O sonho marcou o encontro de João Bosco com Deus e definiu seu projeto de vida e missão. O Projeto Pessoal de Vida (PPV), mais que uma série de anotações e estratégias, precisa ser uma atitude na qual a vivência com o Senhor torne-se uma luz em nosso caminhar.
Ele passa e chama
Santo Agostinho, no século IV, tinha uma expressão que acredito seja ainda importante para nossos dias: “Tenho medo de não perceber a Deus que passa”. De fato, Deus passa diante de nossos olhos. Talvez sua imagem não seja aquela que vemos nas pinturas da Renascença, olhos azuis e cabelos loiros; mas sim a imagem desfigurada de uma pessoa em condição de rua, a imagem de alguém por quem temos sentimentos de rancor, os olhos entristecidos de quem sofre, as mãos estendidas de um faminto. Ele passa e se manifesta nas teofanias cotidianas.
Assim foi com os primeiros discípulos que estavam consertando as redes (Mt 4,18-20); com Maria e com José envolvidos em seus planos de casamento (Mt 1,18-25; Lc, 1,26-38); com Paulo a caminho de Damasco (Atos 9,1-19); com Natanael debaixo da figueira (Jo 1,46-51); com Zaqueu escondido num galho de árvore (Lc 19, 1-19). Ele surpreende sempre ao passar e não podemos ter medo de encontrá-lo.
Vem e segue-me
O chamado de Jesus não faz acepção de pessoas, pois ele escolhe quem ele quer. Ele não divide os seres humanos em bons e maus, em generosos e egoístas, em mudos e cegos; estas são realidades da nossa condição humana. Nós é que nos rotulamos e criamos muros; enquanto o Senhor constrói pontes. Sua voz ecoa apenas com a expressão vem e segue-me e deixa tudo, sobretudo os bens materiais que nos amarram e não permitem que caminhemos até ele.
Segui-lo é uma atitude de desprendimento. Como fez o cego Bartimeu, que jogou o manto fora, deu um pulo e saiu tateando até Jesus (Mc 10,46-50). Ou ainda como Mateus, o cobrador de impostos, que vivia atrás de uma mesa recebendo as poucas moedas do povo explorado e um dia, sem sequer imaginar, foi chamado por aquele Nazareno que passava (Mt 9, 9-13). Ele deixou as moedas e a mesa, e o seguiu sem saber para onde. A pergunta que fica é: “onde moras?” (Jo 1,38). A sua morada não é um lugar específico, mas as aldeias, as cidades, os caminhos dos tantos encontros. Jesus é um peregrino que chama.
Permaneceram com ele
O que encontraram aquelas pessoas chamadas? Não é fácil encontrar a resposta; porém, há uma pista. O Documento de Aparecida ensina que aqueles primeiros discípulos e discípulas ficaram encantados com os gestos do Senhor. Seus gestos eram de acolhida do pecador e daquele que o buscava na madrugada, como Nicodemos (Jo 3,1-12). Eles se encantaram com suas palavras que penetravam em suas entranhas e eram como bálsamo para curar as feridas da alma; palavras que chamavam à conversão.
Seus milagres os assombravam porque ele tinha o poder de multiplicar o pão e o peixe, de fazer o paraplégico andar, de ordenar aos ventos e ao mar que se acalmassem, de expulsar o demônio que atormentava as pessoas e de ressuscitar os mortos apenas com sua presença (DAP, 21).
Era impossível, então, deixá-lo. A não ser para os que fecharam os ouvidos às suas palavras ao ouvirem o ensinamento do Pão da Vida e ficaram horrorizados com o que ele disse: “Quem não comer da minha carne e não beber do meu sangue não terá parte comigo” (Jo 6, 52-71). Somente os duros de coração não aceitam a sua palavra e se fecham num mundo de obscuridade.
Venha ver aquele que me deu água viva
A samaritana, após o encontro no poço, não teve nenhuma dúvida. Aquele homem era o Messias. O encontro no poço ficou marcado em sua memória afetiva a tal ponto de comunicar sua experiência aos demais (Jo 4, 7-26).
É também assim conosco hoje. Você já encontrou Jesus nos caminhos de sua existência? Ou ele continua sendo uma “boa ideia” sem nenhuma influência em suas formas de juízo, valores e opções?
Encontrar a fonte de água viva é a experiência que precisamos fazer para que o seguimento de Jesus seja a luz em todas as horas de nossa vida.