Era 24 de junho de 1870. Um grupo de jovens, liderados por Carlos Gastini, resolveu visitar Dom Bosco para saudá-lo, como faziam quando alunos do Oratório de Valdocco, na festa de São João Batista, seu padroeiro. Como gesto de gratidão, levaram de presente um jogo de xícaras para café. Surpreso e agradecido, Dom Bosco chamou aquele pequeno grupo de ex-alunos, dando início a um movimento que hoje está presente nos 134 países onde os salesianos exercem seu apostolado.
Comemorar 150 anos daquele encontro faz sentido para aqueles que continuam vivendo na sua vida familiar, social e profissional os valores e referências ético-morais apreendidos enquanto estudantes, que são os mesmos que estavam presentes no Oratório de Valdocco. O que une o ontem e o hoje é o mesmo fio condutor que sustenta um dos projetos educativos mais otimistas na educação: possibilitar ao jovem tornar-se “bom cristão e honesto cidadão”.
Organização
A organização do Movimento dos Ex-alunos de Dom Bosco teve sua caminhada sempre marcada pela preocupação em manter-se fiel ao carisma de Dom Bosco. Possui três instâncias: a Confederação Mundial, fundada oficialmente em 1908 pelo padre Filipe Rinaldi, cuja sede está em Roma, na Itália, é liderada por um Conselho Mundial. Em cada país ou região há a Confederação Nacional liderada pelo Conselho Nacional e, em cada Inspetoria, está a Federação Inspetorial, liderada por um Conselho Inspetorial. No Brasil há seis Federações Inspetoriais.
Na base desta organização estão aos Uniões Locais, células que dão vida ao Movimento, formadas por ex-alunos que, desejosos de aprofundar o Espírito Salesiano, continuam se encontrando nos grupos de apoio e fortalecimento. Como diz Edu de Oliveira, de Belo Horizonte: “O movimento dos ex-alunos nos ajuda a cuidar e a cultivar a salesianidade. A árvore que não é podada, regada e cuidada se esvazia e morre”. Assim pode acontecer com o ex-aluno. Se não houver um cultivo constante, poderá acontecer como a árvore.
Missão
A missão do ex-aluno tem seu fundamento na expressão evangélica “ser sal da terra e luz do mundo” (Mt 5,13). Esta expressão nos leva a perguntar: como ser sal da terra e, a partir daí, como ser luz para indicar o caminho? Comento três dimensões desta missão.
1 - Compromisso consigo – Tornar-se uma pessoa cada vez melhor, vivendo os valores humanos e cristãos é uma exigência intransferível. É impossível ser um profissional que a sociedade pede e o mercado espera sem um esforço constante de atualização (estudo), reflexão e espiritualidade. O cuidado de si mesmo, mais que um desejo, é uma obrigação. Para ser significativo na sociedade, ao ex-aluno é exigida uma formação integral. Não basta ser um profissional competente. É necessário ser uma pessoa completa que se cuida em todos os aspectos
2 - Compromisso com o social – Dom Bosco não queria que seus alunos fossem egocêntricos. Preparava-os para construir uma sociedade cristã onde haveria justiça, solidariedade, trabalho digno, condições humanas para todos. Ser honesto cidadão, para o ex-aluno, é promover a dignidade das pessoas, defender seus direitos em todos os contextos; é ser sensível ao sofrimento alheio, é combater a cultura da exclusão e da prepotência. É reconhecer que o futuro da humanidade não está tanto nas mãos dos políticos, mas de quem reconhece o outro como igual. Como diz Daniel Torres, ex-aluno de Salvador: “Para mim, ser um Ex-aluno de Dom Bosco significa ir além dos muros de uma casa salesiana. É transcender os limites da coragem, da caridade e da boa vontade... é fazer-se útil ao próximo, com alegria e fé, sem medir esforços”.
3 - Compromisso com a Família Salesiana – A Família Salesiana é um vasto movimento de pessoas, formado por 32 Grupos. O ex-aluno faz parte desta Família, pois teve o privilégio de receber uma educação diferenciada das mãos dos sucessores de Dom Bosco. O carisma de Dom Bosco está presente no seu coração e, por isso, é chamado a defendê-lo e divulgá-lo. Como diz José Pio, de São Paulo: “Como ex-aluno, devo responder aos salesianos com gratidão pela educação recebida, inserindo-me na Família Salesiana no trabalho pastoral, principalmente com os jovens”.
Com os demais grupos, o Movimento de Ex-alunos é chamado a levar às pessoas os princípios educativos de Dom Bosco. Não é um ex-estudante, é um missionário. É o que expressa Marcos Flávio, de Pará de Minas: “Porque os salesianos fizeram diferença em minha vida, devo parte do que sou a eles. Sou extremamente grato aos salesianos que passaram por minha vida e me fizeram ‘Família de Dom Bosco’”.
Para aonde vamos?
No meio de tantas incertezas, o Movimento dos Ex-alunos se pergunta: que tipo de ex-aluno a Família Salesiana espera dele? Que modelo de pessoa, profissional e cidadão a sociedade quer que ele seja? Que visão de mundo possui e que contribuição pode dar para torná-lo melhor? A celebração dos 150 anos poderá ser um bom momento para a busca das respostas.
Oswaldo Dalpiaz é presidente Nacional dos Ex-alunos de Dom Bosco.
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