Corações e mentes na ação missionária

Sábado, 16 Janeiro 2016 21:36 Escrito por  Fládima Christofari
Conheça as histórias de irmão Adalbert Heide e dos padres Bartolomeu Giaccaria e Gonçalo Ochoa, missionários salesianos entre os Xavante e os Bororo em Mato Grosso.

A Missão Salesiana de Mato Grosso (MSMT) é missionária desde as suas origens. Atualmente, mantém quatro presenças missionárias entre as etnias Bororo e Xavante, em Mato Grosso. São as comunidades Sagrado Coração de Meruri, São José de Sangradouro, São Marcos e a Casa Filipi Rinaldi, em Nova Xavantina. Dezesseis salesianos – entre padres e irmãos (chamados carinhosamente de mestres) – desenvolvem atividades de cidadania, educação, evangelização e de sustentabilidade, em sintonia com essas culturas.

Desta presença constante junto aos indígenas fazem parte, com destaque, missionários estrangeiros que há décadas desenvolvem trabalhos e pesquisas. São salesianos que colaboraram para o desenvolvimento da região e a preservação das culturas indígenas. Em reconhecimento à relevância do trabalho realizado por esses missionários, três salesianos receberam, no ano passado, o título de “Doutor Honoris Causa” pela Universidade Católica Dom Bosco (UCDB). Como parte das comemorações pelo Bicentenário do Nascimento de Dom Bosco, em 12 de agosto de 2015 foram agraciados com o título o salesiano coadjutor Adalbert Heide e os padres Bartolomeo Giaccaria e Gonçalo Ochoa. Conheça a seguir um pouco mais da história deles.

 

Mestre Adalbert Heide: sonho missionário

Sistemático, disciplinado, organizado e com grande curiosidade científica, o irmão (ou mestre) Adalbert Heide é um alemão apaixonado pela cultura indígena. Sua atuação é tão expressiva que foi personagem de um vídeo documentário premiado no Brasil – O Mestre e o Divino – dirigido por Tiago Campos.

Mestre Adalbert nasceu em 1934, em Ratibor, cidade que pertencia à Alemanha e que, depois da guerra, foi incorporada ao território da Polônia. Logo após a sua profissão religiosa assumiu a vocação missionária no Brasil. Aos 23 anos, realizou o sonho de entrar em uma missão indígena. Foi em Sangradouro, em meio ao povo Xavante, que ele passou a fazer o que realmente sonhava.

O mestre se adaptou rápido à cultura, inclusive no domínio total do idioma xavante. Tanto é que entre as atribuições assumidas por ele estavam as de intérprete, professor da língua xavante e de cultura religiosa, escritor e tradutor em xavante da missa e de muitos textos da Bíblia. Um dos trabalhos mais reconhecidos é a autoria da escrita e numeração xavante e a coautoria dos livros Xavante povo autêntico e Jerônimo Xavante sonha: contos e sonhos. Mestre Adalbert também imortalizou a cultura da região com as filmagens de eventos históricos das missões em São Marcos, Meruri e Sangradouro.

 

Pe. Bartolomeo Giaccaria: paróquia itinerante

Aos 82 anos, o sacerdote salesiano Bartolomeo Giaccaria, natural de Chiusa Pesio (Itália), continua a percorrer as missões salesianas em estradas precárias para anunciar o Evangelho. Desde 1961, ele leva o amor a Jesus Cristo e a devoção a Dom Bosco aos Bororo e Xavante por meio da itinerância missionária. Todos os dias, dirigindo o seu carro, vai de aldeia em aldeia partilhando com crianças, jovens e adultos as dores e esperanças, os desafios e as conquistas nas comunidades São Marcos, Sangradouro e Nova Xavantina.

Foi nas aldeias que o sacerdote coletou elementos linguísticos e gramaticais para redigir um Dicionário xavante-português. A edição provisória e reduzida da obra foi publicada com mais de mil verbetes, em 1957. Depois, seguiu com as publicações da Cartilha bilíngue e do Catecismo bilíngue (xavante – português). Suas obras literárias foram reconhecidas internacionalmente: Auwe Uptabi – Uomini Veri: Vita Xavante e Jerônimo Xavante sonha: contos e sonhosforam traduzidos em espanhol e inglês.

 

Pe. Gonçalo Ochoa: imersão cultural

Padre Gonçalo Alberto Ochoa Camargo tem 85 anos e há 48 trabalha na Aldeia Meruri, da etnia Bororo. É autor de vários livros, entre eles uma das partes da Enciclopédia Bororo, A História Mítica Bororo, Lendas Bororo, Novo Testamento em Língua Bororo e de leituras bíblicas usadas em missas e sacramentos.

As dificuldades do idioma e o aprendizado da nova cultura foram transpassados pela sua força de vontade em ser missionário entre os indígenas. Sua imersão na cultura e nos ritos do povo indígena teve início logo que ingressou na inspetoria. Seus estudos em metodologia linguística e tradução semântica, entre outros cursos, ajudaram-lhe a aprimorar as habilidades como escritor e tradutor.

Muitas vezes durante o dia, padre Ochoa sai lentamente do seu quarto simples, com seus livros, e caminha na direção da aldeia, para visitar as famílias, rezar com elas, levar conforto e afeto de coração missionário. Padre Ochoa sempre viveu a mística do estudo e da ação, do rezar a praxis, de ser caminheiro com o povo Bororo, de respeitar a cultura, compreendê-la e amá-la para então evangelizar.

