma-se dizer que as pessoas perderam os valores. Ninguém perde valores. Eles são trocados. Uma criança, um adolescente ou um jovem está cercado de valores e contra-valores, que não deixam de ser valores também. Todos temos de fazer opções. Nesse momento, as pessoas mais significativas de sua vida é que têm a maior influência. Se alguém está rodeado de pessoas fúteis e banais, as opções de vida também serão fúteis e banais. Se de pessoas sábias, que pensam duas vezes antes de falar e de agir, suas opções de vida serão certamente mais fundamentadas, profundas e duradouras.

Nem pobreza e nem riqueza são sinônimos de violência. No casebre mais miserável brotam os valores mais humanos. No Evangelho de Jesus tem uma frase encantadora. Referindo-se a João Batista, Jesus pergunta: “E então? O que fostes ver no deserto? Um homem vestido com roupas finas? De fato, os que usam roupas finas estão nos palácios reais. Mas, afinal, o que fostes ver? Um profeta? Sim, Eu vos afirmo. E mais do que um profeta!” (Mt 11,8-9). João Batista não era um caniço agitado pelo vento. O que está faltando mesmo em nossa sociedade são pessoas com espinha dorsal, erguidas, com os pés no chão e a cabeça no infinito. Quem pensa grande, age com convicções grandes e engrandecedoras.

O Sistema Preventivo de Dom Bosco é fantástico em sua concepção e em sua metodologia de ação. Antes da ação existe um trabalho prévio, paciente e envolvente de educação. Tudo o que acontece na nossa vida e na vida da sociedade não é de repente, mas foi sendo gestado aos poucos, silenciosamente. Assim, são os bons frutos. Assim, são as aberrações humanas. Somos anjos, mas também somos demônios. Somos simbólicos, mas também diabólicos.

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