Bicentenário: Papa Francisco envia carta ao reitor-mor

Quinta, 16 Julho 2015 11:32 Escrito por  Inspetoria Salesiana de São Paulo
Bicentenário: Papa Francisco envia carta ao reitor-mor Agência Info Salesiana - ANS
O Papa Francisco encontrou-se com os salesianos em Turim, na Itália, durante o mês de junho, ocasião em que esteve na Basílica de Maria Auxiliadora, onde estão os restos mortais de São João Bosco. No dia 24 de junho, solenidade do nascimento de São João Batista, escreveu uma carta ao reitor-mor dos salesianos, padre Ángel Fernández Artime, como forma de reencontro e encorajamento, carta esta que agora é divulgada. O próprio padre Ángel é quem apresenta a carta em vídeo à Família Salesiana, que pode ser assistido no final desta carta. A seguir leia a carta na íntegra.

 

 "COMO DOM BOSCO, COM OS JOVENS E PARA OS JOVENS"

 

 CARTA DO SANTO PADRE FRANCISCO

 

ao reverendo Padre Ángel Fernández Artime, reitor-mor dos salesianos, no bicentenário do nascimento de São João Bosco

 

 

É viva na Igreja a memória de São João Bosco, como fundador da Congregação Salesiana, das Filhas de Maria Auxiliadora, da Associação dos Salesianos Cooperadores e da Associação de Maria Auxiliadora, e como pai da atual Família Salesiana. É igualmente viva na Igreja a sua memória como santo educador e pastor dos jovens, que abriu um caminho de santidade juvenil, ofereceu um método de educação que é ao mesmo tempo uma espiritualidade, recebeu do Espírito Santo um carisma para os tempos modernos.

 

No bicentenário do seu nascimento, tive a alegria de encontrar a Família Salesiana reunida em Turim, na Basílica de Santa Maria Auxiliadora, onde repousam os restos mortais do Fundador. Com esta mensagem, desejo unir-me novamente a vós na ação de graças a Deus e, ao mesmo tempo, evocar os aspectos essenciais da herança espiritual e pastoral de Dom Bosco e exortar a vivê-los com coragem.

 

A Itália, a Europa e o mundo nestes dois séculos mudaram muito, mas a alma dos jovens não mudou: ainda hoje os jovens e as jovens estão abertos à vida e ao encontro com Deus e com os outros, mas existem muitos deles que correm o risco do desencorajamento, da anemia espiritual, da marginalização.

 

Dom Bosco nos ensina primeiramente a não ficar observando, mas a colocar-se na linha de frente para oferecer aos jovens uma experiência educativa integral que, solidamente baseada na dimensão religiosa, envolva a mente, os afetos, a pessoa inteira, considerada sempre como criada e amada por Deus. De aqui deriva uma pedagogia genuinamente humana e cristã, animada pela preocupação preventiva e inclusiva, especialmente para os jovens das camadas populares e das faixas à margem da sociedade, aos quais oferece também a possibilidade da instrução e do aprendizado de uma profissão, para serem bons cristãos e honestos cidadãos. Trabalhando pela educação moral, cívica, cultural dos jovens, Dom Bosco agiu pelo bem das pessoas e da sociedade civil, segundo um projeto de homem que une alegria – estudo – oração, ou ainda trabalho – religião – virtude. Faz parte deste caminho integrar o seu amadurecimento vocacional, para que cada um assuma na Igreja a forma concreta de vida à qual o Senhor o chama. Esta ampla e exigente visão educativa, que Dom Bosco concentrou no lema “Da mihi animas” realizou aquilo que hoje exprimimos com a fórmula «educar evangelizando e evangelizar educando» (CONGREGAÇÃO PARA O CLERO, Diretório geral para a catequese [15 de agosto de1997], n, 147).

