Na leitura da Exortação Apostólica Alegria do Evangelho, do nosso querido Francisco, encontrei outra expressão que, em uma dimensão vocacional da vida, nos ajuda a alimentar o projeto de seguimento do Senhor.
Essa frase está no número 83, inserida no capítulo II, quando o papa reflete sobre a crise do compromisso comunitário. É a leitura do contexto complexo no qual estamos com um interesse evangélico. O papa não está interessado em oferecer uma leitura sociológica do problema, mas do ponto de vista da fé iluminar nosso compromisso pastoral. Vivemos, recorda o papa, numaeconomia de exclusão (Alegria do Evangelho, n. 53): comida sobrante jogada no lixo, o ser humano considerado um bem de consumo, os excluídos são massas sobrantes, a cultura do bem-estar nos deixa insensíveis, adora-se o mercado, a corrupção está ramificada, rejeitam-se Deus e a ética, a solidariedade é interesseira, o consumo é exacerbado, tudo é provisório, proliferação de movimentos religiosos fundamentalistas, individualismo, racionalismo secularista, predomina em muitos lugares o administrativo sobre o pastoral, sacramentalização sem outras formas de evangelização, galopante processo de secularização, fragilidade dos vínculos familiares, abandono dos idosos e dos jovens, muitos leigos começam a não querer assumir compromissos e muitos padres se preocupam demais com o próprio tempo pessoal, há um certo pessimismo e tristeza melosa, sem esperança.
Mensageiro da alegria
Este cenário complexo que Francisco descreve do ponto de vista pastoral não pode nos apavorar, mas preocupar sim; é preciso sair dessa paralisia econômica, social, espiritual e cultural. Tudo isso poderá nos levar à perda do anúncio profético e alegre do Evangelho, desembocando em uma tristeza contagiosa e maléfica que não encantará o ser humano de hoje, mas o levará ao fundo do poço. Portanto, em um projeto de vida como vocação, o cristão é convocado a ser mensageiro da alegria, ou seja, desenvolver uma espiritualidade missionária. O estilo missionário de vida, vivida como vocação, nos ajudará a ver o outro como amigo, irmão e desejo de uma palavra de vida. Isso nos motivará interiormente a romper as barreiras do individualismo que nos paralisa.
Francisco fala que estamos desenvolvendo uma psicologia do túmulo (Alegria do Evangelho, n.83), quer dizer, pessoas que não sabem mais ousar, ser criativas e apostar no novo. Para ser proposta e comunidade religiosa que cativa novos membros, a acolhida alegre das pessoas é fundamental. Trata-se, precisamente, do que dizia o papa os Filhos e Filhas da caridade em 2013 quando visitou a casa que eles mantêm em Roma: “E vós, caros irmãos e irmãs, sois a face de Jesus. Obrigado! Vós «ofereceis», a quantos trabalham neste lugar, a possibilidade de servir Jesus naqueles que se encontram em dificuldade, em quem precisa de ajuda. Então, esta Casa constitui uma transparência luminosa da caridade de Deus, que é um Pai bom e misericordioso para com todos. Aqui vive-se uma hospitalidade aberta, sem distinção de nacionalidade ou de religião, segundo o ensinamento de Jesus: «Recebestes de graça, dai também de graça» (Mt 10, 8). Todos nós temos o dever de recuperar o sentido do dom, da gratuidade e da solidariedade. Um capitalismo selvagem tem ensinado a lógica do lucro a qualquer custo, do dar para obter, da exploração sem considerar as pessoas... e podemos ver os resultados na crise que estamos a viver! Esta Casa é um lugar que educa para a caridade, uma «escola» de caridade que ensina a ir ao encontro de cada pessoa, não para obter lucro, mas por amor. A música — por assim dizer — desta Casa é o amor. E isto é bonito!”. Ótimo incentivo do papa para manter viva a chama do Evangelho da Alegria.
Ação salesiana
Para realizar esse processo vocacional cativante, é preciso desenvolver um caminho vocacional na educação dos jovens. Francisco disse aos salesianos do Capítulo Geral 27 que: “A evangelização dos jovens é a missão que o Espírito Santo vos confiou na Igreja. Ela está intimamente ligada à sua educação: o caminho de fé insere-se na senda de crescimento e o Evangelho enriquece até o amadurecimento humano. É preciso preparar os jovens para trabalhar na sociedade segundo o espírito do Evangelho, como agentes de justiça e paz, e para viver na Igreja como protagonistas. Por isso, vós recorreis aos necessários aprofundamentos e atualizações pedagógicos e culturais, para responder à atual emergência educacional. A experiência de Dom Bosco e o seu ’sistema preventivo’ vos sustenham sempre no compromisso a viver com os jovens. A presença no meio deles se distingue pela ternura, que Dom Bosco chamava carinho, experimentando também novas linguagens, mas consciente de que a linguagem do coração é fundamental para se aproximar deles e ser seu amigo”.
Dom Bosco, no seu tempo, percebeu que as questões estavam unidas à mudança cultural e investiu pesado nisso, abrindo escolas, profissionalizando os jovens, produzindo textos religiosos e, sobretudo, desenvolvendo uma atrativa ação evangelizadora alegre em um espaço de vida e de acolhida chamado oratório festivo. O oratório não é uma superestrutura, mas uma aldeia global capaz de congregar, desenvolver o protagonismo juvenil e o compromisso cristão.