No artigo passado, apresentei alguns elementos das fragilidades, feridas e saídas para as juventudes; agora, é necessário apontar metas de significado. Como bem dizia o pai da logoterapia, o médico e psiquiatra Viktor Frankl, quem tem um significado para viver supera todo e qualquer obstáculo.
Isso é verdade. Jesus é a prova cabal deste argumento. No alto da cruz ele gritou: “Tudo está consumado”. Naquele TUDO se encaixa desde seu nascimento na noite escura de Belém até sua morte à margem da cidade de Jerusalém. No entanto, ele foi capaz de significar toda essa experiência naquele TUDO. Hoje também é preciso ressignificar o ser jovem, pois trata-se de “uma graça” e não pode ser desperdiçada (CV, 134).
Para servir ao mundo e à Igreja, os jovens devem ser ajudados a entender que a vida é feita de sonho, escolhas e adesão a Jesus Cristo. Esses são os argumentos deste sexto artigo.
A vida é capacidade de sonhar
O tempo cronológico das juventudes é intenso de experiências, desenvolvimento da personalidade e projetos de futuro (CV, 137). Quem acompanha os jovens no discernimento não pode passar a ideia de que sonhar é alimentar ilusões. Colocar-se na escuta atenta dos jovens e de suas inquietudes é aprender a redesenhar os próprios sonhos para ajudar a sonhar iluminado pelo amor de Jesus que inquieta, mexe com a interioridade e gera uma salutar insatisfação e dúvida, como bem dizia Santo Agostinho: “inquieto está o nosso coração, até que descanse em ti”.
Essa paz inquieta é fundamental no processo de discernimento para chegar a compreender aquele TUDO que Maria apontou aos serventes em Caná: “Façam tudo o que ele vos disser” (Jo 2,5). Quando um jovem perde a capacidade de sonhar, de rir de si mesmo, de temer os erros, e mergulha na ansiedade em busca de resultados imediatos e de se projetar somente para frente, é sinal de que as angústias e medos, fragilidades e feridas ainda não foram curadas e precisam de um samaritano que as cure (CV, 142). E este samaritano não está fora, mas dentro de si mesmo.
A vida é feita de escolhas
Papa Francisco recordava aos jovens nas Jornadas Mundiais do Rio de Janeiro e do Panamá que a felicidade não pode ser confundida com uma vida sentada num sofá ou diante de uma tela de computador, mas deve ser a coragem de arriscar, de “fazer barulho” e superar as paralisias da comodidade (CV, 143). Então, as escolhas acontecem no dinamismo do saber viver o presente, “grande presente de Deus” (CV, 144), com os olhos abertos para viver com gratidão cada dádiva da vida. A escolha, portanto, não é perda, renúncia do bem viver, mas gratidão diante de Deus, que é plena gratuidade.
A vida é adesão a Jesus Cristo
A Igreja está consciente de que Jesus não é uma ideia e nós não aderimos a uma ideia, mas a uma pessoa concreta com a qual nos encontramos. Ser amigo de alguém é fazer a experiência da confiança, da abertura do coração. É afeto e amor generoso (CV, 152). Então, a amizade com Jesus é “algo inquebrantável. Ele nunca vai embora, às vezes, pareça talvez silencioso, no entanto é preciso permanecer nele” (CV, 154; Jo 15,4). Com Jesus partilhamos na oração pessoal nossa intimidade. Aqui é fundamental que no discernimento os jovens aprendam a falar com Jesus, “contar tudo que acontece, com confiança” (Cv, 155).
Somente assim os jovens poderão se engajar no mundo para transformá-lo à luz da amizade com o Senhor e dedicar a vida numa missão como discípulos que escutam, sentem o coração arder e descobrem em cada partilha da Palavra e do Pão a presença do Ressuscitado (CV, 156). Ser cristão não é seguir doutrinas e leis, mas seguir a Cristo (CV, 157).
Padre João da Silva Mendonça Filho, SDB, é mestre em Educação pela Pontifica Universidade Salesiana de Roma/Itália com especialização em Metodologia Vocacional, e pós-graduado em Comunicação pelo SEPAC/SP e PUC/SP.
Leia também
Quais são os meus pontos fortes e minhas fragilidades?
Como discernir: “O que alegra ou entristece o meu coração?”
Juventudes e discernimento vocacional