 

Traço característico da pedagogia de Dom Bosco é a amorevolezza, a ser entendida como amor manifestado e compreendido, no qual se revelam a simpatia, o afeto, a compreensão e a participação na vida do outro. Ele afirma que no âmbito da experiência educativa não basta amar, mas é necessário que o amor do educador se demonstre mediante gestos concretos e eficazes. Graças a esta amorevolezza muitas crianças e adolescentes nos ambientes salesianos experimentaram uma intensa e sadia afetividade, muito preciosa para a formação da personalidade e o caminho da vida.

 

Neste quadro de referência, colocam-se outros traços distintivos da praxe educativa de Dom Bosco: o ambiente de família; a presença do educador como pai, mestre e amigo do jovem, expressada por um termo clássico da pedagogia salesiana: a assistência; o clima de alegria e de festa; o amplo espaço oferecido ao canto, à música e ao teatro; a importância do divertimento, do pátio de recreação, dos passeios e do esporte.

 

Podemos resumir assim os aspectos relevantes da sua figura: ele viveu a entrega total de si a Deus numa ousadia pela salvação das almas e realizou a fidelidade a Deus e aos jovens num mesmo ato de amor. Estas atitudes levaram-no a “sair” e tomar decisões corajosas: a opção de dedicar-se aos jovens pobres, com a intenção de realizar um vasto movimento de pobres para os pobres; e a opção de alargar esse serviço além das fronteiras da língua, raça, cultura e religião, graças a um incansável arrojo missionário. Ele atuou este projeto com o estilo de acolhida alegre e de simpatia, no encontro pessoal e no acompanhamento individualizado.

 

Ele soube suscitar a colaboração de Santa Maria Domingas Mazzarello e a cooperação dos leigos, gerando a Família Salesiana que, qual grande árvore, recebeu e desenvolveu a sua herança.

 

Em síntese, Dom Bosco viveu uma grande paixão pela salvação da juventude, manifestando-se testemunha crível de Jesus Cristo e anunciador genial do seu Evangelho, em comunhão profunda com a Igreja, especialmente com o Papa. Viveu em contínua oração e união com Deus, com uma devoção intensa e terna a Nossa Senhora, por ele invocada como Imaculada e Auxiliadora dos cristãos, com o benefício de experiências místicas e do dom dos milagres para os seus jovens.

 

Ainda hoje, a Família Salesiana abre-se a novas fronteiras educativas e missionárias, percorrendo os caminhos dos novos meios de comunicação social e os da educação intercultural junto a povos de religiões diversas, ou de Países em vias de desenvolvimento, ou de lugares marcados pela migração. Os desafios da Turim do século XIX assumiram uma dimensão global: a idolatria do dinheiro, a iniquidade que gera violência, a colonização ideológica e os desafios culturais ligados aos contextos urbanos. Alguns aspectos envolvem mais diretamente o mundo juvenil, como a difusão da internet, e, portanto, vos interpelam, filhos e filhas de Dom Bosco, que sois chamados a trabalhar considerando, juntamente com as feridas, também os recursos que o Espírito Santo suscita em situação de crise.

 

Como Família Salesiana, sois chamados a fazer florescer a criatividade carismática dentro e além das vossas instituições educativas, colocando-vos com dedicação apostólica nos itinerários dos jovens, particularmente aqueles das periferias.

 

“A pastoral juvenil, tal como estávamos habituados a desenvolvê-la, sofreu o impacto das mudanças sociais. Nas estruturas ordinárias, os jovens habitualmente não encontram respostas para as suas preocupações, necessidades, problemas e feridas. A nós, adultos, custa-nos ouvi-los com paciência, compreender as suas preocupações ou as suas reivindicações, e aprender a falar-lhes na linguagem que eles entendem» (Exort. Ap. Evangelii gaudium 105). Façamos com que, como educadores e como comunidade, os acompanhemos em seu caminho, para que se sintam felizes de levar Jesus a cada esquina, a cada praça, a cada canto da terra (cf. ibid. 106).

