Quais são os meus pontos fortes e minhas fragilidades?

Quarta, 20 Mai 2020 13:30 Escrito por  Pe. João Mendonça, SDB
Quais são os meus pontos fortes e minhas fragilidades? iStock.com
Em um novo artigo comentando aspectos da Exortação Cristo Vive à luz do discernimento juvenil-vocacional, irei expor as fragilidades, as feridas e as saídas para uma vida com significado.  

A exortação Cristo Vive (CV) reconhece que a realidade juvenil não pode ser analisada de forma abstrata, pois “juventude não existe” (CV, 71), o que existe são juventudes com suas vidas concretas, forças e fragilidades. É fundamental, para um discernimento honesto e a possibilidade de uma resposta generosa que, tanto os jovens como os que acompanham, tenham clara noção deste mundo dos jovens em crise e as possibilidades de superação. Tanto a Cristo Vive como o documento final do Sínodo Pan-Amazônico nos dão elementos preciosos para esta análise. Neste quinto artigo irei expor as fragilidades, as feridas e as saídas para uma vida com significado.

 

As fragilidades

É importante começar afirmando que as fragilidades dos jovens são o reflexo de uma sociedade doente, de uma realidade líquida, que respira com dificuldade e as principais vítimas desta crise são os jovens, vitimados pelas “guerras, violências, seqüestros, extorsões, crime organizado, tráfico de seres humanos, escravidão, exploração sexual, estupros, falta de alternativas, jovens ideologizados, marginalizados até por motivos religiosos, sem casa, família e até vitimados pelas drogas, pornografia, HIV etc” (CV, 73-74). São fragilidades que esmagam o crescimento e amadurecimento de muitos jovens que, às vezes silenciados e silenciosos, não vivem plenamente a idade juvenil.

 

O Sínodo Pan-Amazônico, diante das juventudes dos nove países da região, elencou ainda outras fragilidades ainda mais críticas: “extrativistas, migrantes, refugiados, entre outros. Jovens moradores de áreas rurais e urbanas, gravidez precoce, desemprego, depressão, tráfico de pessoas, novas formas de escravidão, tráfico de órgãos, dificuldades de acesso à educação, saúde e assistência social. Infelizmente, nos últimos anos, tem havido um aumento significativo do suicídio entre os jovens, bem como um aumento da população prisional juvenil e de crimes entre e contra os jovens, especialmente afrodescendentes e periféricos (Documento Final do Sínodo Pan-amazônico, 30). A Igreja chora, diz o Papa Francisco, porque ela é mãe e não pode ficar anestesiada diante desta complexa realidade (CV, 75). São fragilidades que precisamos assumir como um todo, uma cruz que devemos carregar como Cirineus de hoje. Porém, não temos o direito de renunciar, pois, a “misericórdia e a compaixão também se expressam chorando” (CV, 76).

 

As feridas abertas

Há feridas que estão sangrando na vida de tantos jovens que nos procuram ou até convivem conosco, mas que lhes custa falar delas ou não encontram samaritanos e samaritanas que lhes ajudem a curar as chagas abertas. Assim, faz-se urgente crescer o sentido da comunidade cristã que desce de seus preconceitos, suas certezas, seus cultos e templos vistosos, para acolher os jovens com gestos de abraço, escuta e acolhida concretas (CV, 77). Não basta querer bem aos jovens, é preciso aceitá-los com suas fragilidades e levá-los até o pronto atendimento, sem burocracias, sem condicionamentos, mas guiados pela compaixão, movidos pelas palavras de Jesus: “Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados” (Mt 5,4).

 

Em meio a esta situação de sangramento, de veias juvenis abertas em nossa sociedade, há uma cultura que ganha força e mata: é o provisório, o descarte. Um jeito desumano de desejar a estética juvenil, sua beleza física, mas é apenas o roubo do valor que os jovens devem ter enquanto ser humano em processo de amadurecimento (CV, 79). Neste sentido, abre-se mais ainda a ferida da crise geracional, quando adultos e jovens não conseguem mais conviver, dialogar, assimilar valores, dando lugar a um estilo de vida no qual o adulto quer ser eternamente jovem e os jovens envelhecem por antecipação (CV, 80). Assim, muitos jovens são descartados das comunidades, tolerados nas organizações paroquiais e até desvalorizados em seus ideais.

 

As saídas

Os jovens passam boa parte do tempo nas “praças digitais” (CV, 87). Ali eles encontram uma possibilidade de diálogo, de encontro e até de acolhida. No entanto, não basta apenas este contato virtual, é preciso manter o encontro pessoal, as relações de amizade para saber vencer as fragilidades e feridas das armadilhas digitais, sobretudo das fake news (CV, 89), quando se perde completamente o sentido da verdade, da busca de sentido e da cura pessoal. A mentira apenas aprofunda as feridas da alma.

 

É preciso reforçar a esperança e a alegria dos jovens. Os jovens não podem ser uma fotocópia da vida divina, mas a expressão da criação de Deus que clama por libertação (CV, 107). Ser jovem, afirma Francisco, não é apenas ter sucesso, ser belo, esteticamente perfeito, mas saber entregar-se com generosidade numa causa de significado, pois somente Jesus é capaz de fazer novas todas as coisas (CV, 108-110; Documento Final do Sínodo Pan-Amazônico, 32-33).

 

Padre João da Silva Mendonça Filho, SDB, é mestre em Educação pela Pontifica Universidade Salesiana de Roma/Itália com especialização em Metodologia Vocacional, e pós-graduado em Comunicação pelo SEPAC/SP e PUC/SP.

