O sangue dos mártires é semente de novos cristãos

Quarta, 15 Julho 2020 13:08 Escrito por  Missão Salesiana de Mato Grosso
O processo de beatificação dos Servos de Deus, Padre Rodolfo Lunkenbein e Simão Bororo, está agora na fase romana. Aqueles que conviveram com os dois testemunham o amor e a dedicação que os levaram ao gesto extremo de entrega pessoal em favor de um povo por causa do Reino de Deus.


“Rodolfo e Simão são mais dois mártires, desfeitos no amor, segundo a palavra de Cristo: o índio deu a vida pelo missionário. O missionário deu a vida pelo índio. Para todos nós, índios e missionários, este sangue de Meruri é um compromisso e uma esperança”. Assim escreveu dom Pedro Casaldáliga, bispo de São Félix do Araguaia, no dia 18 de julho de 1976, no Livro de Condolências de Meruri. Um resumo profético de uma história de amor e de cruz, de suor e de sangue, de fé e de coragem.

Passados 43 anos daquele fatídico dia, o Reitor-mor dos salesianos, padre Ángel Artime, esteve no local do martírio em visita à Missão Salesiana de Mato Grosso e afirmou: “temos oportunidade de dar muitas graças a Deus pelas vidas de tantos irmãos e irmãs, (…) todos mártires no silêncio da doação das suas vidas. E o futuro fala das possibilidades da nossa vocação missionária que quer acompanhar a vida destes povos, quer preparar com eles o futuro, quer formar os jovens na educação e também na fé”.

O 44° aniversário de martírio do Padre Rodolfo Lunkenbein e Simão Bororo acontece enquanto o mundo inteiro vive uma situação de profundo pesar pela morte de milhares de pessoas, vítimas da pandemia da Covid-19. A Inspetoria Salesiana de Santo Afonso Maria de Ligório, fiel à sua vocação profética e missionária, une-se a toda a Congregação no apelo feito pelo Reitor-mor, padre Ángel Artime, “diante das situações de pobreza, que certamente aumentarão depois desta crise, deveremos continuar, como católicos, a responder com generosidade. Em geral, em situações extremas, costumamos dar o melhor de nós. Eu confio muito nisto. Gostaria de aproveitar esta oportunidade para convidar todos à solidariedade, fraternidade, caridade e oração. Tenhamos Fé em Deus, que está ao nosso lado em nosso caminho, mesmo quando isto é difícil, como nos dias de hoje”.

Testemunhos

A história, hoje contada por quem testemunhou aqueles dias, confirma a visão missionária do jovem “Lunke”, que adotou como lema sacerdotal “Eu vim para servir e dar a vida”, uma frase que revela sua espiritualidade e a grandeza de seu coração, em uma profunda convicção na aliança do seu amor por Jesus, na figura do Bom Pastor, concretizada na dedicação do trabalho em favor dos indígenas.

“Padre Rodolfo Lunkenbein nasceu no dia 1° de abril de 1939 em Döringstadt, perto de Bamberg, na Alemanha. Seus pais, João e Maria, eram pequenos agricultores. Rodolfo era um menino alegre e sincero. Eram notáveis a sua generosidade e a sua prontidão em ajudar, principalmente os velhinhos. Gostava de rezar. Antes de entrar na escola já sabia rezar o terço e convidava os irmãos para rezarem juntos. Não perdia uma missa e comungava sempre”, relata a ‘Carta Morturária’, revelando a base sólida de fé em que foi construída a vocação missionária do padre Rodolfo.

Por ocasião da celebração dos 100 anos das Missões Salesianas (1975), o então inspetor padre Walter Bini – depois feito bispo – escreveu que o martírio do Padre Rodolfo e de Simão foi, por vontade de Deus, “a mais realista das celebrações do centenário”, porque não foi feita com festa nem com discursos, mas com o sangue derramado. “Nenhuma celebração conseguiu, como essa, tornar conhecidas e compreendidas, em todo o Brasil, e também no exterior, as Missões Salesianas”, afirmou à época. Em um questionamento, dom Bini também considerou o martírio de Simão Cristino, bororo, como “fruto maduro de 75 anos de trabalho salesiano” entre os indígenas daquela região.