 

Dom Bosco vos ajude a não frustrar as aspirações profundas dos jovens: a necessidade de vida, abertura, alegria, liberdade, futuro; o desejo de colaborar na construção de um mundo mais justo e fraterno, no desenvolvimento para todos os povos, na tutela da natureza e dos ambientes de vida. Ao seu exemplo, os ajudareis a experimentar que só na vida da graça, isto é, na amizade com Cristo, se realizam plenamente os ideais mais autênticos. Ter a alegria de acompanhá-los na busca da síntese entre fé, cultura e vida, nos momentos em que se tomam decisões difíceis, quando se procura interpretar uma realidade complexa.

 

Indico, especialmente, duas tarefas que hoje nos vêm do discernimento sobre a realidade juvenil: a primeira é educar segundo a antropologia cristã à linguagem dos novos meios de comunicação e das redes sociais, que plasmam profundamente os códigos culturais dos jovens, e, portanto, a visão da realidade humano-religiosa; a segunda é promover formas de voluntariado social, não se resignando às ideologias que antepõem o mercado e a produção à dignidade da pessoa e ao valor do trabalho.

 

Ser educadores que evangelizam é um dom de natureza e graça, mas é também fruto de formação, estudo, reflexão, oração e ascese. Dom Bosco dizia aos jovens: «Por vós estudo, por vós trabalho, por vós eu vivo, por vós estou disposto até a dar a vida» (Constituições salesianas, art. 14).

 

Hoje, mais do que nunca, diante daquela que o Papa Bento XVI indicou muitas vezes como «emergência educativa» (cf. Carta à diocese e à cidade de Roma sobre a tarefa urgente da educação, 21 de janeiro de 2008), convido a Família Salesiana a favorecer uma aliança educativa eficaz entre diversas agências religiosas e leigas para caminhar com a diversidade dos carismas em favor da juventude nos diversos continentes. Evoco de modo especial a imperiosa necessidade de envolver as famílias dos jovens. De fato, não pode haver uma pastoral juvenil eficaz sem uma válida pastoral familiar.

 

O salesiano é um educador que, na multiplicidade das relações e dos trabalhos, faz ressoar sempre o primeiro anúncio, a bela notícia que direta ou indiretamente jamais pode faltar: «Jesus Cristo ama-te, deu a sua vida para te salvar, e agora vive contigo todos os dias para te iluminar, fortalecer, libertar» (Exort. Ap. Evangelii gaudium 164). Ser discípulos fiéis a Dom Bosco requer a renovação da opção catequética que foi sua ação permanente, a ser compreendida hoje na missão de uma nova evangelização (cf. ibid. 160-175). Esta catequese evangelizadora merece o primeiro lugar nas instituições salesianas, e deve ser realizada com competência teológica e pedagógica e com o testemunho transparente do educador. Ela exige um caminho que compreenda a escuta da Palavra de Deus, a frequência aos Sacramentos, em particular a Confissão e a Eucaristia, e a relação filial com a Virgem Maria.

 

Caros irmãos e irmãs salesianos. Dom Bosco testemunha que o cristianismo é fonte de felicidade, porque é o Evangelho do amor. É desta fonte que, também na prática educativa salesiana, a alegria e a festa encontram consistência e continuidade. «Chegamos a ser plenamente humanos, quando somos mais do que humanos, quando permitimos a Deus que nos conduza para além de nós mesmos a fim de alcançarmos o nosso ser mais verdadeiro. Aqui está a fonte da ação evangelizadora» (Exort. Ap. Evangelii gaudium 8).

 

As expectativas da Igreja a respeito do cuidado da juventude são grandes; grande é também o carisma que o Espírito Santo deu a São João Bosco, carisma efetivado pela Família Salesiana com dedicação apaixonada à juventude em todos os continentes e com o florescimento de numerosas vocações à vida sacerdotal, religiosa e laical. Expresso-vos, por isso, um cordial encorajamento a assumir a herança do vosso fundador e pai com a radicalidade evangélica que foi sua no pensar, no falar e no agir, com a adequada competência e com um generoso espírito de serviço, como Dom Bosco, com os jovens e para os jovens.

