A tríade salesiana
Um pátio, uma igreja, uma escola: a tríade essencial da casa salesiana estava viva e era eficaz desde os inícios.
A experiência da "casa anexa ao Oratório de São Francisco de Sales" transformou o Oratório festivo de matriz romana (S. Filipe Neri) e lombarda (S. Carlos Borromeo), nos quais Dom Bosco se inspirara, numa realidade educativa muito mais complexa e articulada, onde a ação pastoral e catequética, integrada pelas expressões lúdicas e expressivas, é potenciada por uma contribuição formativa integral, feita de educação moral e cívica, instrução, formação profissional, acolhida e beneficência, experiência de vida comunitária profundamente envolvente, tensão social e missionária. Surgiu daí o modelo de um ambiente e de uma comunidade educativa cristã totalmente nova, adequada às exigências dos tempos e dos novos jovens, capaz de fecunda inserção nos mais diversos ambientes geográficos e culturais, das grandes metrópoles e dos pequenos centros.
Entretanto, o carisma salesiano, que encontra no Oratório festivo a sua experiência original e o seu paradigma (ver as Memórias do Oratório), pôde realmente expandir-se no mundo todo e produzir frutos educativos e formativos tais que incidiram nas realidades sociais e eclesiais, graças ao seu feliz enxerto no colégio e na escola católica tradicional, por ele profundamente renovados, e graças às escolas profissionais e técnicas segundo o método de Dom Bosco.
O paradigma imprescindível
O Oratório festivo continuou a ser sempre a atividade mais cara ao coração de Dom Bosco, a mais vigorosa e dinâmica das suas intuições, a mais próxima do sentimento popular e do gosto dos jovens. Todas as demais obras salesianas, para poderem manter a própria vivacidade e inspiração pedagógica, sempre precisaram modelar-se na experiência inicial, que é o segredo da sua vitalidade.
O Oratório inspirou-as, sobretudo em relação aos destinatários privilegiados (os filhos do povo); ao tipo de relação educativa mirada à conquista da confiança; à espiritualidade e ao zelo que deve alimentar o educador (que não pode ser apenas um bom profissional da didática ou da pastoral); ao cuidado com o pátio como lugar de encontro educativo; à preponderante "festiva" e lúdica, bem calibrada com a religiosa, formativa e vocacional.
Depois, há também a conotação popular do Oratório, a preferência pelos meninos mais pobres e "em situação de risco", unida à sua vocação missionária e social (chegar se possível, a todos os jovens de um território, atraí-los e conquistá-los para "transformá-los"). O Oratório, que se distingue dos oratórios paroquiais e dos locais de recreação de qualquer tipo – e postula a presença de uma comunidade salesiana como coração pulsante e um envolvimento cooperativo em vários níveis bem coordenados, com a prevalência de auxiliares jovens (como educadores, assistentes, catequistas, "organizadores da recreação"... ou "animadores") –, permaneceu sempre como modelo, pedra de toque e estímulo crítico para os salesianos dos colégios, das escolas técnicas, das missões e das paróquias.
À conquista do mundo
Com a fundação da Sociedade Salesiana (uma família de consagrados à educação cristã dos jovens) o carisma oratoriano pôde expandir-se e exprimir-se em realidades educativas e pastorais formalmente diversas daquela do Oratório festivo das origens. Nesse esforço de repensamento e retradução operativa nem sempre se obteve pleno sucesso, mas fundamentalmente resultou um processo histórico fecundo. Baste pensar que o "sistema preventivo" na formulação dada por Dom Bosco em 1877, é a tentativa reflexa de reafirmar o modelo educativo oratoriano em função de uma "casa de educação" clássica.
Enfim, justamente as germinações sucessivas à experiência de Valdocco entre 1846 e 1861 (ano da abertura da casa de Mirabello dirigida pelo padre Rua) tornam-se estímulo eficaz e fecundo, providencial, para dar ao carisma a oportunidade de articular-se, reforçar-se e equipar-se para a sua difusão no mundo inteiro. Além de Dom Bosco, foi o jovem padre Rua o artífice genial dessa retradução do modelo oratoriano em chave colegial, retradução que continuará durante todo o seu reitorado no esforço de mediação entre fidelidade às raízes e abertura aos apelos do Espírito e às exigências dos novos tempos.
O bom padre Ruffino em sua "crônica" escreve simplesmente: "O padre Rua em Mirabello comporta-se como Dom Bosco em Turim. Está sempre rodeado pelos jovens, atraídos pela sua amabilidade e também porque lhes conta sempre coisas novas" (MB VII, 540).