O martírio é justificado por uma vida em santidade

 

“o martírio não se impõe, não se escolhe ou se improvisa, vem do ramo unido ao tronco, no Senhor gerando vida”, escreveu o padre Osmar Bezutte na música “Vidas pela Vida”, composta em homenagem aos mártires de Meruri. “O martírio é uma graça de Deus e o coroamento de uma vida de muito amor e compromisso com o Reino de Deus. Ele vem da pessoa que se alimenta da Palavra e do Pão na Eucaristia diária”, explica o padre Osmar sobre o trecho citado da canção. O músico salesiano considera um privilégio ter se encontrado com o padre Rodolfo apenas uma semana antes da sua morte.  “Ele sempre me chamou a atenção pelo seu tamanho, pela serenidade e pela alegria. Parecia uma criança, pelo sorriso e pela simplicidade. Um homem grande não só pela altura, mas também pelo seu ser”, revela.

Quando Padre Rodolfo fez sua última visita à terra natal, a mãe, dona Maria Lunkenbein pediu ao filho sacerdote que tivesse mais cuidado no trabalho, diante da tensão causada pela demarcação das terras indígenas. Mas Rodolfo respondeu: “se eles me quiserem cortar o dedo, eu lhes ofereço os dois braços. Não há coisa mais bonita do que morrer para Deus”. Quem contou essa história foi o padre Spitz, durante a homilia da missa pelo 25° aniversário da morte do Padre Rodolfo, na igreja Paroquial em Döringstadt, cidade onde nasceu o Servo de Deus. A constatação feita pelo sacerdote conterrâneo do Padre Lunkenbein é de que ele estava verdadeiramente preparado para glorificar a Deus com o martírio.

 

Simão Bororo

 

Filho de Teresa Okogeboudo e Floriano Utoboga, Simão Cristino tinha 39 anos completos naquela manhã de 15 de julho de 1976. Entre os indígenas que conviviam e trabalhavam com os missionários salesianos, ele era o mais próximo do Padre Rodolfo, revela o padre Gonçalo Ochoa. Naquela manhã, Simão teria dito a um companheiro de trabalho que temia um ataque de fazendeiros a Meruri, mas não temia a morte. “Se o padre Rodolfo morrer, eu vou morrer com ele”, teria afirmado poucas horas antes do ataque à Missão, conta o padre Ochoa. “Ele estava trabalhando nos tanques da lavanderia e, quando escutou o barulho e gritaram: ‘estão atacando o padre Rodolfo’, ele saiu correndo para defender o amigo. No caminho de ida, ele foi ferido gravemente e depois veio a morrer”, lembra o missionário.

 

Sangue e sorriso

 

Entre os fatos analisados no processo de reconhecimento do martírio, estão os instantes finais da vida, palavras e gestos que culminaram na morte. O Padre Ochoa lembra vividamente aqueles momentos dos quais é testemunha ocular. “Eu presenciei a vida dele e o momento do sacrifício, como foi ele querendo resolver em paz as coisas, sempre sorridente. O último momento dele foi com um sorriso. Eu estava pertinho da igreja, pude correr e pegar os santos óleos e administrá-los e ver seus últimos momentos. Eu lhe dei os santos óleos e a absolvição. A Simão também pude assistir espiritualmente”, recorda emocionado o sacerdote.

 

As sementes que brotam

 

O diretor da presença salesiana em Meruri hoje é o padre Andelson. Ele recorda o quase desaparecimento da cultura bororo entre os anos de 1960 e 1970 por influência dos não-índios que chegaram àquela região. O número de nascimentos por ano entre os indígenas reduziu a quase zero naquela época. Por isso, cada novo bebê bororo nascido nos dias atuais é considerado um milagre acontecido por intercessão dos servos de Deus Padre Rodolfo e Simão. “Quando vocês chegam aqui a Meruri e veem tantas crianças, nós vemos que Padre Rodolfo e Simão têm feito muito milagre aqui na nossa terra”, afirma. Para o diretor, o trabalho desenvolvido incansavelmente pelos salesianos entre os indígenas é a realização dos sonhos de Dom Bosco. “Os povos indígenas são os pobres mais pobres do reino, e nós, como salesianos, temos como carisma a educação dos jovens mais pobres, e aqui é o nosso lugar, é aqui que nós encontramos Deus no rosto de cada indígena, como o Padre Rodolfo também encontrou um dia”, sustenta padre Andelson, trazendo um bebê boe-bororo no colo.

