Vivemos hoje no mundo da comunicação e isso traz inúmeras mudanças para o comportamento humano e para as instituições que compõem a sociedade. As tecnologias em si são neutras, mas a forma como são utilizadas pode ser um fator de promoção da dignidade humana ou, ao contrário, fonte de injustiça e exclusão. Aos cristãos inseridos no hoje da história cabe a responsabilidade de viver uma ética da comunicação baseada no Evangelho e capaz de dialogar com a atual realidade.
Neste contexto, as mídias deixam de ser espelhos da sociedade para tornarem-se guardiãs da informação, promotoras do bem comum, possibilitando a reflexão pública e a participação cidadã. As mídias, hoje, não se destinam a produzir informação aos seus destinatários que apenas consomem conteúdo, mas fazem parte de um constante processo de produção, propagação e assimilação de conteúdos em que todos podem ser produtores e consumidores ao mesmo tempo. Enquanto liberdade de expressão, este é um fator muito positivo que a sociedade atual oferece.
Por outro lado, o anonimato proporcionado pelas redes sociais, que minimiza o enfrentamento direto com grupos ou pessoas em específico, pode levar os sujeitos a ferirem os direitos humanos. Esquece-se que a Internet não é apenas um espaço virtual, mas é espaço em que a vida acontece e que traz consequências concretas para o cotidiano. Neste sentido, a comunicação pode reduzir-se a simplificações grotescas, que rotulam ou justificam crenças e atitudes preconceituosas ou mesmo violentas.
Alfabetização midiática
O cristão imerso na atual realidade pode encontrar um espaço de democratização importante para as discussões políticas e sociais, para a missão evangelizadora que é responsabilidade de todo batizado, para isso, é preciso passar por um processo de alfabetização midiática e viver uma ética da comunicação. A alfabetização midiática e informacional é reponsabilidade não só da escola, mas de toda a comunidade e diz respeito às condições de adquirir habilidades básicas do pensamento crítico e da capacidade de análise dos diferentes contextos, de modo que a auto expressão seja um sinal de participação e democratização nos espaços midiáticos.
Se cada cidadão está munido das condições básicas de acesso e de habilidades que lhe permitem ser um produtor de conteúdo, este deve, também, compreender que essa liberdade de expressão parte de uma ética da comunicação que tem como base a dignidade humana. Conforme o Compêndio do Catecismo Católico: “Princípio, sujeito e fim de todas as instituições sociais é e deve ser a pessoa.” (402). Também o documento 99 da CNBB, aponta que: “O princípio ético que deve reger o uso dos meios de comunicação social consiste em respeitar a pessoa e a comunidade humana na sua dignidade e importância, que jamais podem ser sacrificadas por nenhum interesse.” (111).
Comunicar tendo como base a dignidade humana exige sair de si e colocar-se no lugar do outro. A vida interior na vida digital não deve ser fonte de dicotomia ou mesmo de duplicidade, proporcionada pelo anonimato, mas deve revelar a essência do ser cristão, que em qualquer situação coloca como princípio de tudo ao Deus Criador e por sua vez, a dignidade e inviolabilidade da vida.
Ética da comunicação
O tempo gasto nas redes sociais é tempo da vida que é investido em algo, que pode caminhar em qualquer direção que queira o internauta. Investi-lo na construção de uma sociedade mais humana, mas crítica e mais de acordo com o sonho de Deus é uma escolha pessoal que pode resultar em muitas oportunidades para a comunidade. Pensar a comunicação a partir da dignidade humana amplia os horizontes, porque tanto no “mundo virtual” quanto na “realidade concreta da vida” é capaz de formar uma corrente do bem que vai contra os interesses daqueles que tentam manipular as pessoas e conseguir benefícios próprios ao invés de buscar o bem comum. É uma corrente que aos poucos vai transformando a sociedade num lugar mais humano e fraterno, como o fermento que invisivelmente transforma a massa a partir de dentro.
Aqui talvez se encontre o grande desafio e missão do cristão hoje: ser o fermento que leveda a massa, o sal que dá sabor ao alimento, como nos apresentam as metáforas bíblicas, para assim ir construindo uma ética da comunicação viva e eficaz que parte de cada um e se estende em todas as direções. Essa ética da comunicação tendo como centralidade o próprio Deus, confere ao homem, sua imagem e semelhança, uma dignidade especial, capaz de dialogar com qualquer sistema ou cultura. A dignidade humana é um ponto sobre o qual todas as nações e culturas podem ou poderiam se encontrar como espaço de diálogo e fraternidade. É também um ponto que todo ser humano deveria tomar como princípio para relacionar-se com o outro, ou seja, para comunicar.
Irmã Márcia Koffermann, FMA, é diretora-executiva da Rede Salesiana Brasil de Comunicação (RSB-Comunicação)