 

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Quarta, 20 Mai 2020 13:30 Escrito por  Pe. João Mendonça, SDB
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Em um novo artigo comentando aspectos da Exortação Cristo Vive à luz do discernimento juvenil-vocacional, irei expor as fragilidades, as feridas e as saídas para uma vida com significado.  

A exortação Cristo Vive (CV) reconhece que a realidade juvenil não pode ser analisada de forma abstrata, pois “juventude não existe” (CV, 71), o que existe são juventudes com suas vidas concretas, forças e fragilidades. É fundamental, para um discernimento honesto e a possibilidade de uma resposta generosa que, tanto os jovens como os que acompanham, tenham clara noção deste mundo dos jovens em crise e as possibilidades de superação. Tanto a Cristo Vive como o documento final do Sínodo Pan-Amazônico nos dão elementos preciosos para esta análise. Neste quinto artigo irei expor as fragilidades, as feridas e as saídas para uma vida com significado.

 

As fragilidades

É importante começar afirmando que as fragilidades dos jovens são o reflexo de uma sociedade doente, de uma realidade líquida, que respira com dificuldade e as principais vítimas desta crise são os jovens, vitimados pelas “guerras, violências, seqüestros, extorsões, crime organizado, tráfico de seres humanos, escravidão, exploração sexual, estupros, falta de alternativas, jovens ideologizados, marginalizados até por motivos religiosos, sem casa, família e até vitimados pelas drogas, pornografia, HIV etc” (CV, 73-74). São fragilidades que esmagam o crescimento e amadurecimento de muitos jovens que, às vezes silenciados e silenciosos, não vivem plenamente a idade juvenil.

 

O Sínodo Pan-Amazônico, diante das juventudes dos nove países da região, elencou ainda outras fragilidades ainda mais críticas: “extrativistas, migrantes, refugiados, entre outros. Jovens moradores de áreas rurais e urbanas, gravidez precoce, desemprego, depressão, tráfico de pessoas, novas formas de escravidão, tráfico de órgãos, dificuldades de acesso à educação, saúde e assistência social. Infelizmente, nos últimos anos, tem havido um aumento significativo do suicídio entre os jovens, bem como um aumento da população prisional juvenil e de crimes entre e contra os jovens, especialmente afrodescendentes e periféricos (Documento Final do Sínodo Pan-amazônico, 30). A Igreja chora, diz o Papa Francisco, porque ela é mãe e não pode ficar anestesiada diante desta complexa realidade (CV, 75). São fragilidades que precisamos assumir como um todo, uma cruz que devemos carregar como Cirineus de hoje. Porém, não temos o direito de renunciar, pois, a “misericórdia e a compaixão também se expressam chorando” (CV, 76).

 

As feridas abertas

Há feridas que estão sangrando na vida de tantos jovens que nos procuram ou até convivem conosco, mas que lhes custa falar delas ou não encontram samaritanos e samaritanas que lhes ajudem a curar as chagas abertas. Assim, faz-se urgente crescer o sentido da comunidade cristã que desce de seus preconceitos, suas certezas, seus cultos e templos vistosos, para acolher os jovens com gestos de abraço, escuta e acolhida concretas (CV, 77). Não basta querer bem aos jovens, é preciso aceitá-los com suas fragilidades e levá-los até o pronto atendimento, sem burocracias, sem condicionamentos, mas guiados pela compaixão, movidos pelas palavras de Jesus: “Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados” (Mt 5,4).

 

Em meio a esta situação de sangramento, de veias juvenis abertas em nossa sociedade, há uma cultura que ganha força e mata: é o provisório, o descarte. Um jeito desumano de desejar a estética juvenil, sua beleza física, mas é apenas o roubo do valor que os jovens devem ter enquanto ser humano em processo de amadurecimento (CV, 79). Neste sentido, abre-se mais ainda a ferida da crise geracional, quando adultos e jovens não conseguem mais conviver, dialogar, assimilar valores, dando lugar a um estilo de vida no qual o adulto quer ser eternamente jovem e os jovens envelhecem por antecipação (CV, 80). Assim, muitos jovens são descartados das comunidades, tolerados nas organizações paroquiais e até desvalorizados em seus ideais.

 

As saídas

Os jovens passam boa parte do tempo nas “praças digitais” (CV, 87). Ali eles encontram uma possibilidade de diálogo, de encontro e até de acolhida. No entanto, não basta apenas este contato virtual, é preciso manter o encontro pessoal, as relações de amizade para saber vencer as fragilidades e feridas das armadilhas digitais, sobretudo das fake news (CV, 89), quando se perde completamente o sentido da verdade, da busca de sentido e da cura pessoal. A mentira apenas aprofunda as feridas da alma.

 

É preciso reforçar a esperança e a alegria dos jovens. Os jovens não podem ser uma fotocópia da vida divina, mas a expressão da criação de Deus que clama por libertação (CV, 107). Ser jovem, afirma Francisco, não é apenas ter sucesso, ser belo, esteticamente perfeito, mas saber entregar-se com generosidade numa causa de significado, pois somente Jesus é capaz de fazer novas todas as coisas (CV, 108-110; Documento Final do Sínodo Pan-Amazônico, 32-33).

 

Padre João da Silva Mendonça Filho, SDB, é mestre em Educação pela Pontifica Universidade Salesiana de Roma/Itália com especialização em Metodologia Vocacional, e pós-graduado em Comunicação pelo SEPAC/SP e PUC/SP.

 

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