Pacto Educativo Global: Projetistas de utopias

Quarta, 06 Abril 2022 16:39 Escrito por  Ir. Celene Couto Rodrigues, FMA
Pacto Educativo Global: Projetistas de utopias iStock.com
O Papa Francisco convocou todas as pessoas de boa vontade para “reacender o compromisso para e com as novas gerações, renovando a paixão por uma educação mais aberta e inclusiva, capaz de uma escuta paciente, um diálogo construtivo e compreensão mútua”.    

Colocar a pessoa no centro é uma das condições-chave da educação. O Papa Francisco insiste que este é o primeiro compromisso de toda a sociedade e o vincula à qualidade das relações que se estabelecem e, também, à troca dialógica que deve ser produzida no processo educativo. Isso implica uma atitude de reconhecimento, promoção, trabalho e educação a partir do diálogo, da escuta ativa, da aprendizagem e do enriquecimento mútuo.

 

O educador é uma pessoa atenta, especialista em reconhecer as potencialidades de seus educandos e com capacidade de valorizar sua diversidade. O próximo passo nessa atitude de abertura leva à relação, à descoberta do outro e a uma educação a partir da pedagogia do encontro, em que o reconhecimento do outro é fundamental para avançar na construção da humanidade e da fraternidade.

 

Para isso, toda a Família Salesiana deve apostar na criação de condições adequadas à transformação e ao desenvolvimento pessoal integral, assente numa profunda ligação com outras pessoas e com a sua interioridade. Podemos pensar em algumas condições-chave para promover experiências de encontros diretos e conscientes.

 

Pedagogia do encontro

A primeira consiste no envolvimento integral da pessoa, o que significa aproximar a realidade e a vida dos processos educativos de forma planejada. Dom Bosco, no início de sua vida sacerdotal, cuidou de meninos detidos nas prisões de Turim. Foi encontrá-los, escutou-os e, sobretudo, encorajou-os a perceber dentro de si o desejo do bem e a força para alcançá-lo, apesar das experiências negativas. Apostou na fé, atreveu-se a falar de Deus e do seu amor que se mantém vivo e ativo mesmo nas circunstâncias difíceis em que viviam.

 

A segunda condição-chave é fazer com que os encontros sejam diversos, provocativos e vinculados às realidades que movem e transformam a vida. Para ajudar os jovens a recuperar a confiança, Dom Bosco acreditava que o meio mais eficaz era o amor demonstrado, ou seja, a amorevolezza salesiana. A experiência nas prisões de Turim o convenceu do poder de transformação até mesmo dos jovens mais problemáticos. Ele descobriu que a falta da vivência de um processo educativo era a razão do comportamento desviante e, por causa de seu senso de dignidade e amor, eles estavam prontos a mudar, ansiando por uma nova qualidade de vida.

 

A terceira condição é favorecer o trabalho em equipe e os processos horizontais em que todos contribuam para o bem comum. Com uma relação de confiança entre jovens e adultos é possível influenciar seu caráter e comportamento. Somente restabelecendo a credibilidade com os jovens pode ser aberto um caminho para libertá-los do passado pelo qual eles sofreram. Qual é o caminho para mudar essa relação? Dom Bosco nos indica que é preciso conquistar a confiança por meio da amorevolezza, pois “...sem familiaridade não se demonstra afeto e sem essa demonstração não pode haver confiança”.

 

Novas formas de educar

Nós, como Família Salesiana, devemos nos considerar projetistas de utopias, privilegiando o pensamento divergente, a criatividade e a liberdade que nos permitem sonhar com novas formas de organização social, bem como novos estilos nas relações interpessoais e comunitárias cotidianas, e revelar experiências concretas que mostrem que essa realidade começa a se fazer presente de diversas formas. O Papa convida-nos a promover mudanças e a experimentar novas formas de educar e abordar a educação; nos chama a tomar consciência do papel que cada pessoa tem como agente de mudança social, a redescobrir o conceito de bem comum e a reviver uma educação política, ou seja, orientada para a formação em valores e que empodere as pessoas.

 

Por ocasião de sua viagem a Paris, em 1883, disse Dom Bosco: “O bem da sociedade e da Igreja estão na boa educação da juventude... Não hesiteis em dedicar-vos aos jovens, do contrário eles não hesitarão em ocupar-se de vós”. Essas palavras nos desafiam a repensar nosso empenho na construção de uma nova sociedade. O retorno às nossas raízes carismáticas dilata a nossa vocação de educar bons cristãos e honestos cidadãos.

 

Para Dom Bosco e Madre Mazzarello, os jovens eram protagonistas da sociedade e da Igreja. O número de vocações que Dom Bosco enviou à Igreja foi surpreendente. Ao mesmo tempo, muitos leigos aprenderam com nossos fundadores a cuidar ativamente das novas gerações. O Sistema Preventivo de Dom Bosco formou – e continua formando – inúmeros educadores, profissionais liberais, pais e mães de família, catequistas e agentes pastorais comprometidos com a missão educativa.

 

Educar para a solidariedade e a justiça, para a responsabilidade e o compromisso, para o cuidado das pessoas e do mundo, exige ousadia e risco para gerar propostas diferentes e provocativas. Eis o campo que o Papa Francisco nos convoca a semear! Mergulhemos em nossas raízes carismáticas!

 

Ir. Celene Couto Rodrigues, FMA, é mestranda em Educação pela Universidade Metodista de São Paulo, graduada em Geografia pela Universidade Gama Filho no Rio de Janeiro e animadora Laudato Si credenciada pelo Movimento Católico Global pelo Clima. Atualmente é coordenadora de Pastoral da Obra Social Recanto da Cruz Grande em Itapevi, SP e Green Líder da Don Bosco Green Alliance no Brasil.

