O Boa Noite

Quarta, 16 Março 2016 14:04 Escrito por  Ir. Maria Léa Ramos Prof. José Augusto Abreu Aguiar
São muitos os recursos educativos e pastorais criados por Dom Bosco. Um deles, o ‘Boa Noite’, surgido em Valdocco no primeiro oratório, é excelente meio para atingir os jovens de um modo eficaz.

Hoje, ainda que não mais chamado de Boa Noite, o recurso conhecido por outros nomes, tais como Bom Dia, Boa Tarde ou Acolhida, é de fundamental importância para a formação moral e espiritual da juventude.

Na época do primeiro oratório, o Boa Noite era a última conversa entre o educador e o educando com a finalidade de deixar no ânimo dos jovens a mais grata e duradoura impressão, era um campo genuinamente pedagógico do sistema preventivo.

Na origem do projeto operativo de Dom Bosco, o Boa Noite era constituído de três elementos fundamentais - a matéria, a forma e a duração. Tais elementos estão, de maneira bem clara, apresentados no tratado escrito por Dom Bosco sobre o sistema preventivo:

“Todas as noites, depois das orações de costume e antes que os alunos vão repousar, o diretor ou quem lhe faz as vezes dirija-lhes, em público, algumas palavras afetuosos [forma], dando-lhes algum aviso relativo ao que se deve fazer ou evitar; procure que o assunto se relacione com fatos ocorridos durante o dia, em casa ou fora [matéria]; mas essas palavras não devem passar de dois ou três minutos [duração]”.

Dom Bosco, ao idealizar a prática do Boa Noite, o fez com bom senso e praticidade. Para ele, a matéria do Boa Noite deveria sempre estar em conexão com os fatos, atuais e oportunos, da realidade juvenil; a forma traduziria uma relação profundamente respeitosa e afetiva, não distante do que é real para que impacte o ânimo juvenil e, por fim, a duração não poderia jamais constituir um longo discurso distante de uma juventude sedenta de movimento e incapaz de longa concentração sem sentir-se entediada.

 

Dimensão pedagógica

O Boa Noite, na sua origem, possuía também uma dimensão pedagógica. Ela era para Dom Bosco “a chave da moralidade, do bom sucesso da educação”. Por meio do Boa Noite era possível trabalhar, com raríssima eficácia, a questão da moralidade, o seu conjunto de normas e princípios de conduta. Para Dom Bosco, os valores morais deveriam ser apresentados às pessoas desde muito cedo e durante toda a juventude para que as mesmas pudessem viver, sem problemas, os processos de personalização e de moralização.

Existem duas passagens, presentes nas Memórias Biográficas de Dom Bosco, que confirmam a função moralizante do Boa Noite.

Na primeira, em um Boa Noite, ele faz uma séria advertência aos meninos do oratório: “Prestem atenção, não quero que se abstenham do mal só por medo de serem vistos por Dom Bosco e descoberto por ele, mas porque serão vistos por aquele Deus que no dia do Juízo lhes pedirá rigorosíssima conta. ” (M.B. VII, 229).

Na segunda, Dom Bosco reflete sobre as faltas que estão relacionadas aos atos de apropriação de objetos alheios: “Todavia como o demônio é muito abusado e poderia enganar qualquer um, recordem-se sempre do vício mais desonesto que existe no mundo. Um que venha ser reconhecido como ladrão, nunca mais perde este nome..., Mas o que mais amedronta é aquela palavra do Espírito Santo: ‘Não possuirão o Reino de Deus’... Sabem quanta coisa pode estar dentro de um olhar? Nem uma palha. Pois bem, assim é o Paraíso. Lá não entra nem mesmo uma palha das coisas dos outros... Atenção, leves faltas, pouco a pouco formam matéria grave. Hoje dois centavos, amanhã uma gravata, depois um caderno, depois um pouco de fruta... rápido se prepara uma conta séria para o tribunal de Deus” (M.B. VI, 353).

Na primeira passagem é possível perceber a motivação sobrenatural da moralidade, motivação invisível, mas real, que é a presença de Deus, muito mais importante e eficaz que a humana. É do “Deus te vê” que nasce o empenho de viver na presença de Deus, a obrigação condicionante da responsabilidade e do remorso e a retidão das intenções na própria conduta.

Na segunda passagem, Dom Bosco faz surgir a força moral da reflexão pessoal sobre valores terrenos e também celestes. A “honra” focaliza bem o terreno da qual a vida cristã não pode prescindir. E, daí, Dom Bosco leva os jovens a realizarem uma reflexão em um momento psicologicamente mais indicado, isto é, no silêncio da noite. Nas duas passagens fica evidente a preocupação de Dom Bosco em “educar os jovens na responsabilidade dos seus próprios atos”.

 

O Boa Noite hoje

Visto que o Boa Noite foi um excelente instrumento nas propostas educativas do tempo de Dom Bosco, podemos nos perguntar como, na atualidade, se faz valer a importância de tal recurso educativo?

Levando em consideração o que ele afirmou certa vez: “Estar com os tempos e lugares”, devemos, por uma questão de reconhecimento, continuar a utilizar do Boa Noite, agora adaptado às realidades contemporâneas, se é nosso desejo orientar o dia dos jovens, encorajá-los para o enfrentamento dos desafios da vida.

Hoje, o Boa Noite, comumente chamado de Acolhida, deve continuar sendo uma tarefa dos assistentes salesianos para que não percam de vista a grande meta a atingir: “Bom cristão e honesto cidadão”.

