Conhecer Dom Bosco: O chamado de Deus

Domingo, 29 Julho 2012 11:50 Escrito por 
No coração do Antigo Testamento, há um chamado. O chamado de Deus a Moisés, no dia da sarça ardente. O Senhor disse: “Eu vi a opressão de meu povo no Egito, ouvi o grito de aflição diante dos opressores e conheci seus sofrimentos. Desci para libertá-lo das mãos do Egito e fazê-lo sair desse país para uma terra boa e espaçosa...” (Êxodo 3,7-8). “Vi... ouvi... conheci... desci para libertá-lo”. São os quatro verbos da paternidade perfeita. Deus não abandona os seus filhos. Dom Bosco foi chamado para encarnar a paternidade de Deus em nosso tempo.  

 Um tempo de dilacerações

Dom Bosco viveu e trabalhou em um período de rápidas transformações. A transição foi traumática, sobretudo em âmbito social e eclesial. Acelerou-se, particularmente, o processo iniciado com o Iluminismo, que pôs fim à societas cristiana por meio do triunfo das ideologias agnósticas e anticristãs, da aclamada incompatibilidade entre razão-ciência e fé, da progressiva desafeição das classes médias e populares em relação às instituições eclesiais (mais rápida na cidade, e gradual no campo).

Na Itália, a questão romana abriu uma grave ruptura no espírito dos crentes. Sob a pressão da intelligentsia leiga anticlerical e da burguesia empresarial, que com a arma da imprensa orientava a opinião pública e os estilos de vida, as novas gerações, formadas numa escola progressivamente agnóstica, ficavam desorientadas, presas fáceis de ideias e práticas distantes do costume cristão. Ao mesmo tempo, manifestavam-se novas pobrezas, migrações maciças, internas e externas, desarraigamentos culturais, abusos no trabalho e embrutecimento moral das camadas mais pobres.

 Salvar os jovens

Justamente este contexto histórico, estes traumas sociais e estas tensões foram, para Dom Bosco, estímulo e ocasião preciosa de discernimento da voz do Senhor. Enquanto outros polemizavam, condenavam, se lamentavam com a tristeza dos tempos, ele, levado a perceber Deus presente e atuante na história humana, formado para sentir a si mesmo como pastor chamado a trabalhar pela salvação da humanidade, especialmente, da juventude, imerge-se critica, mas amorosa e criativamente, no seu tempo, vivendo todas as suas vicissitudes com participação muitas vezes sofrida, pronto a dar a vida pela missão da qual se sentia portador, convencido de que a graça de Deus é mais forte do que qualquer obstáculo humano e sustenta eficazmente quem trabalha para difundir o Reino de Cristo nos corações.

A situação dos jovens pobres encontrados em Turim, na Itália, dos anos de 1840 e 1850, mas também os eventos eclesiais, político-sociais e as novas leis, estimulam e orientam operativamente a sua sensibilidade educativa, o seu zelo pastoral, os seus dons naturais levando-o a discernir em função proativa e preventiva.

Nos decênios sucessivos, mudarão as situações e surgirão novos problemas, mas esta atitude mental e esta disposição espiritual o levarão a ampliar horizontes, articular obras e propostas, multiplicar iniciativas, envolvendo fileiras sempre mais amplas de discípulos, auxiliares, benfeitores e simpatizantes. Dessa forma, a expressão “jovens pobres e abandonados” adquirirá um significado sempre mais amplo, não só socioeconômico, mas espiritual, cultural e ético.

“Tudo posso naquele que me dá força!”

A sua modernidade está aqui: não só iniciativas alinhadas às exigências e aos gostos dos tempos e dos jovens, mas respostas tempestivas e eficazes (porque previdentes e frutos de discernimento e genuína caridade) a problemas novos, desafios novos, necessidades novas, ataques “satânicos” novos, a partir de uma fé granítica, de uma esperança sólida, de uma entrega absoluta a Deus e aos irmãos, de uma liberdade interior, fruto de purificação e desapego de si. Escrevia a um padre desanimado: “Há que se trabalhar? Morrerei no campo do trabalho sicut bonus Miles Christi. Sou bom para pouca coisa? Omnia possum in eo qui me confortat. Existem espinhos? Com os espinhos transformados em flores, os Anjos tecerão para ela uma coroa no céu. Os tempos são difíceis? Foram sempre assim, mas Deus jamais falhou no seu auxílio: Christus heri et hodie" (25 de outubro de 1878, Ceria, Epistolario di S. Giovanni Bosco, III, 399)!

Para nós, é uma lição de esperança e diálogo, um convite a nos estimularmos e renovarmos na fidelidade e na ação, e na confiança em Deus.