 

O processo de beatificação do Padre Rodolfo e Simão Bororo caminha sobre dois trilhos: um jurídico, de acordo com as normas canônicas, e outro espiritual apoiado nas orações de muita gente para que tudo proceda bem. Na cerimônia de abertura oficial do processo diocesano, o bispo diocesano de Barra do Garças, dom Protógenes José Luft, afirmou: “é um momento de grande graça para a nossa Igreja. Se Deus quiser, dentro de poucos anos, a Igreja universal poderá proclamá-los bem-aventurados”.

 

Com o início da segunda fase do processo, toda a Família Salesiana é convidada à oração diária pela causa de martírio e beatificação. Todo dia 15 de cada mês, o padre João Bosco Maciel, secretário inspetorial, envia uma proposta de oração pelo bom êxito do processo da causa de martírio dos Servos de Deus. Neste dia 15 de julho será celebrado em Meruri o 44° aniversário da morte do padre Rodolfo e Simão Bororo. É um dia de memória, súplica e ação de graças.

 

De acordo com o vice-postulador da causa de martírio e beatificação do Padre Rodolfo Lunkenbein e de Simão Bororo, padre Paulo Jácomo, na fase diocesana foram realizados todos os levantamentos históricos e testemunhais sobre as pessoas do Padre Rodolfo e do Simão, tanto no Brasil quanto na Europa. “Nós já fomos até a Alemanha para conversar com os familiares do padre Rodolfo, para conhecermos uma fase do padre Rodolfo que a gente não conhecia, sua infância e adolescência até a sua vinda para o seminário. E também aqui, as pessoas que conviveram com eles, que estavam ali no momento do ocorrido, pessoas que, de uma maneira diferente, também deram a vida pela mesma causa”, conclui.

 

As próximas etapas

 

No dia 31 de janeiro de 2020 foi concluído o processo diocesano. O postulador geral, padre Píer Luigi Cameroni elaborou de um documento a ser enviado à Santa Sé para o exame dos Teólogos. Quando essa etapa (exame dos teólogos) se encerrar, o cardeal prefeito da Congregação para os Santos apresenta ao Santo Padre o pedido para que seja reconhecido o martírio e seja marcada a data para a beatificação. Com o decreto do Santo Padre reconhecendo o martírio, os Servos de Deus passam a ser veneráveis. A seguir virão os preparativos para as celebrações da beatificação. De acordo com o padre Cameroni, “o Padre Rodolfo Lunkenbein e o senhor Simão Bororo escreveram, com numerosos outros mártires, uma das páginas mais gloriosas da Amazônia: participaram de forma significativa da Paixão, Morte e gloriosa Ressurreição de Jesus Cristo, lutando e doando a própria vida para defender a vida, a dignidade e os direitos do Povo bororo e de todos os Povos indígenas”.

 

O processo para reconhecimento do martírio e beatificação ocorre de forma diferente dos processos em que o ‘Servo de Deus a ser beatificado não foi martirizado. No caso dos martirizados, não há a necessidade da comprovação de um milagre para o reconhecimento de martírio. Essa exigência só acontece em uma fase posterior, para a canonização. “Se for comprovado que os dois são mártires, que eles deram a vida de fato, e a gente sabe que sim, não precisa a comprovação de um milagre. Agora, para a fase da canonização, mesmo de um mártir, aí é necessária também a comprovação de um milagre, um acontecimento extraordinário”, afirma o padre Paulo Jácomo, vice-postulador da causa de martírio dos Servos de Deus, Padre Rodolfo Lunkenbein e Simão Bororo.

 

 

Fonte: Missão Salesiana de Mato Grosso

Avalie este item
(0 votos)
Última modificação em Quarta, 15 Julho 2020 13:21

Deixe um comentário

Certifique-se de preencher os campos indicados com (*). Não é permitido código HTML.