 

Do Vaticano, 24 de junho de 2015

 

Solenidade do Nascimento de São João Batista

 

Papa Francisco

 

 

 

 

 

 

 

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Última modificação em Segunda, 24 Junho 2024 19:24

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O Papa Francisco encontrou-se com os salesianos em Turim, na Itália, durante o mês de junho, ocasião em que esteve na Basílica de Maria Auxiliadora, onde estão os restos mortais de São João Bosco. No dia 24 de junho, solenidade do nascimento de São João Batista, escreveu uma carta ao reitor-mor dos salesianos, padre Ángel Fernández Artime, como forma de reencontro e encorajamento, carta esta que agora é divulgada. O próprio padre Ángel é quem apresenta a carta em vídeo à Família Salesiana, que pode ser assistido no final desta carta. A seguir leia a carta na íntegra.

 

 "COMO DOM BOSCO, COM OS JOVENS E PARA OS JOVENS"

 

 CARTA DO SANTO PADRE FRANCISCO

 

ao reverendo Padre Ángel Fernández Artime, reitor-mor dos salesianos, no bicentenário do nascimento de São João Bosco

 

 

É viva na Igreja a memória de São João Bosco, como fundador da Congregação Salesiana, das Filhas de Maria Auxiliadora, da Associação dos Salesianos Cooperadores e da Associação de Maria Auxiliadora, e como pai da atual Família Salesiana. É igualmente viva na Igreja a sua memória como santo educador e pastor dos jovens, que abriu um caminho de santidade juvenil, ofereceu um método de educação que é ao mesmo tempo uma espiritualidade, recebeu do Espírito Santo um carisma para os tempos modernos.

 

No bicentenário do seu nascimento, tive a alegria de encontrar a Família Salesiana reunida em Turim, na Basílica de Santa Maria Auxiliadora, onde repousam os restos mortais do Fundador. Com esta mensagem, desejo unir-me novamente a vós na ação de graças a Deus e, ao mesmo tempo, evocar os aspectos essenciais da herança espiritual e pastoral de Dom Bosco e exortar a vivê-los com coragem.

 

A Itália, a Europa e o mundo nestes dois séculos mudaram muito, mas a alma dos jovens não mudou: ainda hoje os jovens e as jovens estão abertos à vida e ao encontro com Deus e com os outros, mas existem muitos deles que correm o risco do desencorajamento, da anemia espiritual, da marginalização.

 

Dom Bosco nos ensina primeiramente a não ficar observando, mas a colocar-se na linha de frente para oferecer aos jovens uma experiência educativa integral que, solidamente baseada na dimensão religiosa, envolva a mente, os afetos, a pessoa inteira, considerada sempre como criada e amada por Deus. De aqui deriva uma pedagogia genuinamente humana e cristã, animada pela preocupação preventiva e inclusiva, especialmente para os jovens das camadas populares e das faixas à margem da sociedade, aos quais oferece também a possibilidade da instrução e do aprendizado de uma profissão, para serem bons cristãos e honestos cidadãos. Trabalhando pela educação moral, cívica, cultural dos jovens, Dom Bosco agiu pelo bem das pessoas e da sociedade civil, segundo um projeto de homem que une alegria – estudo – oração, ou ainda trabalho – religião – virtude. Faz parte deste caminho integrar o seu amadurecimento vocacional, para que cada um assuma na Igreja a forma concreta de vida à qual o Senhor o chama. Esta ampla e exigente visão educativa, que Dom Bosco concentrou no lema “Da mihi animas” realizou aquilo que hoje exprimimos com a fórmula «educar evangelizando e evangelizar educando» (CONGREGAÇÃO PARA O CLERO, Diretório geral para a catequese [15 de agosto de1997], n, 147).

 

Traço característico da pedagogia de Dom Bosco é a amorevolezza, a ser entendida como amor manifestado e compreendido, no qual se revelam a simpatia, o afeto, a compreensão e a participação na vida do outro. Ele afirma que no âmbito da experiência educativa não basta amar, mas é necessário que o amor do educador se demonstre mediante gestos concretos e eficazes. Graças a esta amorevolezza muitas crianças e adolescentes nos ambientes salesianos experimentaram uma intensa e sadia afetividade, muito preciosa para a formação da personalidade e o caminho da vida.

