O Liceu Coração de Jesus não foi construído “do zero” pelos salesianos; a primeira iniciativa partiu dos vicentinos, os quais fundaram, em 1878, a Conferência Vicentina do Sagrado Coração de Jesus. Em 1879, idealizou-se a construção de uma capela dedicada ao Coração de Jesus. Em 24 de maio de 1880, Dia de Nossa Senhora Auxiliadora, o bispo de São Paulo, dom Lino Deodato, concedeu a provisão para a construção, cuja primeira pedra ele próprio benzera solenemente no dia 24 de junho de 1881, Dia do Sagrado Coração de Jesus.
Em janeiro de 1882, com a construção da capela adiantada, propôs-se construir um estabelecimento de instrução, decidindo-se pelo ensino profissional e que este ficasse a cargo dos salesianos. Padre Luís Lasagna, enviado por Dom Bosco para cuidar da presença salesiana na América, em agosto de 1883, assim relata:
“São Paulo, rica e florescente província do Interior, envia-me também ela convite e solicitações calorosas para que não tarde em ir até lá e verificar pessoalmente tudo o que já realizaram os salesianos. Devo dizer, efetivamente, que, desde o ano passado, o Sr. Bispo, diversos padres e leigos zelosos, lançaram os olhos sobre nós e nada negligenciaram para ter-nos entre eles”.
A primeira atividade desenvolvida no Liceu Coração de Jesus não poderia ser outra: o oratório festivo. Depois, com a construção de um grande edifício que atravessava o pátio central, foram instaladas as escolas profissionais.
Para garantir o sucesso e a sobrevivência da obra salesiana em São Paulo, Dom Bosco apelou até para o Imperador Dom Pedro II. Em 15 de novembro de 1886, ele visitou o Liceu Coração de Jesus acompanhado da Imperatriz Teresa Cristina e de outras autoridades. Visitou as instalações, pediu explicações sobre os meninos e o método de ensino. A visita serviu para o Imperador simpatizar-se ainda mais com Dom Bosco e sua obra.
Um Liceu de música e teatro
Desde os seus primeiros anos o Liceu Coração de Jesus destacou-se pela música e pelo teatro. As bandas e os corais que se formaram eram imponentes e afinados, sendo colocados ao nível de bandas célebres como a do Corpo de Bombeiros.
As apresentações teatrais do Liceu reuniam grandes plateias. Um ícone do teatro, dramaturgia e música que estudou no colégio foi Sebastião Bernardes de Souza Prata, o Grande Otelo, que foi aluno salesiano na década de 1920. Hoje o teatro do colégio, com capacidade para 700 pessoas, leva seu nome.
Mas não só de bonança viveu o Liceu. Em sua história houve períodos de sérias dificuldades financeiras e duas grandes tragédias: um incêndio em 1899 e um bombardeio em 1924.
Durante a Revolta Paulista de 1924, o Movimento Tenentista entrou em combate com o governo paulista. O contra-ataque veio reforçado por aviões do governo federal. Três granadas atingiram o colégio durante o período de aulas. Houve um aluno ferido. Dias depois o colégio ainda serviu de abrigo para quase 500 vítimas dos bombardeios.
Importante saber ainda que o Liceu fez-se presente na história durante a Revolução Constitucionalista de 1932, quando parte do prédio foi requisitada para servir como hospital.
Escola modelo
Desde sua fundação o Liceu Coração de Jesus é reconhecido pela sociedade como uma organização modelo, primeiro no ensino profissionalizante, depois no internato, externato e por fim no ensino superior, com a criação da Faculdade de Estudos Econômicos, em 1938. Em 1948 a faculdade foi agregada à Universidade Católica de São Paulo, hoje sob o título de pontifícia.
O colégio mantém turmas de ensino fundamental e médio e recentemente seu prédio foi campus do Centro Universitário Salesiano de São Paulo (UNISAL). O Liceu abriga ainda em seu espaço, junto ao Santuário do Sagrado Coração de Jesus, a reitoria do UNISAL, o escritório do Polo SP da Rede Salesiana de Escolas, o centro local dos Salesianos Cooperadores e o Museu da Obra Salesiana no Brasil, que segue até o dia 16 de agosto com a exposição “200 anos do nascimento de Dom Bosco”.