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Corações e mentes na ação missionária

Sábado, 16 Janeiro 2016 21:36 Escrito por  Fládima Christofari
Conheça as histórias de irmão Adalbert Heide e dos padres Bartolomeu Giaccaria e Gonçalo Ochoa, missionários salesianos entre os Xavante e os Bororo em Mato Grosso.

A Missão Salesiana de Mato Grosso (MSMT) é missionária desde as suas origens. Atualmente, mantém quatro presenças missionárias entre as etnias Bororo e Xavante, em Mato Grosso. São as comunidades Sagrado Coração de Meruri, São José de Sangradouro, São Marcos e a Casa Filipi Rinaldi, em Nova Xavantina. Dezesseis salesianos – entre padres e irmãos (chamados carinhosamente de mestres) – desenvolvem atividades de cidadania, educação, evangelização e de sustentabilidade, em sintonia com essas culturas.

Desta presença constante junto aos indígenas fazem parte, com destaque, missionários estrangeiros que há décadas desenvolvem trabalhos e pesquisas. São salesianos que colaboraram para o desenvolvimento da região e a preservação das culturas indígenas. Em reconhecimento à relevância do trabalho realizado por esses missionários, três salesianos receberam, no ano passado, o título de “Doutor Honoris Causa” pela Universidade Católica Dom Bosco (UCDB). Como parte das comemorações pelo Bicentenário do Nascimento de Dom Bosco, em 12 de agosto de 2015 foram agraciados com o título o salesiano coadjutor Adalbert Heide e os padres Bartolomeo Giaccaria e Gonçalo Ochoa. Conheça a seguir um pouco mais da história deles.

 

Mestre Adalbert Heide: sonho missionário

Sistemático, disciplinado, organizado e com grande curiosidade científica, o irmão (ou mestre) Adalbert Heide é um alemão apaixonado pela cultura indígena. Sua atuação é tão expressiva que foi personagem de um vídeo documentário premiado no Brasil – O Mestre e o Divino – dirigido por Tiago Campos.

Mestre Adalbert nasceu em 1934, em Ratibor, cidade que pertencia à Alemanha e que, depois da guerra, foi incorporada ao território da Polônia. Logo após a sua profissão religiosa assumiu a vocação missionária no Brasil. Aos 23 anos, realizou o sonho de entrar em uma missão indígena. Foi em Sangradouro, em meio ao povo Xavante, que ele passou a fazer o que realmente sonhava.

O mestre se adaptou rápido à cultura, inclusive no domínio total do idioma xavante. Tanto é que entre as atribuições assumidas por ele estavam as de intérprete, professor da língua xavante e de cultura religiosa, escritor e tradutor em xavante da missa e de muitos textos da Bíblia. Um dos trabalhos mais reconhecidos é a autoria da escrita e numeração xavante e a coautoria dos livros Xavante povo autêntico e Jerônimo Xavante sonha: contos e sonhos. Mestre Adalbert também imortalizou a cultura da região com as filmagens de eventos históricos das missões em São Marcos, Meruri e Sangradouro.

 

Pe. Bartolomeo Giaccaria: paróquia itinerante

Aos 82 anos, o sacerdote salesiano Bartolomeo Giaccaria, natural de Chiusa Pesio (Itália), continua a percorrer as missões salesianas em estradas precárias para anunciar o Evangelho. Desde 1961, ele leva o amor a Jesus Cristo e a devoção a Dom Bosco aos Bororo e Xavante por meio da itinerância missionária. Todos os dias, dirigindo o seu carro, vai de aldeia em aldeia partilhando com crianças, jovens e adultos as dores e esperanças, os desafios e as conquistas nas comunidades São Marcos, Sangradouro e Nova Xavantina.

Foi nas aldeias que o sacerdote coletou elementos linguísticos e gramaticais para redigir um Dicionário xavante-português. A edição provisória e reduzida da obra foi publicada com mais de mil verbetes, em 1957. Depois, seguiu com as publicações da Cartilha bilíngue e do Catecismo bilíngue (xavante – português). Suas obras literárias foram reconhecidas internacionalmente: Auwe Uptabi – Uomini Veri: Vita Xavante e Jerônimo Xavante sonha: contos e sonhosforam traduzidos em espanhol e inglês.

 

Pe. Gonçalo Ochoa: imersão cultural

Padre Gonçalo Alberto Ochoa Camargo tem 85 anos e há 48 trabalha na Aldeia Meruri, da etnia Bororo. É autor de vários livros, entre eles uma das partes da Enciclopédia Bororo, A História Mítica Bororo, Lendas Bororo, Novo Testamento em Língua Bororo e de leituras bíblicas usadas em missas e sacramentos.

As dificuldades do idioma e o aprendizado da nova cultura foram transpassados pela sua força de vontade em ser missionário entre os indígenas. Sua imersão na cultura e nos ritos do povo indígena teve início logo que ingressou na inspetoria. Seus estudos em metodologia linguística e tradução semântica, entre outros cursos, ajudaram-lhe a aprimorar as habilidades como escritor e tradutor.

Muitas vezes durante o dia, padre Ochoa sai lentamente do seu quarto simples, com seus livros, e caminha na direção da aldeia, para visitar as famílias, rezar com elas, levar conforto e afeto de coração missionário. Padre Ochoa sempre viveu a mística do estudo e da ação, do rezar a praxis, de ser caminheiro com o povo Bororo, de respeitar a cultura, compreendê-la e amá-la para então evangelizar.

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