O sangue dos mártires é semente de novos cristãos

Quarta, 15 Julho 2020 13:08 Escrito por  Missão Salesiana de Mato Grosso
O processo de beatificação dos Servos de Deus, Padre Rodolfo Lunkenbein e Simão Bororo, está agora na fase romana. Aqueles que conviveram com os dois testemunham o amor e a dedicação que os levaram ao gesto extremo de entrega pessoal em favor de um povo por causa do Reino de Deus.


“Rodolfo e Simão são mais dois mártires, desfeitos no amor, segundo a palavra de Cristo: o índio deu a vida pelo missionário. O missionário deu a vida pelo índio. Para todos nós, índios e missionários, este sangue de Meruri é um compromisso e uma esperança”. Assim escreveu dom Pedro Casaldáliga, bispo de São Félix do Araguaia, no dia 18 de julho de 1976, no Livro de Condolências de Meruri. Um resumo profético de uma história de amor e de cruz, de suor e de sangue, de fé e de coragem.

Passados 43 anos daquele fatídico dia, o Reitor-mor dos salesianos, padre Ángel Artime, esteve no local do martírio em visita à Missão Salesiana de Mato Grosso e afirmou: “temos oportunidade de dar muitas graças a Deus pelas vidas de tantos irmãos e irmãs, (…) todos mártires no silêncio da doação das suas vidas. E o futuro fala das possibilidades da nossa vocação missionária que quer acompanhar a vida destes povos, quer preparar com eles o futuro, quer formar os jovens na educação e também na fé”.

O 44° aniversário de martírio do Padre Rodolfo Lunkenbein e Simão Bororo acontece enquanto o mundo inteiro vive uma situação de profundo pesar pela morte de milhares de pessoas, vítimas da pandemia da Covid-19. A Inspetoria Salesiana de Santo Afonso Maria de Ligório, fiel à sua vocação profética e missionária, une-se a toda a Congregação no apelo feito pelo Reitor-mor, padre Ángel Artime, “diante das situações de pobreza, que certamente aumentarão depois desta crise, deveremos continuar, como católicos, a responder com generosidade. Em geral, em situações extremas, costumamos dar o melhor de nós. Eu confio muito nisto. Gostaria de aproveitar esta oportunidade para convidar todos à solidariedade, fraternidade, caridade e oração. Tenhamos Fé em Deus, que está ao nosso lado em nosso caminho, mesmo quando isto é difícil, como nos dias de hoje”.

Testemunhos

A história, hoje contada por quem testemunhou aqueles dias, confirma a visão missionária do jovem “Lunke”, que adotou como lema sacerdotal “Eu vim para servir e dar a vida”, uma frase que revela sua espiritualidade e a grandeza de seu coração, em uma profunda convicção na aliança do seu amor por Jesus, na figura do Bom Pastor, concretizada na dedicação do trabalho em favor dos indígenas.

“Padre Rodolfo Lunkenbein nasceu no dia 1° de abril de 1939 em Döringstadt, perto de Bamberg, na Alemanha. Seus pais, João e Maria, eram pequenos agricultores. Rodolfo era um menino alegre e sincero. Eram notáveis a sua generosidade e a sua prontidão em ajudar, principalmente os velhinhos. Gostava de rezar. Antes de entrar na escola já sabia rezar o terço e convidava os irmãos para rezarem juntos. Não perdia uma missa e comungava sempre”, relata a ‘Carta Morturária’, revelando a base sólida de fé em que foi construída a vocação missionária do padre Rodolfo.

Por ocasião da celebração dos 100 anos das Missões Salesianas (1975), o então inspetor padre Walter Bini – depois feito bispo – escreveu que o martírio do Padre Rodolfo e de Simão foi, por vontade de Deus, “a mais realista das celebrações do centenário”, porque não foi feita com festa nem com discursos, mas com o sangue derramado. “Nenhuma celebração conseguiu, como essa, tornar conhecidas e compreendidas, em todo o Brasil, e também no exterior, as Missões Salesianas”, afirmou à época. Em um questionamento, dom Bini também considerou o martírio de Simão Cristino, bororo, como “fruto maduro de 75 anos de trabalho salesiano” entre os indígenas daquela região.