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Última modificação em Quarta, 16 Março 2016 14:13

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O Boa Noite

Quarta, 16 Março 2016 14:04 Escrito por  Ir. Maria Léa Ramos Prof. José Augusto Abreu Aguiar
São muitos os recursos educativos e pastorais criados por Dom Bosco. Um deles, o ‘Boa Noite’, surgido em Valdocco no primeiro oratório, é excelente meio para atingir os jovens de um modo eficaz.

Hoje, ainda que não mais chamado de Boa Noite, o recurso conhecido por outros nomes, tais como Bom Dia, Boa Tarde ou Acolhida, é de fundamental importância para a formação moral e espiritual da juventude.

Na época do primeiro oratório, o Boa Noite era a última conversa entre o educador e o educando com a finalidade de deixar no ânimo dos jovens a mais grata e duradoura impressão, era um campo genuinamente pedagógico do sistema preventivo.

Na origem do projeto operativo de Dom Bosco, o Boa Noite era constituído de três elementos fundamentais - a matéria, a forma e a duração. Tais elementos estão, de maneira bem clara, apresentados no tratado escrito por Dom Bosco sobre o sistema preventivo:

“Todas as noites, depois das orações de costume e antes que os alunos vão repousar, o diretor ou quem lhe faz as vezes dirija-lhes, em público, algumas palavras afetuosos [forma], dando-lhes algum aviso relativo ao que se deve fazer ou evitar; procure que o assunto se relacione com fatos ocorridos durante o dia, em casa ou fora [matéria]; mas essas palavras não devem passar de dois ou três minutos [duração]”.

Dom Bosco, ao idealizar a prática do Boa Noite, o fez com bom senso e praticidade. Para ele, a matéria do Boa Noite deveria sempre estar em conexão com os fatos, atuais e oportunos, da realidade juvenil; a forma traduziria uma relação profundamente respeitosa e afetiva, não distante do que é real para que impacte o ânimo juvenil e, por fim, a duração não poderia jamais constituir um longo discurso distante de uma juventude sedenta de movimento e incapaz de longa concentração sem sentir-se entediada.

 

Dimensão pedagógica

O Boa Noite, na sua origem, possuía também uma dimensão pedagógica. Ela era para Dom Bosco “a chave da moralidade, do bom sucesso da educação”. Por meio do Boa Noite era possível trabalhar, com raríssima eficácia, a questão da moralidade, o seu conjunto de normas e princípios de conduta. Para Dom Bosco, os valores morais deveriam ser apresentados às pessoas desde muito cedo e durante toda a juventude para que as mesmas pudessem viver, sem problemas, os processos de personalização e de moralização.

Existem duas passagens, presentes nas Memórias Biográficas de Dom Bosco, que confirmam a função moralizante do Boa Noite.

Na primeira, em um Boa Noite, ele faz uma séria advertência aos meninos do oratório: “Prestem atenção, não quero que se abstenham do mal só por medo de serem vistos por Dom Bosco e descoberto por ele, mas porque serão vistos por aquele Deus que no dia do Juízo lhes pedirá rigorosíssima conta. ” (M.B. VII, 229).

Na segunda, Dom Bosco reflete sobre as faltas que estão relacionadas aos atos de apropriação de objetos alheios: “Todavia como o demônio é muito abusado e poderia enganar qualquer um, recordem-se sempre do vício mais desonesto que existe no mundo. Um que venha ser reconhecido como ladrão, nunca mais perde este nome..., Mas o que mais amedronta é aquela palavra do Espírito Santo: ‘Não possuirão o Reino de Deus’... Sabem quanta coisa pode estar dentro de um olhar? Nem uma palha. Pois bem, assim é o Paraíso. Lá não entra nem mesmo uma palha das coisas dos outros... Atenção, leves faltas, pouco a pouco formam matéria grave. Hoje dois centavos, amanhã uma gravata, depois um caderno, depois um pouco de fruta... rápido se prepara uma conta séria para o tribunal de Deus” (M.B. VI, 353).

Na primeira passagem é possível perceber a motivação sobrenatural da moralidade, motivação invisível, mas real, que é a presença de Deus, muito mais importante e eficaz que a humana. É do “Deus te vê” que nasce o empenho de viver na presença de Deus, a obrigação condicionante da responsabilidade e do remorso e a retidão das intenções na própria conduta.

Na segunda passagem, Dom Bosco faz surgir a força moral da reflexão pessoal sobre valores terrenos e também celestes. A “honra” focaliza bem o terreno da qual a vida cristã não pode prescindir. E, daí, Dom Bosco leva os jovens a realizarem uma reflexão em um momento psicologicamente mais indicado, isto é, no silêncio da noite. Nas duas passagens fica evidente a preocupação de Dom Bosco em “educar os jovens na responsabilidade dos seus próprios atos”.

 

O Boa Noite hoje

Visto que o Boa Noite foi um excelente instrumento nas propostas educativas do tempo de Dom Bosco, podemos nos perguntar como, na atualidade, se faz valer a importância de tal recurso educativo?

Levando em consideração o que ele afirmou certa vez: “Estar com os tempos e lugares”, devemos, por uma questão de reconhecimento, continuar a utilizar do Boa Noite, agora adaptado às realidades contemporâneas, se é nosso desejo orientar o dia dos jovens, encorajá-los para o enfrentamento dos desafios da vida.

Hoje, o Boa Noite, comumente chamado de Acolhida, deve continuar sendo uma tarefa dos assistentes salesianos para que não percam de vista a grande meta a atingir: “Bom cristão e honesto cidadão”.

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