Dom Bosco, educador da misericórdia

Quarta, 16 Março 2016 09:22 Escrito por  Manolo Jiménez
Dom Bosco, educador da misericórdia Sieger Köder
Neste Ano Santo da Misericórdia, uma análise sobre esta virtude na vida de Dom Bosco e da Família Salesiana.

Grande sorte a de Joãozinho Bosco que, desde sua infância, esteve em um contexto que o tornou um “artesão da misericórdia”, aprendendo de sua melhor educadora: Mamãe Margarida.

O prato de comida que ela oferece ao indigente que bate à porta de sua casa, o sonho dos nove anos que o convida a excluir a violência – “não com pancadas” -, os sermões de sua infância sobre a confiança em Deus, todo um conjunto de motivações que forjaram no jovem João Bosco um coração pleno de misericórdia.

Em sua juventude, outras experiências de solidariedade e de compaixão desenvolveram nele uma sensibilidade especial pelos mais pobres: o “pão branco” que oferece em troca do “pão negro” do companheiro que vem de uma família mais desfavorecida; a comida oferecida a todos os seus companheiros depois do dinheiro ganho na aposta feita com os saltimbancos, e outros mil gestos que mostram a generosidade de um coração clemente, atento ao serviço aos que vivem em situação mais precária.

 

Opção pelos jovens

No início de seu ministério sacerdotal, Dom Bosco expressa a bagagem que ganhou com seus estudos e, principalmente, com a experiência pastoral que foi adquirindo nas circunstâncias que viveu. Seus escritos ressaltam o “coração misericordioso” que leva este educador a propor o valor da misericórdia como orientação fundamental para a vida cristã dos destinatários de sua missão. [...]

São muitas as indicações que Dom Bosco deixa aos seus Salesianos para que sejam, por sua vez, portadores deste amor misericordioso de Deus Pai aos que vivem em situação de privação e necessidade. Basta citar o quinto de seus vinte conselhos, deixados como herança preciosa aos primeiros missionários que levariam o tesouro da educação salesiana às distantes terras da Patagônia: “Ocupem-se especialmente dos doentes, dos jovens, dos idosos e dos pobres, e ganhareis a benção de Deus e a benevolência dos homens”.

Trata-se de uma proposta que está em perfeita sintonia com a orientação evangélica da preferência pelos mais necessitados, essa “porção mais delicada e valiosa da sociedade” tão apreciada por Dom Bosco, e que é corroborada por outros textos do santo nos quais ele destaca a opção preferencial pela juventude mais necessitada: “Recorde sempre que Deus quer que dirijamos nossos esforços até os Pampas e a Patagônia e até os meninos pobres e abandonados”, escreve a João Cagliero, a quem pusera à frente da primeira expedição missionária. “Com o tempo teremos missões na China” – insiste em seu testamento – “mas não nos esqueçamos de que vamos para os meninos pobres e abandonados”. A reiteração destaca o amor, cheio de misericórdia, do pastor que vai em busca de sua ovelha perdida.

 

Lugares de misericórdia

Suas casas, nascidas no norte da Itália e difundidas nos cinco continentes, se converteram em espaços nos quais aqueles a quem a vida deu menos encontram o rosto e as mãos que revelam o coração misericordioso de Deus.

Inspiradas no modelo da “Casa Mãe” de Valdocco, em Turim, onde Dom Bosco começou o seu serviço educativo para a juventude, todas as obras salesianas são chamadas a ser, para os jovens, casa, escola, paróquia e pátio. Lugares em que a acolhida incondicional do jovem, especialmente os que contaram com menos oportunidades na vida, se converte em um critério determinante do projeto educativo.

O princípio inspirador da ação salesiana, tal como a herdamos de Dom Bosco, é o interesse concreto em cada jovem, que se manifesta em uma relação pessoal impregnada de afeto e de apoio ao crescimento e amadurecimento. É o que, corretamente, expressou o Papa Francisco em sua carta aos Salesianos por ocasião do bicentenário do nascimento do fundador: “Um traço característico da pedagogia de Dom Bosco é a amorevolezza, a amabilidade, entendida como amor manifestado e percebido, no qual se revelam a simpatia, o afeto, a compreensão e a participação na vida do outro. Ele afirma que no âmbito da experiência educativa não basta amar, é preciso que o amor do educador se expresse por gestos concretos e eficazes. Graças a tal amabilidade tantas crianças e adolescentes nos ambientes salesianos experimentam uma intensa e saudável afetividade, muito importante para a formação da personalidade e para o caminho da vida”. [...]

 

Herança

A obra iniciada por Dom Bosco desenvolveu-se, no espaço e no tempo, por meio da obra educativa e evangelizadora da Família Salesiana. Seguindo a sua missão, os educadores salesianos têm um modo próprio de viver as obras de misericórdia, no seu compromisso pelo desenvolvimento humano e religioso da juventude mais desfavorecida nos cinco continentes.

Podemos nos perguntar: Como fazer para que nosso coração tenha a mesma paixão misericordiosa que a de Dom Bosco? Quais são as ‘obras’ que na atualidade podem veicular melhor a mensagem de misericórdia entre os jovens?

 

Originalmente publicado em Boletin Salesiano (Espanha), janeiro 2016, p. 17 a 20. 