 

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Última modificação em Sexta, 03 Agosto 2012 21:57

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Conhecer Dom Bosco: O chamado de Deus

Domingo, 29 Julho 2012 11:50 Escrito por 
No coração do Antigo Testamento, há um chamado. O chamado de Deus a Moisés, no dia da sarça ardente. O Senhor disse: “Eu vi a opressão de meu povo no Egito, ouvi o grito de aflição diante dos opressores e conheci seus sofrimentos. Desci para libertá-lo das mãos do Egito e fazê-lo sair desse país para uma terra boa e espaçosa...” (Êxodo 3,7-8). “Vi... ouvi... conheci... desci para libertá-lo”. São os quatro verbos da paternidade perfeita. Deus não abandona os seus filhos. Dom Bosco foi chamado para encarnar a paternidade de Deus em nosso tempo.  

 Um tempo de dilacerações

Dom Bosco viveu e trabalhou em um período de rápidas transformações. A transição foi traumática, sobretudo em âmbito social e eclesial. Acelerou-se, particularmente, o processo iniciado com o Iluminismo, que pôs fim à societas cristiana por meio do triunfo das ideologias agnósticas e anticristãs, da aclamada incompatibilidade entre razão-ciência e fé, da progressiva desafeição das classes médias e populares em relação às instituições eclesiais (mais rápida na cidade, e gradual no campo).

Na Itália, a questão romana abriu uma grave ruptura no espírito dos crentes. Sob a pressão da intelligentsia leiga anticlerical e da burguesia empresarial, que com a arma da imprensa orientava a opinião pública e os estilos de vida, as novas gerações, formadas numa escola progressivamente agnóstica, ficavam desorientadas, presas fáceis de ideias e práticas distantes do costume cristão. Ao mesmo tempo, manifestavam-se novas pobrezas, migrações maciças, internas e externas, desarraigamentos culturais, abusos no trabalho e embrutecimento moral das camadas mais pobres.

 Salvar os jovens

Justamente este contexto histórico, estes traumas sociais e estas tensões foram, para Dom Bosco, estímulo e ocasião preciosa de discernimento da voz do Senhor. Enquanto outros polemizavam, condenavam, se lamentavam com a tristeza dos tempos, ele, levado a perceber Deus presente e atuante na história humana, formado para sentir a si mesmo como pastor chamado a trabalhar pela salvação da humanidade, especialmente, da juventude, imerge-se critica, mas amorosa e criativamente, no seu tempo, vivendo todas as suas vicissitudes com participação muitas vezes sofrida, pronto a dar a vida pela missão da qual se sentia portador, convencido de que a graça de Deus é mais forte do que qualquer obstáculo humano e sustenta eficazmente quem trabalha para difundir o Reino de Cristo nos corações.

A situação dos jovens pobres encontrados em Turim, na Itália, dos anos de 1840 e 1850, mas também os eventos eclesiais, político-sociais e as novas leis, estimulam e orientam operativamente a sua sensibilidade educativa, o seu zelo pastoral, os seus dons naturais levando-o a discernir em função proativa e preventiva.

Nos decênios sucessivos, mudarão as situações e surgirão novos problemas, mas esta atitude mental e esta disposição espiritual o levarão a ampliar horizontes, articular obras e propostas, multiplicar iniciativas, envolvendo fileiras sempre mais amplas de discípulos, auxiliares, benfeitores e simpatizantes. Dessa forma, a expressão “jovens pobres e abandonados” adquirirá um significado sempre mais amplo, não só socioeconômico, mas espiritual, cultural e ético.

“Tudo posso naquele que me dá força!”

A sua modernidade está aqui: não só iniciativas alinhadas às exigências e aos gostos dos tempos e dos jovens, mas respostas tempestivas e eficazes (porque previdentes e frutos de discernimento e genuína caridade) a problemas novos, desafios novos, necessidades novas, ataques “satânicos” novos, a partir de uma fé granítica, de uma esperança sólida, de uma entrega absoluta a Deus e aos irmãos, de uma liberdade interior, fruto de purificação e desapego de si. Escrevia a um padre desanimado: “Há que se trabalhar? Morrerei no campo do trabalho sicut bonus Miles Christi. Sou bom para pouca coisa? Omnia possum in eo qui me confortat. Existem espinhos? Com os espinhos transformados em flores, os Anjos tecerão para ela uma coroa no céu. Os tempos são difíceis? Foram sempre assim, mas Deus jamais falhou no seu auxílio: Christus heri et hodie" (25 de outubro de 1878, Ceria, Epistolario di S. Giovanni Bosco, III, 399)!

Para nós, é uma lição de esperança e diálogo, um convite a nos estimularmos e renovarmos na fidelidade e na ação, e na confiança em Deus.

 

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