Em 5 de agosto de 1872, na região de Mornese, na Itália, um grupo de 11 jovens lideradas por Maria Domingas Mazzarello pronunciou o seu “sim” para iniciar uma comunidade religiosa que, inspirada no exemplo de Maria Auxiliadora, pudesse dedicar-se à educação e à evangelização das jovens, especialmente as de famílias mais carentes.
Passados 150 anos, o Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora – também conhecidas como Irmãs Salesianas – celebra uma linda história de amor e atenção à juventude. A comemoração, organizada nos últimos três anos, acontece no contexto desafiador da pandemia da Covid-19, momento ainda mais oportuno para resgatar a história do Instituto e buscar em seus fundadores, Dom Bosco e Madre Mazzarello, a inspiração para enfrentar os desafios do presente.
Como afirma a Madre-geral das Filhas de Maria Auxiliadora, Ir. Chiara Cazzuola, “Nesta situação, que ainda surpreende e persiste, somos chamadas a aceitar os desafios do mundo contemporâneo para projetar com audácia o futuro e, neste contexto, vivenciar o 150º aniversário como uma oportunidade de renovação e revitalização vocacional e missionária”.
Convergência de sonhos e ideais
O Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora nasceu de uma convergência de ideais de seus fundadores, São João Bosco e Santa Maria Domingas Mazzarello.
Dez anos antes da fundação do Instituto, Dom Bosco teve, em um de seus sonhos proféticos, a visão de Maria Auxiliadora que, apontando um grupo de meninas, lhe pedia: “Cuide delas: são minhas filhas”. A constatação do estado de abandono e pobreza no qual viviam muitas jovens e os inúmeros pedidos para que estendesse também às moças a sua proposta educativa, além do encorajamento do Papa Pio IX, levaram o Santo dos Jovens à decisão de fundar uma congregação religiosa feminina.
No mesmo período, em Mornese, Maria Domingas Mazzarello fazia parte da Associação das Filhas da Imaculada e animava um grupo de jovens que se dedicavam à educação das meninas no sentido de orientá-las para a vivência dos valores evangélicos e de se tornarem cidadãs honestas e trabalhadoras.
O primeiro encontro entre os dois aconteceu em 1864, quando Dom Bosco, a convite do padre Pestarino, foi a Mornese conhecer o trabalho realizado pelas Filhas da Imaculada. Conforme lê-se na Cronistória, ao vê-lo na praça, durante as festividades para Nossa Senhora do Rosário, Maria Mazzarello exclama: “Dom Bosco é um santo, eu o sinto”! Desenvolveu-se a partir de então uma relação de reciprocidade, que culminou na fundação do Instituto FMA. Como afirmam as Filhas de Maria Auxiliadora em seu portal, “dois sonhos se encontravam assim convergindo para um idêntico ideal: fazer nascer, também para as meninas e as jovens uma Família Religiosa semelhante àquela dos Salesianos; um novo carisma educativo na Igreja”.
Ao tratar sobre a visão e a missão carismática do Instituto, o mesmo texto ressalta: “Dirigidas pela sabedoria formativa de Madre Mazzarello, as FMA conjugam, com criatividade, o Sistema Preventivo de Dom Bosco com os recursos femininos e com as exigências da educação da mulher e da infância, com uma presença ativa no âmbito da escola e da catequese”.
Memória e história
Após obterem a aprovação de suas Constituições, em 1876, as Filhas de Maria Auxiliadora começaram a expandir seu carisma para outras regiões da Itália, para países da Europa e para a América. Já em 1877, foram enviadas as primeiras missionárias para o Uruguai e, depois, para a Argentina. As FMA estão presentes na Ásia desde 1891, na África desde 1893 e na Oceania desde 1954.
A proposta educativa, comunicativa e evangelizadora das Filhas de Maria Auxiliadora se apresenta também em uma pluralidade de obras voltadas para a formação integral das pessoas e a proteção de seus direitos. Ao longo dos anos, e de acordo com as necessidades verificadas em cada localidade, o Instituto das FMA abriu e consolidou oratórios e centros juvenis, escolas de educação básica e centros de formação profissional, instituições de ensino superior, obras para crianças, adolescentes e jovens em situação de vulnerabilidade social, centros de espiritualidade e de promoção da mulher, além da Associação de Voluntariado Internacional Mulher Educação e Desenvolvimento (Vides) e do Escritório de Direitos Humanos (IIMA).