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Dom Bosco, educador da misericórdia

Quarta, 16 Março 2016 09:22 Escrito por  Manolo Jiménez
Dom Bosco, educador da misericórdia Sieger Köder
Neste Ano Santo da Misericórdia, uma análise sobre esta virtude na vida de Dom Bosco e da Família Salesiana.

Grande sorte a de Joãozinho Bosco que, desde sua infância, esteve em um contexto que o tornou um “artesão da misericórdia”, aprendendo de sua melhor educadora: Mamãe Margarida.

O prato de comida que ela oferece ao indigente que bate à porta de sua casa, o sonho dos nove anos que o convida a excluir a violência – “não com pancadas” -, os sermões de sua infância sobre a confiança em Deus, todo um conjunto de motivações que forjaram no jovem João Bosco um coração pleno de misericórdia.

Em sua juventude, outras experiências de solidariedade e de compaixão desenvolveram nele uma sensibilidade especial pelos mais pobres: o “pão branco” que oferece em troca do “pão negro” do companheiro que vem de uma família mais desfavorecida; a comida oferecida a todos os seus companheiros depois do dinheiro ganho na aposta feita com os saltimbancos, e outros mil gestos que mostram a generosidade de um coração clemente, atento ao serviço aos que vivem em situação mais precária.

 

Opção pelos jovens

No início de seu ministério sacerdotal, Dom Bosco expressa a bagagem que ganhou com seus estudos e, principalmente, com a experiência pastoral que foi adquirindo nas circunstâncias que viveu. Seus escritos ressaltam o “coração misericordioso” que leva este educador a propor o valor da misericórdia como orientação fundamental para a vida cristã dos destinatários de sua missão. [...]

São muitas as indicações que Dom Bosco deixa aos seus Salesianos para que sejam, por sua vez, portadores deste amor misericordioso de Deus Pai aos que vivem em situação de privação e necessidade. Basta citar o quinto de seus vinte conselhos, deixados como herança preciosa aos primeiros missionários que levariam o tesouro da educação salesiana às distantes terras da Patagônia: “Ocupem-se especialmente dos doentes, dos jovens, dos idosos e dos pobres, e ganhareis a benção de Deus e a benevolência dos homens”.

Trata-se de uma proposta que está em perfeita sintonia com a orientação evangélica da preferência pelos mais necessitados, essa “porção mais delicada e valiosa da sociedade” tão apreciada por Dom Bosco, e que é corroborada por outros textos do santo nos quais ele destaca a opção preferencial pela juventude mais necessitada: “Recorde sempre que Deus quer que dirijamos nossos esforços até os Pampas e a Patagônia e até os meninos pobres e abandonados”, escreve a João Cagliero, a quem pusera à frente da primeira expedição missionária. “Com o tempo teremos missões na China” – insiste em seu testamento – “mas não nos esqueçamos de que vamos para os meninos pobres e abandonados”. A reiteração destaca o amor, cheio de misericórdia, do pastor que vai em busca de sua ovelha perdida.

 

Lugares de misericórdia

Suas casas, nascidas no norte da Itália e difundidas nos cinco continentes, se converteram em espaços nos quais aqueles a quem a vida deu menos encontram o rosto e as mãos que revelam o coração misericordioso de Deus.

Inspiradas no modelo da “Casa Mãe” de Valdocco, em Turim, onde Dom Bosco começou o seu serviço educativo para a juventude, todas as obras salesianas são chamadas a ser, para os jovens, casa, escola, paróquia e pátio. Lugares em que a acolhida incondicional do jovem, especialmente os que contaram com menos oportunidades na vida, se converte em um critério determinante do projeto educativo.

O princípio inspirador da ação salesiana, tal como a herdamos de Dom Bosco, é o interesse concreto em cada jovem, que se manifesta em uma relação pessoal impregnada de afeto e de apoio ao crescimento e amadurecimento. É o que, corretamente, expressou o Papa Francisco em sua carta aos Salesianos por ocasião do bicentenário do nascimento do fundador: “Um traço característico da pedagogia de Dom Bosco é a amorevolezza, a amabilidade, entendida como amor manifestado e percebido, no qual se revelam a simpatia, o afeto, a compreensão e a participação na vida do outro. Ele afirma que no âmbito da experiência educativa não basta amar, é preciso que o amor do educador se expresse por gestos concretos e eficazes. Graças a tal amabilidade tantas crianças e adolescentes nos ambientes salesianos experimentam uma intensa e saudável afetividade, muito importante para a formação da personalidade e para o caminho da vida”. [...]

 

Herança

A obra iniciada por Dom Bosco desenvolveu-se, no espaço e no tempo, por meio da obra educativa e evangelizadora da Família Salesiana. Seguindo a sua missão, os educadores salesianos têm um modo próprio de viver as obras de misericórdia, no seu compromisso pelo desenvolvimento humano e religioso da juventude mais desfavorecida nos cinco continentes.

Podemos nos perguntar: Como fazer para que nosso coração tenha a mesma paixão misericordiosa que a de Dom Bosco? Quais são as ‘obras’ que na atualidade podem veicular melhor a mensagem de misericórdia entre os jovens?

 

Originalmente publicado em Boletin Salesiano (Espanha), janeiro 2016, p. 17 a 20. 

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