 

Neste quadro de referência, colocam-se outros traços distintivos da praxe educativa de Dom Bosco: o ambiente de família; a presença do educador como pai, mestre e amigo do jovem, expressada por um termo clássico da pedagogia salesiana: a assistência; o clima de alegria e de festa; o amplo espaço oferecido ao canto, à música e ao teatro; a importância do divertimento, do pátio de recreação, dos passeios e do esporte.

 

Podemos resumir assim os aspectos relevantes da sua figura: ele viveu a entrega total de si a Deus numa ousadia pela salvação das almas e realizou a fidelidade a Deus e aos jovens num mesmo ato de amor. Estas atitudes levaram-no a “sair” e tomar decisões corajosas: a opção de dedicar-se aos jovens pobres, com a intenção de realizar um vasto movimento de pobres para os pobres; e a opção de alargar esse serviço além das fronteiras da língua, raça, cultura e religião, graças a um incansável arrojo missionário. Ele atuou este projeto com o estilo de acolhida alegre e de simpatia, no encontro pessoal e no acompanhamento individualizado.

 

Ele soube suscitar a colaboração de Santa Maria Domingas Mazzarello e a cooperação dos leigos, gerando a Família Salesiana que, qual grande árvore, recebeu e desenvolveu a sua herança.

 

Em síntese, Dom Bosco viveu uma grande paixão pela salvação da juventude, manifestando-se testemunha crível de Jesus Cristo e anunciador genial do seu Evangelho, em comunhão profunda com a Igreja, especialmente com o Papa. Viveu em contínua oração e união com Deus, com uma devoção intensa e terna a Nossa Senhora, por ele invocada como Imaculada e Auxiliadora dos cristãos, com o benefício de experiências místicas e do dom dos milagres para os seus jovens.

 

Ainda hoje, a Família Salesiana abre-se a novas fronteiras educativas e missionárias, percorrendo os caminhos dos novos meios de comunicação social e os da educação intercultural junto a povos de religiões diversas, ou de Países em vias de desenvolvimento, ou de lugares marcados pela migração. Os desafios da Turim do século XIX assumiram uma dimensão global: a idolatria do dinheiro, a iniquidade que gera violência, a colonização ideológica e os desafios culturais ligados aos contextos urbanos. Alguns aspectos envolvem mais diretamente o mundo juvenil, como a difusão da internet, e, portanto, vos interpelam, filhos e filhas de Dom Bosco, que sois chamados a trabalhar considerando, juntamente com as feridas, também os recursos que o Espírito Santo suscita em situação de crise.

 

Como Família Salesiana, sois chamados a fazer florescer a criatividade carismática dentro e além das vossas instituições educativas, colocando-vos com dedicação apostólica nos itinerários dos jovens, particularmente aqueles das periferias.

 

“A pastoral juvenil, tal como estávamos habituados a desenvolvê-la, sofreu o impacto das mudanças sociais. Nas estruturas ordinárias, os jovens habitualmente não encontram respostas para as suas preocupações, necessidades, problemas e feridas. A nós, adultos, custa-nos ouvi-los com paciência, compreender as suas preocupações ou as suas reivindicações, e aprender a falar-lhes na linguagem que eles entendem» (Exort. Ap. Evangelii gaudium 105). Façamos com que, como educadores e como comunidade, os acompanhemos em seu caminho, para que se sintam felizes de levar Jesus a cada esquina, a cada praça, a cada canto da terra (cf. ibid. 106).