Atualmente, o Instituto é composto por 11.535 Filhas de Maria Auxiliadora, dispostas em 69 inspetorias e cinco visitadorias. As FMA estão presentes em 97 nações, dos cinco continentes.
“Um sonho que se tornou realidade”
Ir. Chiara Cazzuola, atual Madre-geral das Filhas de Maria Auxiliadora, aponta no documento Um sonho que se tornou realidade os motivos para a grande expansão e fecundidade do Instituto FMA ao longo do tempo. Em primeiro lugar, ela coloca “A santidade de Madre Mazzarello e das primeiras comunidades”, ressaltando como a formação inicial de Maria Mazzarello e sua posterior ação materna à frente do Instituto foram fundamentais: “Na comunidade das origens, Maria Domingas cria um clima em que o espírito de família se entrelaça com a generosidade cotidiana em enfrentar os sacrifícios de toda espécie, a ponto de resumir no ‘eu vou’ a disponibilidade máxima de cada uma. [...] Para todas é um modelo de empreendimento e criatividade no bem. Alimenta o fogo da paixão apostólica em si mesma e nas Irmãs”.
O segundo motivo elencado pela Madre-geral é a paixão missionária. “A vocação das FMA e a vida fraterna são essencialmente orientadas à missão. Como educadoras, somos chamadas a ser ‘sinal e expressão do amor de deus’ para os jovens (Const. 1). A primeira forma de evangelizar e ser este ‘sinal’ e ‘expressão’ é o testemunho da comunidade/comunhão”.
Para Madre Chiara, esse espírito missionário e fraterno que se encontrava nas casas mantidas pelas FMA foi essencial nos primeiros tempos do Instituto e hoje, mais do que nunca, contribui para a proposta educativa das Filhas de Maria Auxiliadora: “Estamos convictos de que a primeira forma de missionariedade é ajudar os jovens a fazer a experiência de ‘casa’, que empenha cada um a criar um clima de família, a dar-lhes um lugar em que possam encontrar-se, sentir-se amados, valorizados, construir relações, sonhar, ser acompanhados, poder discernir o desígnio de Deus sobre sua vida e olhar o futuro com esperança”, afirma ela.
A Madre-geral coloca como terceiro motivo para o florescimento do Instituto o fato de ter, desde o princípio, uma proposta educativa clara, pautada nos valores do Evangelho: “Maria Mazzarello possui uma clara projetualidade educativa em sintonia com o projeto próprio de Deus, no qual o segredo não é fixar princípios teóricos ou diretrizes ascéticas, mas sim fazer a pessoa encontrar-se com Jesus”.
Por fim, Madre Chiara ressalta que, nesta celebração dos 150 anos do Instituto FMA, devemos olhar para a história para encontrar respostas às novas perguntas apresentadas pelos jovens: “Dom Bosco e Madre Mazzarello viveram em tempos de grandes mudanças culturais, sociais, econômicas, políticas, eclesiais. Seu critério de abordagem da realidade em mudança é que ‘deve-se conhecer os tempos e adaptar-se a eles’. É um método permeado de realismo, concretude, capacidade de adaptação à realidade que se transforma, partindo de uma referência precisa e constante: a pergunta explícita ou implícita de formação das/dos jovens”.
Assim como Madre Mazzarello acreditou desde os primórdios do Instituto no poder da educação preventiva e colocou-se como educadora capaz de semear alegria, amor, honestidade e liberdade entre crianças, adolescentes e jovens; também hoje somos chamados a ter a educação como centro.
“Reavivemos, portanto, o compromisso de cuidar e acompanhar as novas gerações e renovemos a paixão por uma educação mais aberta e inclusiva para formar pessoas capazes de enfrentar a vida em toda a sua complexidade. [...] Esta responsabilidade, partilhada como comunidade educativa, é verdadeiramente expressão de fidelidade ao dinamismo profético do carisma, traduz-se na cultura vocacional e é o que poderá tornar verdadeiramente generativas as nossas comunidades na Igreja e nos vários contextos em que Deus nos chama”, conclui a Madre.