Elementos do PPV
Um PPV existe para dar sentido à própria vida. Em uma época marcada pelo niilismo e a falta de sentido, é importante saber colocar ordem na própria vida em vista de uma realização, sem cair na tentação do presentismo. Em um contexto social profundamente subjetivo e relativista, somos tentados a viver somente do que é prazeroso, do que atrai agora, da aparência, dos resultados; falta a referência ao passado e o planejamento do futuro. Tudo é muito incerto e descartável.
Quando temos um PPV começamos a entender que não somos os únicos no mundo, que precisamos interagir com outras pessoas; enfim, precisamos sempre dos outros. O único inimigo de nossos sonhos é a liberdade egoísta autodestruidora. Neste sentido, o PPV favorecerá a reflexão sobre a própria identidade que, aos poucos, se constrói até a transcendência, ou seja: ir além de nós mesmos para sermos felizes.
Entender a vocação: apelo de Deus
Vocação, por sua vez, nasce do diálogo com alguém, e este Outro, para nós cristãos, chama-se Deus. Com Ele estabelecemos um diálogo construtivo na busca de fazer não a nossa vontade, o que queremos e com o que sonhamos, mas o que Ele realmente quer. Neste sentido, a vocação vai na contramão dos nossos desejos, mente e vontade, dos planos pessoais. E direi ainda, a vocação rompe o esquema humano de nossas pretensões porque Deus entra sem pedir licença e revela o que ele quer num diálogo que penetra as entranhas, chega até a medula e nos coloca do avesso porque não corresponde ao que pretendemos. Foi assim com grandes personagens bíblicos como Moisés, Abraão, Maria, Paulo e outros, inclusive Dom Bosco. A iniciativa vocacional é de Deus, trata-se de uma nova criação. Quando a pessoa chamada se coloca como servo de Deus, então, acontece uma obra criadora (Is 49,19).
A intrínseca relação PPV e vocação
Então, qual é a relação possível entre PPV e vocação? O projeto pessoal de vida nos ajuda no autoconhecimento, a verificar tendências, talentos; a vocação provoca a mudança interior, a dúvida salutar para que saibamos entender por mediações humanas e sinais o que Deus quer de nós. A vocação nos capacita para realizar o projeto de salvação que Ele quer. O projeto é, ainda, racional; a vocação é muito mais afetiva porque irrompe no nosso cotidiano, muda os rumos de nossas vidas, revela o que está escondido e nos faz investir nos dons que recebemos, exatamente como a parábola dos talentos (Mt 25,14-30). Deus nos chama e nos dá os dons. Cabe à nossa genialidade desenvolvê-los e nunca enterrá-los.
O fundamental na vocação – chamado – é procurar entender a missão que nos é revelada. Na medida em que respondemos com generosidade aos apelos de Deus, saberemos inserir os elementos do PPV no processo de crescimento, escuta e ação, inclusive modificando-o quando é necessário. O erro fatal é quando o PPV se torna vocação e a vocação, um projeto. Ou seja, quando não aceitamos aquilo que nos modifica por dentro e ficamos com as estratégias fixas do PPV.
É bom considerar que Deus sempre exige de nós. Quanto mais nos aproximamos do seu chamado, mais ele exige e aponta o campo da missão e não permite que nos acomodemos. Deus não pede o menos possível, ele quer sempre o mais aparentemente impossível porque para Ele nada é impossível (Lc 1,37). Quando respondemos, Ele se afasta para que a Palavra que foi anunciada dê frutos.
Há dois elementos fundamentais na vocação: a oração e a confiança. Quem entra no próprio quarto interior, fecha as portas e janelas para não ser perturbado e se coloca desarmado diante de Deus, saberá desfrutar o gosto da vocação como um projeto divino, realizado em nossa humanidade (Mt 6,6). Assim, o coração se abre porque brota da fé. A fé gera confiança. Uma frase resume bem tudo que foi dito: Dá a vida a Deus e encontrarás Deus na tua vida!