Com o tema “A escola católica para o século XXI”, o 24º Congresso Interamericano de Educação Católica – 24º CIEC – reuniu cerca de mil representantes da educação católica nos diversos países das Américas. Realizado nos dias 13 a 15 de janeiro em São Paulo, Brasil, o evento contou com religiosos, religiosas e educadores leigos que atuam em escolas católicas e nos âmbitos de organização das congregações religiosas dedicadas à educação no continente. Além da presença dos educadores de todos os estados do Brasil, mais da metade dos participantes era proveniente de outros países: Peru, Equador, Colômbia, México, Uruguai, EUA, Canadá, Bolívia, Argentina, El Salvador, Porto Rico, Panamá, República Dominicana, Chile, Venezuela, Nicarágua, Guatemala e Honduras.
Entre os participantes, foi marcante a presença de quase uma centena de membros da Família Salesiana, entre Salesianos de Dom Bosco (SDB), Filhas de Maria Auxiliadora (FMA) e leigos e leigas comprometidos com o carisma salesiano nas Américas. “Participar de um evento como esse é importante primeiro para alargarmos nossos horizontes nessa experiência com outras congregações. Depois, para buscarmos entender a palavra do Papa Francisco sobre a Educação e o que nos aponta a Igreja. Tudo isso nos ajuda a ser ‘resposta de salvação às profundas aspirações dos jovens’, que é o que nos pedem as Constituições do Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora”, analisa a irmã Cláudia Pianes Campos, diretora do Instituto Laura Vicunha, em Campos dos Goytacazes, RJ.
“Este Congresso, pelos temas de que trata, pela qualidade dos palestrantes e pela troca de experiências, vem ao encontro da nossa missão educativa Salesiana e FMA”, completa a irmã Cristina Avila, FMA, da Confederação Nacional Católica de Educação Católica (Conaced) da Colombia. Também para o padre salesiano Miguel Angel Ibañez, que trabalha na Escola Técnica Dom Bosco, em Caracas, Capital da Venezuela, “escutar as experiências vividas em outras partes da América no contexto da Congregação Salesiana, de outras congregações e dos diocesanos é importante porque cada um traz ideias novas. Ao compartilhar as experiências, tenho como acompanhar melhor esses jovens em Caracas”.
Papa Francisco
A abertura do Congresso foi feita pela irmã Alba Arreaga Rivas, HdlC, secretária-geral da Confederação Interamericana de Educação Católica (CIEC), e pelo irmão Paulo Fossatti, fsc, presidente da Associação Nacional de Educação Católica do Brasil (ANEC). Ambos ressaltaram os objetivos do evento: repensar e relançar o papel da escola católica para o século XXI na América, à luz dos documentos e diretrizes da Igreja; construir um espaço de reflexão para a escola católica da América que permita responder aos desafios atuais na educação; e proporcionar espaços de integração que possibilitem pensar a práxis educativa católica no continente.
Estiveram à mesa de abertura, entre outros participantes de renome, o ministro da Educação do Brasil, Aloysio Mercadante; monsenhor Edmundo Valenzuela, presidente da Comissão de Cultura e Educação do CELAM e arcebispo de Assuncion – Paraguai; e irmã Maria Ignez Vieira Ribeiro, presidente da Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB). A grande surpresa na cerimônia de abertura, entretanto, foi o vídeo do Papa Francisco, exibido no telão, com algumas palavras do pontífice diretamente aos educadores católicos das Américas.
“Ser educador é ser como Jesus, que nos educou”, afirmou o Papa Francisco, chamando os educadores católicos na América a seguirem os passos do Mestre, que contestou a rigidez do sistema educativo dos doutores da Lei em sua época. “Jesus nos educa de outra maneira, com outro estilo”, ressaltou ele. Francisco pediu que os educadores atuais não sejam elitistas e também que estejam abertos à novas propostas de educação, pois hoje não há como se restringir a uma concepção educativa como mera transmissão de conteúdos.
O pensamento do Papa Francisco sobre educação foi o tema da primeira conferência do Congresso. A palestra foi dividida em duas partes, ministradas pelo padre salesiano Walter Guillén, da Guatemala, e por dom João Justino, presidente da Comissão Episcopal Pastoral para Cultura e Educação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Padre Walter Guillén, SDB, relembrou a frase do Papa Francisco: “Educar é um ato de amor, é dar vida” e ressaltou que essa frase inspira muitas ações educativas, especialmente neste Ano da Misericórdia. “Ser educador é um jeito específico de servir e de amar”, considerou, para em seguida assinalar as características do educador católico, com destaque para o testemunho dos valores evangélicos, a capacidade de estar em meio aos jovens e de valorizá-los e, sobretudo, a coerência.
O exemplo da Rede Salesiana de Escolas
Outro momento importante no Congresso foi a realização do painel “Ferramentas para promover o trabalho em rede da Escola Católica na América”. O trabalho em rede vem sendo apontado como uma alternativa para enfrentar os desafios da educação no século XXI, e nesse contexto foi apresentada como um exemplo de sucesso a experiência da Rede Salesiana de Escolas (RSE) no Brasil.
A irmã Adair Sberga, FMA, diretora-executiva da RSE, falou sobre a formação e a história da RSE. Ela mostrou como a Rede foi pensada e organizada desde sua concepção, a adesão e engajamento das escolas, a elaboração dos materiais e todo o processo nestes mais de dez anos de caminhada, tendo sempre como base os pilares Pedagógico, de Gestão, Pastoral e de Comunicação.
Irmã Adair ressaltou que houve um investimento corajoso por parte dos inspetores salesianos e inspetoras FMA para que se alcançasse o sucesso dessa iniciativa, que atualmente engloba 106 escolas em todo o Brasil, com cerca de 80 mil alunos e 7 mil professores. “É preciso ter as ideias e é preciso coloca-las em prática de maneira sustentável nas escolas”, afirmou. As novidades no âmbito da tecnologia – com a implantação do Material Didático Digital e da parceria com a Edebê –, as iniciativas na área da educomunicação e a contribuição da Escola Salesiana América também foram abordadas durante a palestra. “Queremos trabalhar com outras redes, construir juntos. Dentro das nossas políticas subjacentes, estão: antecipar as necessidades das escolas, encontrar caminhos de ousadia como fizeram os nossos fundadores e ressignificar a Escola Salesiana da América com inovação”, concluiu.
Troca de experiências
Para o padre salesiano José Adão Rodrigues Silva, que compõe a Diretoria-executiva da RSE juntamente com irmã Adair Sberga, a oportunidade de expor a caminhada da Rede no Congresso atendeu a uma expectativa das escolas católicas da América, que buscam se projetar além do âmbito local, formando redes, mas que muitas vezes não têm as ferramentas práticas para isso. “Há uma procura por experiências bem sucedidas, que possam servir de exemplo, mas que contenham uma proposta transformadora de educação, que não sejam só uma rede física. A RSE conquistou aqui no Brasil esse destaque pelo trabalho em rede, tanto em termos de proposta, como em termos de resultado prático”, avalia ele.
Entretanto, esta não é uma via de mão única: a presença de referentes da Rede Salesiana de Escolas, dos SDB e das FMA no Congresso indica que há uma busca pela troca de experiências e pela ampliação dos horizontes. “Este não é um caminho que podemos percorrer sozinhos. Estar aqui (no 24º Congresso CIEC) permite expor nossos anseios e nos anima a continuar”, conclui.
Outras informações e a íntegra das palestras do 24º Congresso Interamericano de Educação Católica estão disponíveis no site: www.anec.org.br/congressociec