As palavras aguardadas há décadas pelos fiéis foram recebidas com júbilo. Fogos de artifício, palmas e expressões de alegria era o que se notava no rosto dos que participavam da celebração. Um quadro com a imagem do padre foi introduzida não no altar, pois ele ainda não foi canonizado, mas dentro da Igreja, próximo ao altar. “Ele vai entrar como romeiro. Seu lugar não será ainda o altar, mas ficará no meio do Povo, invocando e cantando conosco a misericórdia do Pai”, disse dom Fernando.
Além de destacar a fé simples e a devoção a Nossa Senhora que o Padre Cícero teve em sua existência, o Papa ainda caracterizou o seu modo de evangelização, vivido no final do século XIX e início do XX, como atual. “Atitude de saída, ao encontro das periferias existenciais, a atitude do Padre Cícero em acolher a todos, especialmente aos pobres e sofredores, aconselhando-os e abençoando-os constitui, sem dúvida, um sinal importante e atual”, afirmou.
Padre Cícero morreu em 1934 suspenso de ordem. A partir da data de seu falecimento o número de fiéis que realizam romarias a cidade que ele fundou, Juazeiro do Norte, só cresceu. Diante desta realidade ao chegar na Diocese de Crato, em 2001, dom Fernando Panico colocou esta reconciliação como prioridade de seu episcopado.
O bispo formou uma comissão e deu entrada, em 2006, na Congregação para Doutrina da Fé, no Vaticano, ao processo de reabilitação, porém o Papa Francisco foi além. A partir dos estudos realizados pela Equipe de Direito Canônico do Vaticano, foi decidido que a Igreja deveria conceder a reconciliação do padre com a Igreja, permitindo assim que os fiéis realizem sua devoção com a aprovação da Santa Sé.
Dom Fernando, diante da realização de um dos seus maiores sonhos, afirmou que toda a Diocese de Crato foi justificada pela ação do Papa Francisco, e que não houve equivoco em assumirem a opção pastoral em favor das romarias e o acolhimento aos romeiros. “Como Bispo Diocesano dessa Igreja particular, fico feliz por poder receber essa grande graça, em nome do Padre Cícero e de seus romeiros e romeiras, em nome de todos aqueles bispos – dom Quintino, dom Delgado – que alguma vez pediram que a Igreja e Padre Cícero se reconciliassem, em nome de todas as pessoas que queriam ver o Seu Padrinho ser, de novo, acolhido pela Igreja Católica da mesma forma que sempre foi acolhido por seus afilhados!”, disse.
Na Igreja onde foi batizado e realizou a primeira missa, neste ano 2015, ao Padre Cícero foi concedida uma reconciliação histórica mostrando que a misericórdia de Deus está acima das ações humanas.
Reabilitação e Reconciliação
Reabilitação é recuperação de ordens que estavam suspensas. Reconciliação é apagar qualquer oposição a ação do Padre Cícero.
A Diocese de Crato deu entrada ao processo de reabilitação pelo fato do Padre Cícero ter morrido suspenso de ordem, porém como o padre já havia falecido e as punições cessadas, não tinha o que o Papa reabilitar.
De 2006 a 2014 uma equipe de direito canônico do Vaticano estudou como resolver esta questão. Eles chegaram a conclusão de que a Igreja teria que ter uma Reconciliação. “Como a ação do Padre Cícero se tornou crescente mesmo após a sua morte, eles disseram era oportuno a reconciliação da Igreja com o Padre”, disse o chanceler Armando Lopes Rafael.
Em outubro de 2015 o Papa Francisco enviou uma carta reconciliando a Igreja Católica com a herança espiritual do Padre Cícero, porque entendeu que o Padre deu continuidade a obra de divulgação do evangelho que Jesus queria. “Ele se dedicou aos humildes e estes permaneceram fiéis a Igreja Católica, por isso a reconciliação”, disse Armando.
A Reconciliação é mais ampla que a Reabilitação, pois, conforme explica o chanceler, é uma aceitação e reconhecimento dos frutos feitos por meio das romarias e devoção ao padre Cícero, propiciando uma maior aproximação dos romeiros com toda a Igreja Católica.
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Patrícia Silva/ Diocese de Crato