Não existe um censo oficial, nem tampouco são identificadas as causas comuns que possam explicar por que tantas crianças no mundo sobrevivem nas ruas, sem um lugar estável e longe de suas famílias. É um fenômeno que se constata com mais frequência em continentes como a Ásia, a América e a África, geralmente associado a pobreza e a violência. Mas também se dá em países ricos. São crianças que perderam a infância. Vivem em constante perigo. Sofrem discriminação. Seus direitos estão comprometidos pela falta de alimentação, acesso à saúde e à educação.
Raul sobrevive nos aterros sanitários de Lima, Peru; Keita, num carro abandonado em Lubumbashi, na República Democrática do Congo; Ibrahim, no porto de Freetown, Serra Leoa; João vive nas ruas de Luanda, Angola; Tafari num mercado em Kampala, Uganda; Jaidev, na estação ferroviária de Bangalore, Índia... E assim por diante: milhões e milhões de rostos e histórias, de pequenas criaturas que se acostumaram a não pedir nada melhor do que os perigos das ruas, expostos à violência e aos abusos, e sem o calor de uma família, ou lar...
Todavia, para todos eles existe uma segunda chance de deixar as ruas, os vícios e os crimes para sobreviver. Porque na maioria dos países onde estas situações ocorrem, os missionários salesianos têm programas de acolhimento e reintegração de menores. “Não importa o passado: eles só precisam estar dispostos a mudar de vida e serem protagonistas de seu futuro graças à educação”, afirma um salesiano responsável por um dos programas.
Graças a equipes multidisciplinares formadas por assistentes sociais, educadores, médicos e psicólogos, os salesianos saem em busca desses meninos e meninas, para oferecer a eles uma mudança de vida, em ambiente familiar: dormir numa cama, vestir roupas limpas, tomar banho, comer três vezes ao dia...
Mudar é difícil para todos. No entanto, a maioria dos menores acaba se adaptando e aprendendo a viver com algumas regras mínimas de boa convivência com seus pares. Afinal, a decisão de sair das ruas implica noutra decisão: voltar a estudar ou aprender um ofício.
A educação torna-se, então, o melhor instrumento de mudança. Eles superam os traumas do passado, ganham confiança, apreciam o acolhimento que recebem e o esforço que fazem...E, mais, traçam metas para o futuro. Enquanto os pequenos fazem isso, os Salesianos, junto com as autoridades, procuram localizar suas famílias para tentar para eles a reintegração familiar e um futuro cheio de esperança e oportunidades.