Desde o início do seu pontificado, o Papa Francisco fala da nossa vocação como guardiões da criação. Em sua homilia para o início do ministério petrino, ele disse: "Guardemos Cristo na nossa vida, para guardar os outros e também para guardar a criação".
Há 5 anos, em 2015, a Organização das Nações Unidas (ONU) lançou a Agenda 2030 e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, aprovados por mais de 190 países. Nesse contexto, Papa Francisco, pautado na doutrina social da Igreja, praticamente às vésperas da conferência da ONU (maio do mesmo ano), presenteia toda a humanidade com sua carta-encíclica - ressaltando a importância do cuidado para com a Casa Comum.
Na Laudato Si, o Papa Francisco recorre à longa tradição do Magistério Social da Igreja. A encíclica apresenta a situação atual sobre a questão socioambiental e aponta para um horizonte a ser alcançado, indicando orientações para esse caminho que deve ser trilhado por toda a humanidade sob o prisma de uma ecologia integral.
Embora ofereça algumas sugestões de linhas de ação, Papa Francisco não reduz o desafio a uma lista de coisas a fazer. Pelo contrário, afirma que viver a Laudato Si diz respeito a um novo modelo de vida e, por isso, deve se fazer vida em nossa vida cotidiana.
A Casa Comum
Só existe um planeta onde todos nós habitamos e nos relacionamos independentemente de raça, cor, etnia, sexo e classe social. O cuidado com a Casa Comum deve ser nossa resposta amorosa e repleta de gratidão a Deus pelo dom gratuito da criação. Assim como a natureza, o ser humano também foi criado por Deus. Por isso, cada um de nós tem a missão de cuidar da Casa Comum, visto que a criação nos foi dada como dom gratuito de Deus. Criador, natureza e humanidade estão intrinsicamente relacionados.
É muito comum, em uma casa, as tarefas serem distribuídas entre seus moradores afim de que exista uma relação harmônica e um cuidado com o ambiente em que se vive permanentemente. Assim, deve, também, ser feito em nossa Casa Comum. As divisões de tarefas devem ocorrer nas diferentes instâncias sociais, políticas, econômicas, culturais e nas diferentes escalas do local ao global.
Ações mais solidárias devem gerar um mundo mais interdependente e consciente dos danos, advindos do acúmulo de capital, e que geram o aumento da exclusão social e a degradação ambiental, impactando no equilíbrio e na saúde do planeta e da humanidade.
“Tudo está interligado”
Inegavelmente, afirmamos, juntamente com o Papa Francisco, que “tudo está interligado em nossa Casa Comum” (LS91). Nesses tempos, mais do que nunca, estamos sentindo, em nossa própria vida, devido aos efeitos da pandemia do COVID-19, que a forma como nos relacionamos com a natureza está andando na contramão.
Estamos colhendo os frutos de nossas más escolhas, em que prevaleceu o consumo, onde o ser humano não era o centro para a tomada de decisões e onde a natureza era vista como algo a ser utilizado de forma descartável.
Papa Francisco nos aponta a educação como metodologia a ser seguida para se chegar ao reconhecimento pleno de que, em nossa Casa Comum, “tudo está interligado” (LS91). A transformação é de intra-homem para extra-homem, ou seja, parte do interior de cada ser humano, por isso, gera transformações pessoais e sociais.
Educar para a cidadania ecológica
A educação traz consigo a missão de criar uma cidadania ecológica, assumindo o compromisso de cuidar da criação por meio de pequenas ações diárias; de consolidar costumes, motivações e mudança de mentalidade quanto ao consumo de bens e serviços, visando uma mudança no estilo de vida de toda humanidade, onde os frutos, a serem colhidos, sejam o bem-estar, a qualidade de vida e o acesso para todos, indistintamente, aos direitos fundamentais de todo ser humano.
Educar para a cidadania ecológica não significa apenas se abrir para acolher a diversidade humana e sentir-se responsáveis pelo ambiente social, mas, também, educar para o respeito do ambiente em sua totalidade.
Nos comprometemos neste caminho, como Família Salesiana, porque somos, em essência, educadores e educadoras: consagrados, consagradas, leigos e jovens que vivem com fidelidade e criatividade o carisma salesiano. Por isso, caminhamos junto aos jovens e às jovens, acreditando em seu protagonismo, assim como fizeram Dom Bosco e Madre Mazzarello.
Sistema Preventivo
A pedagogia salesiana é o Sistema Preventivo, que traz consigo a defesa e escolha preferencial pelos mais fracos e mais vulneráveis. O Carisma Salesiano é a favor das crianças, dos adolescentes e dos jovens da classe trabalhadora, especialmente dos mais pobres.
A educação e a formação integral dos jovens são o centro das ações. Em nossas obras, os processos não terminam com um certificado, ao final de cada ciclo formativo. Pelo contrário, procuramos promover experiências de cidadania e de pertencimento à Igreja, de modo que os jovens possam continuar, mesmo depois de deixarem nossos ambientes educativos.
Devemos formar os jovens para uma responsabilidade social e comunitária, abertos à solidariedade, conscientes de seus direitos e deveres, sensíveis ao “clamor da terra e o clamor dos pobres” (LS12), para que descubram sua identidade como membros da sua própria comunidade e família humana, comprometidos com a história e no legado a ser deixado às gerações futuras.
Sendo assim, nossa meta é formar bons cristãos e honestos cidadãos, como dizia Dom Bosco. Concretamente, isso implica afirmar que, para nós, a educação é uma prática de liberdade que permite transformar corações que assumam verdadeiramente sua missão de guardiões da criação.
Essas são as sementes que lançamos diariamente na construção de um mundo novo para que a Casa Comum se torne um lugar melhor para todos. Só assim seremos felizes aqui e na eternidade.
Irmã Celene Couto Rodrigues, FMA, é graduada em Geografia pela Universidade Gama Filho no Rio de Janeiro e animadora Laudato Si credenciada pelo Movimento Católico Global pelo Clima. Atualmente é coordenadora de Pastoral da obra social Recanto da Cruz Grande, em Itapevi, SP.