Três estolas, três histórias maravilhosas

Quarta, 03 Julho 2019 14:26 Escrito por 
Em sua mensagem aos leitores do Boletim Salesiano, o Reitor-mor, padre Ángel Fernández Artime, afirma: “Devemos recordar o valor incalculável de todo o encontro humano, breve ou duradouro, profundo ou rápido que seja. Todo o encontro deixa um perfume particular na nossa alma. Vivemos cada encontro humano de modo especial. Como os três que vou narrar.”    

Queridos amigos e leitores do Boletim Salesiano, é com alegria que me encontro de novo com vocês neste artigo mensal que escrevo para a revista fundada e tão amada por Dom Bosco. Através do Boletim Salesiano, Dom Bosco quer dar a conhecer o bem que se faz nas casas salesianas, sobretudo nas missões salesianas e, como normalmente fazia ele próprio, estendia a mão com imensa confiança a quem encontrava, na esperança de que muitas pessoas o ajudassem a realizar a sua missão entre os rapazes e as famílias mais pobres do mundo.

 

Quero recordar brevemente três simpáticas histórias que vivi durante as minhas visitas aos salesianos do mundo. A protagonista absoluta de todas elas é uma estola.

 

A estola faz parte da indumentária do sacerdote e do diácono para as celebrações litúrgicas. É aquela tira de tecido da cor litúrgica do dia que o sacerdote coloca sobre os ombros e deixa cair sobre o peito. É o distintivo da dignidade e da consagração do sacerdote, recorda o jugo leve de Nosso Senhor, as obrigações do estado sacerdotal e simboliza de algum modo as ovelhas que o bom pastor leva aos ombros.

 

Nestes meses deram-me três estolas que têm para mim um significado afetivo especial.

 

A estola de uma mulher anônima

A primeira estola me foi oferecida durante a festa de Maria Auxiliadora, no dia 24 de maio, em Valdocco, na Itália. É uma bela estola, confeccionada à mão com um estupendo fio de ouro, bordada em centenas de horas de trabalho. Uma senhora devota de Maria Auxiliadora e de Dom Bosco desejava que a usasse na Eucaristia e na procissão de Maria Auxiliadora daquela noite. Havia sido bordada com sacrifício, em simplicidade, com muita generosidade e muito amor a Nossa Senhora. Celebrei a Eucaristia com aquela estola, rezei na procissão com aquela estola e ofereci toda a oração pelas milhares e milhares de pessoas que ali se encontravam, e em particular precisamente por aquela senhora (que não conhecia, porque o presente havia sido feito de forma anônima), cujo coração transbordava de amor a Nossa Senhora Auxiliadora e de fé no Senhor.

 

A estola dos jovens debaixo das bombas

A segunda estola recebi-a em Damasco, na Síria, numa tarde em que centenas de rapazes e moças estavam no oratório. Naquela tarde celebramos a Eucaristia com mais de cem jovens animadores universitários. Acreditávamos ardentemente que a paz estava próxima e, no fim da missa, devíamos soltar uma pomba branca para dizer a todos que se podia exultar pela paz. Mas, perto de onde nós estávamos, explodiram violentos tiros de morteiro.

 

Pois bem, naquela tarde aqueles jovens animadores maravilhosos, com um olhar profundo e uma fé realmente vivida, ofereceram-me uma bela estola na qual está bordado um letreiro em árabe que diz: “Recorda-te de nós sempre que celebrares a Eucaristia”.

 

A estola dos jovens presos

A terceira estola eu recebi há um mês, durante a minha visita ao Brasil, no Mato Grosso. No fim de um encontro com os jovens, um educador ofereceu-me uma estola que tem escritos com tinta indelével os 56 nomes e apelidos dos rapazes que estão na casa salesiana. Não são rapazes com uma história qualquer. São rapazes condenados àquilo a que antigamente se chamava prisão de menores, são rapazes privados da liberdade, devido a algum delito e que depois do processo nos foram confiados.