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Pacto Educativo Global: Projetistas de utopias

Quarta, 06 Abril 2022 16:39 Escrito por  Ir. Celene Couto Rodrigues, FMA
Pacto Educativo Global: Projetistas de utopias iStock.com
O Papa Francisco convocou todas as pessoas de boa vontade para “reacender o compromisso para e com as novas gerações, renovando a paixão por uma educação mais aberta e inclusiva, capaz de uma escuta paciente, um diálogo construtivo e compreensão mútua”.    

Colocar a pessoa no centro é uma das condições-chave da educação. O Papa Francisco insiste que este é o primeiro compromisso de toda a sociedade e o vincula à qualidade das relações que se estabelecem e, também, à troca dialógica que deve ser produzida no processo educativo. Isso implica uma atitude de reconhecimento, promoção, trabalho e educação a partir do diálogo, da escuta ativa, da aprendizagem e do enriquecimento mútuo.

 

O educador é uma pessoa atenta, especialista em reconhecer as potencialidades de seus educandos e com capacidade de valorizar sua diversidade. O próximo passo nessa atitude de abertura leva à relação, à descoberta do outro e a uma educação a partir da pedagogia do encontro, em que o reconhecimento do outro é fundamental para avançar na construção da humanidade e da fraternidade.

 

Para isso, toda a Família Salesiana deve apostar na criação de condições adequadas à transformação e ao desenvolvimento pessoal integral, assente numa profunda ligação com outras pessoas e com a sua interioridade. Podemos pensar em algumas condições-chave para promover experiências de encontros diretos e conscientes.

 

Pedagogia do encontro

A primeira consiste no envolvimento integral da pessoa, o que significa aproximar a realidade e a vida dos processos educativos de forma planejada. Dom Bosco, no início de sua vida sacerdotal, cuidou de meninos detidos nas prisões de Turim. Foi encontrá-los, escutou-os e, sobretudo, encorajou-os a perceber dentro de si o desejo do bem e a força para alcançá-lo, apesar das experiências negativas. Apostou na fé, atreveu-se a falar de Deus e do seu amor que se mantém vivo e ativo mesmo nas circunstâncias difíceis em que viviam.

 

A segunda condição-chave é fazer com que os encontros sejam diversos, provocativos e vinculados às realidades que movem e transformam a vida. Para ajudar os jovens a recuperar a confiança, Dom Bosco acreditava que o meio mais eficaz era o amor demonstrado, ou seja, a amorevolezza salesiana. A experiência nas prisões de Turim o convenceu do poder de transformação até mesmo dos jovens mais problemáticos. Ele descobriu que a falta da vivência de um processo educativo era a razão do comportamento desviante e, por causa de seu senso de dignidade e amor, eles estavam prontos a mudar, ansiando por uma nova qualidade de vida.

 

A terceira condição é favorecer o trabalho em equipe e os processos horizontais em que todos contribuam para o bem comum. Com uma relação de confiança entre jovens e adultos é possível influenciar seu caráter e comportamento. Somente restabelecendo a credibilidade com os jovens pode ser aberto um caminho para libertá-los do passado pelo qual eles sofreram. Qual é o caminho para mudar essa relação? Dom Bosco nos indica que é preciso conquistar a confiança por meio da amorevolezza, pois “...sem familiaridade não se demonstra afeto e sem essa demonstração não pode haver confiança”.

 

Novas formas de educar

Nós, como Família Salesiana, devemos nos considerar projetistas de utopias, privilegiando o pensamento divergente, a criatividade e a liberdade que nos permitem sonhar com novas formas de organização social, bem como novos estilos nas relações interpessoais e comunitárias cotidianas, e revelar experiências concretas que mostrem que essa realidade começa a se fazer presente de diversas formas. O Papa convida-nos a promover mudanças e a experimentar novas formas de educar e abordar a educação; nos chama a tomar consciência do papel que cada pessoa tem como agente de mudança social, a redescobrir o conceito de bem comum e a reviver uma educação política, ou seja, orientada para a formação em valores e que empodere as pessoas.

 

Por ocasião de sua viagem a Paris, em 1883, disse Dom Bosco: “O bem da sociedade e da Igreja estão na boa educação da juventude... Não hesiteis em dedicar-vos aos jovens, do contrário eles não hesitarão em ocupar-se de vós”. Essas palavras nos desafiam a repensar nosso empenho na construção de uma nova sociedade. O retorno às nossas raízes carismáticas dilata a nossa vocação de educar bons cristãos e honestos cidadãos.

 

Para Dom Bosco e Madre Mazzarello, os jovens eram protagonistas da sociedade e da Igreja. O número de vocações que Dom Bosco enviou à Igreja foi surpreendente. Ao mesmo tempo, muitos leigos aprenderam com nossos fundadores a cuidar ativamente das novas gerações. O Sistema Preventivo de Dom Bosco formou – e continua formando – inúmeros educadores, profissionais liberais, pais e mães de família, catequistas e agentes pastorais comprometidos com a missão educativa.

 

Educar para a solidariedade e a justiça, para a responsabilidade e o compromisso, para o cuidado das pessoas e do mundo, exige ousadia e risco para gerar propostas diferentes e provocativas. Eis o campo que o Papa Francisco nos convoca a semear! Mergulhemos em nossas raízes carismáticas!

 

Ir. Celene Couto Rodrigues, FMA, é mestranda em Educação pela Universidade Metodista de São Paulo, graduada em Geografia pela Universidade Gama Filho no Rio de Janeiro e animadora Laudato Si credenciada pelo Movimento Católico Global pelo Clima. Atualmente é coordenadora de Pastoral da Obra Social Recanto da Cruz Grande em Itapevi, SP e Green Líder da Don Bosco Green Alliance no Brasil.

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