Pois bem, vamos à nossa reflexão. Educar é um conjunto de experiências. Há que se pensar na experiência do animador vocacional – contexto – e na experiência do animado – intertexto. Intensifica-se assim um processo de comunicação de valores. É uma via de mão dupla, estreita até, mas real. Para educar não basta apenas falar, conteúdos, fórmulas; é preciso experimentar o que se fala – coração, para ter credibilidade diante do educando. O animador vocacional é todo agente de evangelização: leigo/a, padre, bispo, religioso/a, a comunidade religiosa, mas, sobretudo, a comunidade cristã.
Toda aprendizagem é embriogênese, quer dizer, acontece dentro de uma realidade pessoal e, somente assim, torna-se conhecimento – internalização. A pessoa que é animada tem informações e quando recebe novas pérolas pelo animador faz um processo de reconhecimento até assimilar tornando-as significativas. Ou seja, o conhecimento anterior e o novo se absorvem gerando um novo conhecimento. Portanto, o que o animado já sabe é essencial para que aconteça a aprendizagem. Em outras palavras: uma pessoa que se coloca dentro de um processo de discernimento vocacional não começa do zero, mas a partir de suas buscas, seus desejos, sonhos e vivências de fé, tudo isso é importante para que haja realmente uma atitude de escuta e discernimento.
Novas linguagens da comunicação
Nesse sentido, a indústria cultural atual – digital – influencia tremendamente. Ela está marcada por dois elementos de encantamento: a TV e a internet. Diante da TV muitas pessoas passam a maior parte do tempo. Isso significa que as informações chegam muito mais pela TV globalizada do que pela interação dos encontros vocacionais e orientação pessoal. Como trabalhar esse desafio? A animação vocacional precisa desvendar as novas linguagens da comunicação.
Estimular o animado a garimpar é a chave da mina sempre a partir da experiência. Um animador vocacional que não pesquisa e não envolve os ouvintes na arte de pesquisar – garimpar – não os envolverá na busca do conhecimento porque na era do click o animador deve ser (é) um mediático. O animado, por sua vez, é um poço de perguntas carente de respostas. Quando encontra um animador que fala coerentemente com o corpo, desenvolve o processo de aprendizagem.
Considero ilustrativa a propaganda em que aparecem o pão sendo tirado do forno e a frase: “pena que a TV não possa ainda transmitir o cheiro do pão”. No entanto, a gente tem a sensação do cheiro porque já o temos na experiência e corremos para comer um pedaço de pão. A animação vocacional de sucesso precisa suscitar esta sensação, desejo de mente e vontade, para fazer o ouvinte – animado – correr na busca da Palavra para saboreá-la e se alimentar dela. Sem isso, toda e qualquer proposta vocacional não chegará a propor a vida como sentido e radicalidade no seguimento do Senhor.
O animador vocacional do século XXI não pode ser um mero informante, mas a forma corporal da cultura vocacional. Isso significa saber desenvolver o EU GERENTE. Criativo, ousado, proativo e garimpeiro, capaz de suscitar no animado o desejo de conhecer, de buscar as respostas e não apenas formular perguntas. O método socrático – tirar de dentro – torna-se atual na era digital. Saber aprender a partir da conciliação entre o que já se sabe e o novo na diversidade do conhecimento.
Estamos em plena era da diversidade cultural. O animador com EU RÍGIDO fará muitas perguntas, informará, no entanto, jamais será um criador. Não saberá ajudar o educando a mergulhar na cultura porque para proporcionar a busca do conhecimento o animador necessariamente deverá ser um provocador, iluminador, aquele que fala a partir do coração e não do discurso. Quem discursa sem experiência não convence, não cativa, não estimula a busca do conhecimento. Ao contrário gera um EU SABOTADOR que desestimula, mata a criatividade, enterra os sonhos e castra o desejo.