 

Aqueles rapazes não podiam ir ao encontro, mas enviaram-me a estola com os seus nomes, pedindo-me que não me esquecesse deles e prometendo que eles também se recordariam de mim. Posso assegurar que, todos os dias, me recordo deles na Eucaristia.

 

Creio

Creio sinceramente na sintonia e na comunhão dos corações. Creio convictamente na oração, especialmente na oração de uns pelos outros. É uma expressão verdadeira de amor rezar pelas outras pessoas, conhecidas ou desconhecidas, mas que vêm habitar no nosso coração no momento em que as recordamos. Nestes anos compreendi cada vez melhor o motivo da insistência do Papa Francisco ao pedir que se reze por ele.

 

Por isso quero deixar-vos o testemunho do grande valor dessas três estolas.

 

Quero gravar na minha memória e na de vocês o valor incalculável de todo o encontro humano, breve ou duradouro, profundo ou rápido que seja. Todo o encontro deixa um perfume especial na nossa alma. Devemos fazer com que cada encontro humano seja especial. Assim a nossa vida se enriquecerá. As pessoas são como as cordas de um violão, cada uma dá uma nota diferente, mas juntas podem produzir harmonias inesquecíveis.

 

Quero recordar como a fé consegue mover corações e vontades. Constato isso por toda a parte nas minhas viagens pelo mundo salesiano. Cada vez compreendo melhor aquilo que Dom Bosco escreveu aos rapazes de Valdocco, quando estava longe deles, e lhes chamou “ladrões”. Sim, assim os definiu: “Sois ladrões…” e depois acrescentou “porque me roubastes o coração”.

 

É belo ouvir que o coração pode ser roubado de um modo tão amável e cheio de afeto, quando se busca só o bem das pessoas. Abençoo a todos vocês e prometo, na próxima vez que usar uma dessas estolas, recordar-me também de vocês, que partilharam comigo o seu significado profundo.

 

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Última modificação em Quinta, 04 Julho 2019 14:35

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Três estolas, três histórias maravilhosas

Quarta, 03 Julho 2019 14:26 Escrito por 
Em sua mensagem aos leitores do Boletim Salesiano, o Reitor-mor, padre Ángel Fernández Artime, afirma: “Devemos recordar o valor incalculável de todo o encontro humano, breve ou duradouro, profundo ou rápido que seja. Todo o encontro deixa um perfume particular na nossa alma. Vivemos cada encontro humano de modo especial. Como os três que vou narrar.”    

Queridos amigos e leitores do Boletim Salesiano, é com alegria que me encontro de novo com vocês neste artigo mensal que escrevo para a revista fundada e tão amada por Dom Bosco. Através do Boletim Salesiano, Dom Bosco quer dar a conhecer o bem que se faz nas casas salesianas, sobretudo nas missões salesianas e, como normalmente fazia ele próprio, estendia a mão com imensa confiança a quem encontrava, na esperança de que muitas pessoas o ajudassem a realizar a sua missão entre os rapazes e as famílias mais pobres do mundo.

 

Quero recordar brevemente três simpáticas histórias que vivi durante as minhas visitas aos salesianos do mundo. A protagonista absoluta de todas elas é uma estola.

 

A estola faz parte da indumentária do sacerdote e do diácono para as celebrações litúrgicas. É aquela tira de tecido da cor litúrgica do dia que o sacerdote coloca sobre os ombros e deixa cair sobre o peito. É o distintivo da dignidade e da consagração do sacerdote, recorda o jugo leve de Nosso Senhor, as obrigações do estado sacerdotal e simboliza de algum modo as ovelhas que o bom pastor leva aos ombros.

 

Nestes meses deram-me três estolas que têm para mim um significado afetivo especial.

