Para isso, a CNBB apresenta um itinerário que está contido no próprio lema da CF 2020: “Viu, Sentiu compaixão e Cuidou dele” (Lc 10,33-34). A primeira dimensão trabalhada no Texto-base da Campanha, o Ver, traz o desafio de “olhar transversalmente as diversas realidades, interpelando a todos ao respeito do sentido que, na prática, se atribui à vida, nas suas diversas dimensões: pessoal, comunitária, social e ecológica”.
Olhar da indiferença
A visão abrangente da realidade brasileira começa pelo estudo Cenário da infância e adolescência no Brasil 2019, da Fundação Abrinq, segundo o qual 22,6% das crianças e adolescentes brasileiros com idade entre 0 e 14 anos vivem em situação de extrema pobreza. O mesmo estudo mostra que 16,4% das adolescentes são mães antes dos 19 anos.
“O aborto é uma realidade que ameaça a vida das crianças desde o ventre materno”, afirma o Texto-base, que cita também a realidade de milhares de crianças órfãs que perderam suas famílias em tempos de forte violência.
Outras consequências do olhar de indiferença para a vida, segundo o Texto-base da Campanha, são a desigualdade social e o desemprego, que atingiu 12,7% da população brasileira no primeiro trimestre de 2019, segundo o IBGE. Além das consequências econômicas, essa situação é uma das principais causas para problemas como ansiedade e estresse. No Brasil, em 2016 houve 11.433 mortes por suicídio (31 casos por dia), vitimando em especial a população jovem: o suicídio é a quarta maior causa de morte na faixa etária dos 15 aos 29 anos.
A desvalorização da vida se expressa ainda nos dados sobre a violência no trânsito, os conflitos no campo, as agressões contra os povos indígenas e o aumento do feminicídio, bem como no desrespeito e na destruição da natureza.
Olhar solidário
Mas o Texto-base da CF 2020 ao mesmo tempo aponta uma outra forma de olhar: a solidariedade social. “O olhar da fé, ao mesmo tempo em que identifica sombras, deve, indispensavelmente, identificar luzes. [...] Por isso, não podemos esquecer o testemunho de quem defende a vida atuando nas diversas entidades, nos Conselhos de Direitos, Organizações não Governamentais, nos movimentos sociais e populares, nos sindicatos, nas associações de bairro e em muitas outras organizações comprometidas com a vida”.
Há um número incontável de pessoas que, na vida pública ou no anonimato, dedicam-se a promover e a defender a vida. Um dos exemplos é a Pastoral da Criança, que conta com 74 mil voluntários atendendo mais de 800 mil crianças em todo o Brasil. Outras milhares de pessoas estão engajadas nas ações das 26 pastorais sociais da Igreja, como a Pastoral do Menor, Pastoral da Saúde, Pastoral do Povo da Rua e Pastoral da Pessoa Idosa.
O olhar solidário passa ainda pelo Setor Juventude da CNBB, com a campanha contra a violência e o extermínio dos jovens, e pelas ações da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e do Conselho Indigenista Missionário (CIMI). Isso além dos inúmeros projetos e obras sociais coordenados pela Igreja a partir das Congregações e Movimentos.
Qual será o nosso olhar?
É a questão feita pelo Texto-base da Campanha da Fraternidade, para logo depois concluir: “Devemos ter claro que assumir o olhar solidário capaz de cuidar, como modo de ser no mundo, nos permite ir além do egoísmo e da indiferença. O cuidado reinstaura o espaço da graça e da leveza diante do mundo e de todas as formas de vida, gerando um novo laço de amor entre nós”.
Leia também:
Hino da CF 2020 é inspirado em Santa Dulce dos Pobres
Conheça a história de Santa Dulce dos Pobres
Veja no BS Digital:
Vídeo: Os objetivos da Campanha da Fraternidade
Nove maneiras de viver a CF 2020