A pequena Jamlo precisou emigrar de sua aldeia por causa da pobreza em que sua família se encontrava. Em busca de outra fonte de renda, seus pais a enviaram como parte de um grupo de migrantes internos sazonais para trabalhar nas colheitas de pimenta.
Após o bloqueio imposto pelas autoridades devido a Covid-19, o grupo de trabalhadores do qual ela fazia parte precisou enfrentar uma caminhada de cerca de 150 quilômetros para voltar para casa. Durante três dias, a pequena conseguiu percorrer a maior parte da distância, mas quando faltavam 50 quilômetros para chegar ao seu vilarejo, ela não resistiu. Os médicos atribuem sua morte ao desequilíbrio eletrolítico. O teste para Covid-19 deu negativo. Mas o que realmente a matou?
A resposta é simples: nosso sistema. Um sistema que permite trabalho infantil. Que não oferece segurança salarial ou sanitária para a população que vive de trabalhos diários. Um sistema que não prevê direitos para os migrantes internos. É nestes grandes vácuos sociais que pessoas como Jamlo caem, até morrerem.
Esta razão leva a rede dos organismos salesianos da Índia a trabalhar para criar estruturas de apoio durante o período pré Covid-19, visando, sobretudo, ajudar os migrantes pobres durante esta fase difícil. A ‘Don Bosco Solidarity Covid-19 Relief’ atua na Índia por meio da rede salesiana, que no país possui 11 escritórios inspetoriais de planejamento e desenvolvimento e 254 presenças.
A ação beneficia migrantes, pessoas em situação de rua, moradores de favelas, idosos, crianças, pessoas trans e vilarejos de áreas isoladas. A Família Salesiana colabora com os governos estaduais, empresas, administrações locais, outras ONGs, serviços de saúde e emprego e voluntários individuais na intenção de ajudar os migrantes.
Com o objetivo de prestar assistência e acompanhar as pessoas necessitadas, somente até o dia 26 de abril, a operação ‘Don Bosco Solidarity Covid-19 Relief’ já havia distribuído quase 82 mil kits de comida suficientes para alimentar 328 mil pessoas, produzido e distribuído 236 mil máscaras de proteção, distribuído refeições prontas a outras 82 mil pessoas e distribuído 260 mil litros de água potável, além de fornecer aproximadamente 10 mil kits sanitários, desinfetantes e medicamentos, onde foi possível. Além de tudo isso, também foi implantado um serviço de aconselhamento psicológico gratuito, buscando responder, de todas as formas possíveis, às necessidades das pessoas carentes.
Infelizmente, para um país como a Índia, todos esses enormes e louváveis esforços não são suficientes. Foi por isso que Jamlo morreu. Ela se tornou apenas um efeito colateral no caos global desta ordem estabelecida. Sua morte, porém, alimenta ainda mais a determinação da Rede Dom Bosco na busca de jovens, meninos e meninas como ela, direta ou indiretamente, por meio de suas famílias, para que tragédias assim não mais se repitam.