 

A estola de uma mulher anônima

A primeira estola me foi oferecida durante a festa de Maria Auxiliadora, no dia 24 de maio, em Valdocco, na Itália. É uma bela estola, confeccionada à mão com um estupendo fio de ouro, bordada em centenas de horas de trabalho. Uma senhora devota de Maria Auxiliadora e de Dom Bosco desejava que a usasse na Eucaristia e na procissão de Maria Auxiliadora daquela noite. Havia sido bordada com sacrifício, em simplicidade, com muita generosidade e muito amor a Nossa Senhora. Celebrei a Eucaristia com aquela estola, rezei na procissão com aquela estola e ofereci toda a oração pelas milhares e milhares de pessoas que ali se encontravam, e em particular precisamente por aquela senhora (que não conhecia, porque o presente havia sido feito de forma anônima), cujo coração transbordava de amor a Nossa Senhora Auxiliadora e de fé no Senhor.

 

A estola dos jovens debaixo das bombas

A segunda estola recebi-a em Damasco, na Síria, numa tarde em que centenas de rapazes e moças estavam no oratório. Naquela tarde celebramos a Eucaristia com mais de cem jovens animadores universitários. Acreditávamos ardentemente que a paz estava próxima e, no fim da missa, devíamos soltar uma pomba branca para dizer a todos que se podia exultar pela paz. Mas, perto de onde nós estávamos, explodiram violentos tiros de morteiro.

 

Pois bem, naquela tarde aqueles jovens animadores maravilhosos, com um olhar profundo e uma fé realmente vivida, ofereceram-me uma bela estola na qual está bordado um letreiro em árabe que diz: “Recorda-te de nós sempre que celebrares a Eucaristia”.

 

A estola dos jovens presos

A terceira estola eu recebi há um mês, durante a minha visita ao Brasil, no Mato Grosso. No fim de um encontro com os jovens, um educador ofereceu-me uma estola que tem escritos com tinta indelével os 56 nomes e apelidos dos rapazes que estão na casa salesiana. Não são rapazes com uma história qualquer. São rapazes condenados àquilo a que antigamente se chamava prisão de menores, são rapazes privados da liberdade, devido a algum delito e que depois do processo nos foram confiados.

 

Aqueles rapazes não podiam ir ao encontro, mas enviaram-me a estola com os seus nomes, pedindo-me que não me esquecesse deles e prometendo que eles também se recordariam de mim. Posso assegurar que, todos os dias, me recordo deles na Eucaristia.

 

Creio

Creio sinceramente na sintonia e na comunhão dos corações. Creio convictamente na oração, especialmente na oração de uns pelos outros. É uma expressão verdadeira de amor rezar pelas outras pessoas, conhecidas ou desconhecidas, mas que vêm habitar no nosso coração no momento em que as recordamos. Nestes anos compreendi cada vez melhor o motivo da insistência do Papa Francisco ao pedir que se reze por ele.

 

Por isso quero deixar-vos o testemunho do grande valor dessas três estolas.

 

Quero gravar na minha memória e na de vocês o valor incalculável de todo o encontro humano, breve ou duradouro, profundo ou rápido que seja. Todo o encontro deixa um perfume especial na nossa alma. Devemos fazer com que cada encontro humano seja especial. Assim a nossa vida se enriquecerá. As pessoas são como as cordas de um violão, cada uma dá uma nota diferente, mas juntas podem produzir harmonias inesquecíveis.

 

Quero recordar como a fé consegue mover corações e vontades. Constato isso por toda a parte nas minhas viagens pelo mundo salesiano. Cada vez compreendo melhor aquilo que Dom Bosco escreveu aos rapazes de Valdocco, quando estava longe deles, e lhes chamou “ladrões”. Sim, assim os definiu: “Sois ladrões…” e depois acrescentou “porque me roubastes o coração”.

 

É belo ouvir que o coração pode ser roubado de um modo tão amável e cheio de afeto, quando se busca só o bem das pessoas. Abençoo a todos vocês e prometo, na próxima vez que usar uma dessas estolas, recordar-me também de vocês, que partilharam comigo o seu significado profundo.

 

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