 

Dom Bosco vos ajude a não frustrar as aspirações profundas dos jovens: a necessidade de vida, abertura, alegria, liberdade, futuro; o desejo de colaborar na construção de um mundo mais justo e fraterno, no desenvolvimento para todos os povos, na tutela da natureza e dos ambientes de vida. Ao seu exemplo, os ajudareis a experimentar que só na vida da graça, isto é, na amizade com Cristo, se realizam plenamente os ideais mais autênticos. Ter a alegria de acompanhá-los na busca da síntese entre fé, cultura e vida, nos momentos em que se tomam decisões difíceis, quando se procura interpretar uma realidade complexa.

 

Indico, especialmente, duas tarefas que hoje nos vêm do discernimento sobre a realidade juvenil: a primeira é educar segundo a antropologia cristã à linguagem dos novos meios de comunicação e das redes sociais, que plasmam profundamente os códigos culturais dos jovens, e, portanto, a visão da realidade humano-religiosa; a segunda é promover formas de voluntariado social, não se resignando às ideologias que antepõem o mercado e a produção à dignidade da pessoa e ao valor do trabalho.

 

Ser educadores que evangelizam é um dom de natureza e graça, mas é também fruto de formação, estudo, reflexão, oração e ascese. Dom Bosco dizia aos jovens: «Por vós estudo, por vós trabalho, por vós eu vivo, por vós estou disposto até a dar a vida» (Constituições salesianas, art. 14).

 

Hoje, mais do que nunca, diante daquela que o Papa Bento XVI indicou muitas vezes como «emergência educativa» (cf. Carta à diocese e à cidade de Roma sobre a tarefa urgente da educação, 21 de janeiro de 2008), convido a Família Salesiana a favorecer uma aliança educativa eficaz entre diversas agências religiosas e leigas para caminhar com a diversidade dos carismas em favor da juventude nos diversos continentes. Evoco de modo especial a imperiosa necessidade de envolver as famílias dos jovens. De fato, não pode haver uma pastoral juvenil eficaz sem uma válida pastoral familiar.

 

O salesiano é um educador que, na multiplicidade das relações e dos trabalhos, faz ressoar sempre o primeiro anúncio, a bela notícia que direta ou indiretamente jamais pode faltar: «Jesus Cristo ama-te, deu a sua vida para te salvar, e agora vive contigo todos os dias para te iluminar, fortalecer, libertar» (Exort. Ap. Evangelii gaudium 164). Ser discípulos fiéis a Dom Bosco requer a renovação da opção catequética que foi sua ação permanente, a ser compreendida hoje na missão de uma nova evangelização (cf. ibid. 160-175). Esta catequese evangelizadora merece o primeiro lugar nas instituições salesianas, e deve ser realizada com competência teológica e pedagógica e com o testemunho transparente do educador. Ela exige um caminho que compreenda a escuta da Palavra de Deus, a frequência aos Sacramentos, em particular a Confissão e a Eucaristia, e a relação filial com a Virgem Maria.

 

Caros irmãos e irmãs salesianos. Dom Bosco testemunha que o cristianismo é fonte de felicidade, porque é o Evangelho do amor. É desta fonte que, também na prática educativa salesiana, a alegria e a festa encontram consistência e continuidade. «Chegamos a ser plenamente humanos, quando somos mais do que humanos, quando permitimos a Deus que nos conduza para além de nós mesmos a fim de alcançarmos o nosso ser mais verdadeiro. Aqui está a fonte da ação evangelizadora» (Exort. Ap. Evangelii gaudium 8).

 

As expectativas da Igreja a respeito do cuidado da juventude são grandes; grande é também o carisma que o Espírito Santo deu a São João Bosco, carisma efetivado pela Família Salesiana com dedicação apaixonada à juventude em todos os continentes e com o florescimento de numerosas vocações à vida sacerdotal, religiosa e laical. Expresso-vos, por isso, um cordial encorajamento a assumir a herança do vosso fundador e pai com a radicalidade evangélica que foi sua no pensar, no falar e no agir, com a adequada competência e com um generoso espírito de serviço, como Dom Bosco, com os jovens e para os jovens.

 

Do Vaticano, 24 de junho de 2015

 

Solenidade do Nascimento de São João Batista

 

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