Quando um educador toca o coração dos seus filhos

Segunda, 10 Junho 2024 11:25 Escrito por  Dom Ángel Fernández Artime – Reitor-Mor dos Salesianos
Mensagem do Reitor-Mor para os leitores do Boletim Salesiano: “Recordai-vos de que a educação é coisa do coração, e de que só Deus é o dono dele, e nós não poderemos conseguir nada, se Deus não nos ensinar a arte dele, e não nos entregar as suas chaves” (MB XVI, 447).  

Caros amigos, leitores do Boletim Salesiano e amigos do carisma de Dom Bosco. Escrevo esta saudação, diria quase às pressas, antes que esta edição seja publicada. Digo isto porque a cena que vou contar a vocês aconteceu faz somente 4 horas.

Cheguei há pouco a Lubumbashi. Há dez dias que estou visitando presenças salesianas muito significativas, como os desalojados e os refugiados de Palabek - hoje, graças a Deus, em condições muito mais humanas do que quando chegaram até nós - e de Uganda passei para República Democrática do Congo, na atribulada e martirizada região de Goma, na África.

Ali as presenças salesianas são cheias de vida. Muitas vezes disse que o meu coração ficava “tocado” (touché), isto é, comovido ao ver o bem que se faz, ao ver que há uma presença de Deus mesmo na maior pobreza. Mas o meu coração ficou tocado pela dor e pela tristeza quando encontrei algumas das 32.000 pessoas (na sua maior parte idosos, mulheres e crianças) que são acolhidas nos terrenos da presença salesiana de Dom Bosco-Gangi.

Mas disto vou falar a vocês na próxima vez, porque preciso deixar assentar no meu coração.

 

O “papai” dos garotos de Goma

Agora só quero falar sobre uma belíssima cena a que assisti num voo que nos levou a Lubumbashi.

Era um voo não comercial, em um avião de dimensões médias. Mas o comandante era uma pessoa familiar, não em relação a mim, mas aos salesianos locais. Quando cumprimentei o comandante no avião, disse-me que tinha estudado formação profissional na nossa escola aqui em Goma. Disse-me que aqueles tinham sido os anos que haviam mudado a sua vida, mas acrescentou outra coisa, dizendo-me e dizendo-nos: “E eis aquele que foi um ‘papá’ (papai) para nós”.

Na cultura africana, quando se diz que alguém é um “papá”, diz-se uma coisa extremamente importante. E, não raramente, o papai não é a pessoa que gerou aquele filho ou aquela filha, mas aquele que realmente cuidou dele, o sustentou e acompanhou.

A quem se referia o comandante, um homem de cerca de 45 anos, com o filho piloto já jovem que o acompanhava em voo? Referia-se ao nosso irmão salesiano coadjutor (isto é, não sacerdote, mas leigo consagrado, uma obra-prima do carisma salesiano).

Este salesiano, irmão Honorato, missionário espanhol, é missionário na região de Goma há mais de 40 anos. Fez de tudo para viabilizar esta escola profissional e muitas outras coisas, certamente em conjunto com outros salesianos. Conheceu o comandante e alguns dos seus amigos quando só eram rapazes desorientados do bairro (isto é, entre centenas e centenas de rapazes). Antes, o comandante contou-me que quatro dos seus companheiros, que naqueles anos andavam praticamente na rua, conseguiram estudar mecânica na casa de Dom Bosco e que hoje são engenheiros e se ocupam da manutenção mecânica e técnica dos pequenos aviões da sua companhia.

 

O ‘sacramento’ salesiano

Pois bem, quando ouvi o comandante, antigo aluno salesiano, dizer que o Irmão Honorato havia sido seu pai, o “papai” de todos eles, fiquei profundamente comovido e pensei logo em Dom Bosco, que os seus rapazes sentiam e consideravam como seu pai.

Nas cartas do padre Rua e de Dom Cagliero, Dom Bosco é sempre chamado “papai”. Na véspera do dia 7 de dezembro de 1887, quando a saúde de Dom Bosco piorou, o padre Rua telegrafou a Dom Cagliero dizendo simplesmente: “O papai está em estado alarmante!” Um antigo cântico terminava assim: “Viva Dom Bosco nosso papai”!

Pensei sobre como é verdade que a educação é um assunto do coração. E confirmei entre as minhas convicções que a presença no meio dos garotos, das meninas e dos jovens é para nós quase um “sacramento” salesiano da presença.

Sei que no mundo salesiano, na nossa Família em todo o mundo, entre os nossos Irmãos e Irmãs houve muitos “papais” e muitas “mamães” que, com a sua presença e o seu afeto, com o seu conhecimento da educação, tocam o coração dos jovens, que hoje tanta necessidade têm, diria cada vez mais, destas presenças que podem mudar para melhor uma vida.

Daqui da África, uma saudação e todas as bênçãos do Senhor para os amigos do carisma salesiano. Deus abençoe a todos.