O martírio é justificado por uma vida em santidade

 

“o martírio não se impõe, não se escolhe ou se improvisa, vem do ramo unido ao tronco, no Senhor gerando vida”, escreveu o padre Osmar Bezutte na música “Vidas pela Vida”, composta em homenagem aos mártires de Meruri. “O martírio é uma graça de Deus e o coroamento de uma vida de muito amor e compromisso com o Reino de Deus. Ele vem da pessoa que se alimenta da Palavra e do Pão na Eucaristia diária”, explica o padre Osmar sobre o trecho citado da canção. O músico salesiano considera um privilégio ter se encontrado com o padre Rodolfo apenas uma semana antes da sua morte.  “Ele sempre me chamou a atenção pelo seu tamanho, pela serenidade e pela alegria. Parecia uma criança, pelo sorriso e pela simplicidade. Um homem grande não só pela altura, mas também pelo seu ser”, revela.

Quando Padre Rodolfo fez sua última visita à terra natal, a mãe, dona Maria Lunkenbein pediu ao filho sacerdote que tivesse mais cuidado no trabalho, diante da tensão causada pela demarcação das terras indígenas. Mas Rodolfo respondeu: “se eles me quiserem cortar o dedo, eu lhes ofereço os dois braços. Não há coisa mais bonita do que morrer para Deus”. Quem contou essa história foi o padre Spitz, durante a homilia da missa pelo 25° aniversário da morte do Padre Rodolfo, na igreja Paroquial em Döringstadt, cidade onde nasceu o Servo de Deus. A constatação feita pelo sacerdote conterrâneo do Padre Lunkenbein é de que ele estava verdadeiramente preparado para glorificar a Deus com o martírio.

 

Simão Bororo

 

Filho de Teresa Okogeboudo e Floriano Utoboga, Simão Cristino tinha 39 anos completos naquela manhã de 15 de julho de 1976. Entre os indígenas que conviviam e trabalhavam com os missionários salesianos, ele era o mais próximo do Padre Rodolfo, revela o padre Gonçalo Ochoa. Naquela manhã, Simão teria dito a um companheiro de trabalho que temia um ataque de fazendeiros a Meruri, mas não temia a morte. “Se o padre Rodolfo morrer, eu vou morrer com ele”, teria afirmado poucas horas antes do ataque à Missão, conta o padre Ochoa. “Ele estava trabalhando nos tanques da lavanderia e, quando escutou o barulho e gritaram: ‘estão atacando o padre Rodolfo’, ele saiu correndo para defender o amigo. No caminho de ida, ele foi ferido gravemente e depois veio a morrer”, lembra o missionário.

 

Sangue e sorriso

 

Entre os fatos analisados no processo de reconhecimento do martírio, estão os instantes finais da vida, palavras e gestos que culminaram na morte. O Padre Ochoa lembra vividamente aqueles momentos dos quais é testemunha ocular. “Eu presenciei a vida dele e o momento do sacrifício, como foi ele querendo resolver em paz as coisas, sempre sorridente. O último momento dele foi com um sorriso. Eu estava pertinho da igreja, pude correr e pegar os santos óleos e administrá-los e ver seus últimos momentos. Eu lhe dei os santos óleos e a absolvição. A Simão também pude assistir espiritualmente”, recorda emocionado o sacerdote.

 

As sementes que brotam

 

O diretor da presença salesiana em Meruri hoje é o padre Andelson. Ele recorda o quase desaparecimento da cultura bororo entre os anos de 1960 e 1970 por influência dos não-índios que chegaram àquela região. O número de nascimentos por ano entre os indígenas reduziu a quase zero naquela época. Por isso, cada novo bebê bororo nascido nos dias atuais é considerado um milagre acontecido por intercessão dos servos de Deus Padre Rodolfo e Simão. “Quando vocês chegam aqui a Meruri e veem tantas crianças, nós vemos que Padre Rodolfo e Simão têm feito muito milagre aqui na nossa terra”, afirma. Para o diretor, o trabalho desenvolvido incansavelmente pelos salesianos entre os indígenas é a realização dos sonhos de Dom Bosco. “Os povos indígenas são os pobres mais pobres do reino, e nós, como salesianos, temos como carisma a educação dos jovens mais pobres, e aqui é o nosso lugar, é aqui que nós encontramos Deus no rosto de cada indígena, como o Padre Rodolfo também encontrou um dia”, sustenta padre Andelson, trazendo um bebê boe-bororo no colo.

