A Eucaristia (missa) compreende duas partes fundamentais: a Liturgia da Palavra e a Liturgia Eucarística.
A Liturgia da Palavra é uma herança das celebrações judaicas. O assim chamado “ofício das leituras” no sábado, entre os judeus, constava de uma proclamação da Lei e dos Profetas, seguida de aclamações. Uma oração da assembleia pelas intenções da comunidade e uma bênção de despedida concluíam a reunião. Era como que uma reprodução do diálogo do Sinai, em que o povo respondia a Deus que proclamava a sua Lei do alto da montanha.
Os cristãos reassumiram essa celebração na sua estrutura essencial. E o Concílio Vaticano Segundo acentuou a verdadeira presença de Cristo em sua Palavra (Constituição Sacrosanctum Concilium, 7 e 33).
O esquema da Liturgia da Palavra tem uma estrutura dialogal: Deus fala através das leituras bíblicas e homilia e o povo responde no salmo responsorial, aleluia, silêncio, profissão de fé e oração dos fiéis.
Vamos especificar cada uma dessas partes.
Deus fala
Leituras antes do Evangelho: aos domingos, proclamam-se duas leituras, a primeira do Antigo Testamento (no tempo pascal, dos Atos dos Apóstolos) e a segunda das cartas apostólicas. Nos dias de semana, proclama-se apenas uma.
Evangelho: é o ponto culminante. Por isso, sua leitura é diferenciada: é proclamado pelo diácono ou pelo sacerdote ou por quem preside a celebração. Todos ficam de pé; o livro é beijado, incensado (nas missas solenes) e acompanhado com velas.
Homilia: esta palavra vem do grego e significa “conversa familiar” (distinguindo-se do antigo “sermão”). Por ela a Palavra é explicada, atualizada; o povo é alimentado e introduzido no mistério da salvação anunciado.
O povo responde
Salmo responsorial: normalmente deveria ser cantado, ao menos em sua antífona. Não deve ser substituído por outro canto qualquer, pois é também ele Palavra de Deus! Sua forma responsorial permite ao povo responder com um refrão, enquanto medita, saboreia e contempla sua proclamação feita por um salmista.
Aclamação ao Evangelho: o aleluia (exceto na Quaresma), com o seu verso próprio para cada missa, saúda o Senhor que vai falar. Deve ser curto, vibrante, alegre e executado de pé.
O silêncio: é recomendado após as leituras, evitando-se a pressa nas proclamações das mesmas. A estrutura dialogal das leituras pede um tempo de silêncio para que a Palavra seja acolhida no coração de cada um.
Profissão de fé: é o assentimento da assembleia à Palavra de Deus.
Oração dos fiéis: ela encerra a Liturgia da Palavra, devendo seguir uma ordem: pela Igreja, pelos governantes e salvação de todos, pelos que sofrem e pela comunidade local.
Cuidados
O livro da Palavra: o Lecionário é o livro oficial que contém os trechos escolhidos da Palavra de Deus a serem proclamados na liturgia. Caso não haja Lecionário, as leituras devem ser feitas da Bíblia; porém, não tem sentido uma estante para a exposição da Bíblia, uma vez que ela não será usada na Liturgia.
Entrada da Palavra: deve entrar fechada e ser aberta apenas no ambão, quando se iniciam as leituras. Um refrão cantado ajuda a interiorizar esse momento. Dentro do conjunto da celebração, essa entrada não pode ser longa.
Proclamação da Palavra: sua percepção se dá pela arte de ler, com dicção clara e pausada; jamais pela improvisação, mas sim pela preparação, pois quem proclama “empresta” sua voz a Cristo!
Salmo responsorial: deveria ser cantado pelo significado da própria palavra “salmo” (do hebraico tehillim, que significacantos de louvor; e do grego psalmoi, que significacânticos ao som do saltério). Os compositores e tocadores precisam ter atenção ao executá-lo, procurando conhecer as melodias que já existem nos hinários litúrgicos.
Aclamação ao Evangelho: não se deve confundi-la com os refrãos sobre a Palavra. Estes servem para serem cantados antes da Liturgia da Palavra, preparando nosso coração à proclamação.
Evangelho: é essencial valorizar o Evangeliário (livro que contem os evangelhos dominicais), trazido na procissão inicial, colocado sobre o altar e levado em procissão até o ambão na hora de sua proclamação.
Homilia: sua preparação deve ser esmerada e sua duração, proporcional às demais partes da celebração (Puebla 930).
Silêncio: neste mundo do barulho e da pressa em que vivemos, a Liturgia da Palavra vai na contra-mão. Deus não tem pressa e não se revela no barulho, mas sim “na brisa suave” (1Rs 19,12).
Oração dos fiéis: ela é fruto da Palavra. Por isso, pode ser feita do ambão. As preces devem ser curtas e objetivas. Seu caráter orante pede que seja dirigida diretamente a Deus, como por exemplo: “Ó Deus de bondade, olhe para nossa comunidade... nós te pedimos”.
Recomendo o livro A Missa, de Ione Buyst (Editora Paulinas), como referência para este assunto, mais rico em conteúdo e detalhes práticos.