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Quando um educador toca o coração dos seus filhos

Segunda, 10 Junho 2024 11:25 Escrito por  Dom Ángel Fernández Artime – Reitor-Mor dos Salesianos
Mensagem do Reitor-Mor para os leitores do Boletim Salesiano: “Recordai-vos de que a educação é coisa do coração, e de que só Deus é o dono dele, e nós não poderemos conseguir nada, se Deus não nos ensinar a arte dele, e não nos entregar as suas chaves” (MB XVI, 447).  

Caros amigos, leitores do Boletim Salesiano e amigos do carisma de Dom Bosco. Escrevo esta saudação, diria quase às pressas, antes que esta edição seja publicada. Digo isto porque a cena que vou contar a vocês aconteceu faz somente 4 horas.

Cheguei há pouco a Lubumbashi. Há dez dias que estou visitando presenças salesianas muito significativas, como os desalojados e os refugiados de Palabek - hoje, graças a Deus, em condições muito mais humanas do que quando chegaram até nós - e de Uganda passei para República Democrática do Congo, na atribulada e martirizada região de Goma, na África.

Ali as presenças salesianas são cheias de vida. Muitas vezes disse que o meu coração ficava “tocado” (touché), isto é, comovido ao ver o bem que se faz, ao ver que há uma presença de Deus mesmo na maior pobreza. Mas o meu coração ficou tocado pela dor e pela tristeza quando encontrei algumas das 32.000 pessoas (na sua maior parte idosos, mulheres e crianças) que são acolhidas nos terrenos da presença salesiana de Dom Bosco-Gangi.

Mas disto vou falar a vocês na próxima vez, porque preciso deixar assentar no meu coração.

 

O “papai” dos garotos de Goma

Agora só quero falar sobre uma belíssima cena a que assisti num voo que nos levou a Lubumbashi.

Era um voo não comercial, em um avião de dimensões médias. Mas o comandante era uma pessoa familiar, não em relação a mim, mas aos salesianos locais. Quando cumprimentei o comandante no avião, disse-me que tinha estudado formação profissional na nossa escola aqui em Goma. Disse-me que aqueles tinham sido os anos que haviam mudado a sua vida, mas acrescentou outra coisa, dizendo-me e dizendo-nos: “E eis aquele que foi um ‘papá’ (papai) para nós”.

Na cultura africana, quando se diz que alguém é um “papá”, diz-se uma coisa extremamente importante. E, não raramente, o papai não é a pessoa que gerou aquele filho ou aquela filha, mas aquele que realmente cuidou dele, o sustentou e acompanhou.

A quem se referia o comandante, um homem de cerca de 45 anos, com o filho piloto já jovem que o acompanhava em voo? Referia-se ao nosso irmão salesiano coadjutor (isto é, não sacerdote, mas leigo consagrado, uma obra-prima do carisma salesiano).

Este salesiano, irmão Honorato, missionário espanhol, é missionário na região de Goma há mais de 40 anos. Fez de tudo para viabilizar esta escola profissional e muitas outras coisas, certamente em conjunto com outros salesianos. Conheceu o comandante e alguns dos seus amigos quando só eram rapazes desorientados do bairro (isto é, entre centenas e centenas de rapazes). Antes, o comandante contou-me que quatro dos seus companheiros, que naqueles anos andavam praticamente na rua, conseguiram estudar mecânica na casa de Dom Bosco e que hoje são engenheiros e se ocupam da manutenção mecânica e técnica dos pequenos aviões da sua companhia.

 

O ‘sacramento’ salesiano

Pois bem, quando ouvi o comandante, antigo aluno salesiano, dizer que o Irmão Honorato havia sido seu pai, o “papai” de todos eles, fiquei profundamente comovido e pensei logo em Dom Bosco, que os seus rapazes sentiam e consideravam como seu pai.

Nas cartas do padre Rua e de Dom Cagliero, Dom Bosco é sempre chamado “papai”. Na véspera do dia 7 de dezembro de 1887, quando a saúde de Dom Bosco piorou, o padre Rua telegrafou a Dom Cagliero dizendo simplesmente: “O papai está em estado alarmante!” Um antigo cântico terminava assim: “Viva Dom Bosco nosso papai”!

Pensei sobre como é verdade que a educação é um assunto do coração. E confirmei entre as minhas convicções que a presença no meio dos garotos, das meninas e dos jovens é para nós quase um “sacramento” salesiano da presença.

Sei que no mundo salesiano, na nossa Família em todo o mundo, entre os nossos Irmãos e Irmãs houve muitos “papais” e muitas “mamães” que, com a sua presença e o seu afeto, com o seu conhecimento da educação, tocam o coração dos jovens, que hoje tanta necessidade têm, diria cada vez mais, destas presenças que podem mudar para melhor uma vida.

Daqui da África, uma saudação e todas as bênçãos do Senhor para os amigos do carisma salesiano. Deus abençoe a todos.

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