 

O processo de beatificação do Padre Rodolfo e Simão Bororo caminha sobre dois trilhos: um jurídico, de acordo com as normas canônicas, e outro espiritual apoiado nas orações de muita gente para que tudo proceda bem. Na cerimônia de abertura oficial do processo diocesano, o bispo diocesano de Barra do Garças, dom Protógenes José Luft, afirmou: “é um momento de grande graça para a nossa Igreja. Se Deus quiser, dentro de poucos anos, a Igreja universal poderá proclamá-los bem-aventurados”.

 

Com o início da segunda fase do processo, toda a Família Salesiana é convidada à oração diária pela causa de martírio e beatificação. Todo dia 15 de cada mês, o padre João Bosco Maciel, secretário inspetorial, envia uma proposta de oração pelo bom êxito do processo da causa de martírio dos Servos de Deus. Neste dia 15 de julho será celebrado em Meruri o 44° aniversário da morte do padre Rodolfo e Simão Bororo. É um dia de memória, súplica e ação de graças.

 

De acordo com o vice-postulador da causa de martírio e beatificação do Padre Rodolfo Lunkenbein e de Simão Bororo, padre Paulo Jácomo, na fase diocesana foram realizados todos os levantamentos históricos e testemunhais sobre as pessoas do Padre Rodolfo e do Simão, tanto no Brasil quanto na Europa. “Nós já fomos até a Alemanha para conversar com os familiares do padre Rodolfo, para conhecermos uma fase do padre Rodolfo que a gente não conhecia, sua infância e adolescência até a sua vinda para o seminário. E também aqui, as pessoas que conviveram com eles, que estavam ali no momento do ocorrido, pessoas que, de uma maneira diferente, também deram a vida pela mesma causa”, conclui.

 

As próximas etapas

 

No dia 31 de janeiro de 2020 foi concluído o processo diocesano. O postulador geral, padre Píer Luigi Cameroni elaborou de um documento a ser enviado à Santa Sé para o exame dos Teólogos. Quando essa etapa (exame dos teólogos) se encerrar, o cardeal prefeito da Congregação para os Santos apresenta ao Santo Padre o pedido para que seja reconhecido o martírio e seja marcada a data para a beatificação. Com o decreto do Santo Padre reconhecendo o martírio, os Servos de Deus passam a ser veneráveis. A seguir virão os preparativos para as celebrações da beatificação. De acordo com o padre Cameroni, “o Padre Rodolfo Lunkenbein e o senhor Simão Bororo escreveram, com numerosos outros mártires, uma das páginas mais gloriosas da Amazônia: participaram de forma significativa da Paixão, Morte e gloriosa Ressurreição de Jesus Cristo, lutando e doando a própria vida para defender a vida, a dignidade e os direitos do Povo bororo e de todos os Povos indígenas”.

 

O processo para reconhecimento do martírio e beatificação ocorre de forma diferente dos processos em que o ‘Servo de Deus a ser beatificado não foi martirizado. No caso dos martirizados, não há a necessidade da comprovação de um milagre para o reconhecimento de martírio. Essa exigência só acontece em uma fase posterior, para a canonização. “Se for comprovado que os dois são mártires, que eles deram a vida de fato, e a gente sabe que sim, não precisa a comprovação de um milagre. Agora, para a fase da canonização, mesmo de um mártir, aí é necessária também a comprovação de um milagre, um acontecimento extraordinário”, afirma o padre Paulo Jácomo, vice-postulador da causa de martírio dos Servos de Deus, Padre Rodolfo Lunkenbein e Simão Bororo.

 

 

Fonte: Missão Salesiana de Mato Grosso

Avalie este item
(0 votos)
Última modificação em Quarta, 15 Julho 2020 13:21

Deixe um comentário

Certifique-se de preencher os campos indicados com (*). Não é permitido código HTML.