O sistema salesiano e a pedagogia da reciprocidade

Terça, 31 Março 2020 12:57 Escrito por  Pe. Reinaldo Barbosa de Oliveira, SDB
A Pedagogia Salesiana se norteia pelo Sistema Preventivo de Dom Bosco, cuja crença era que os jovens eram agentes de sua própria história e poderiam ser potencialmente estimulados à prática do bem.  

O Sistema Preventivo de Dom Bosco é uma forma de pedagogia da liberdade comprovadamente adequada para a educação dos jovens, tem suas origens alicerçadas nas Sagradas Escrituras, trabalha o desenvolvimento futuro, é rico de promessas e perspectivas. Dom Bosco nos deixou a herança de despertar nos educadores a disposição para transmitir a mensagem do amor, do trabalho e da alegria; mensagem que deve ser rígida sem perder a doçura, franca sem ser ameaçadora, mas, principalmente, deve nascer da experiência vivida pelo educador, pois Dom Bosco construiu um sistema a partir da sua própria experiência.

 

O Sistema Preventivo está mais centrado na criança e nos limites de sua idade, portanto, com uma assistência assídua e amorosa do educador, que paternal ou maternalmente está presente, aconselha e ampara. Na contemporaneidade, essa é a pedagogia da reciprocidade, onde a empatia é aquele ato que consente de olhar o outro com calor, raiva, afeto, simpatia, em outras palavras, de compreendê-lo com um olhar humano, de acolhê-lo com uma palavra humana, onde se considera o outro não como objeto, mas como sujeito.

 

Amor e reciprocidade

Prevenir atualmente se transmuta na oferta de alternativas que conduzam o educando a efetuar escolhas significativas para sua vida. Um sistema de educação que em muito supera o sistema repressivo linear que, desde o tempo de Dom Bosco, já direcionava o educador a ser mero cumpridor das ordens. A novidade do Sistema Preventivo (do qual Dom Bosco não é o criador, mas sim um grande promotor e sobretudo experimentador) baseia-se em sua fidelidade às fontes inspiradoras que têm a ver com a preocupação por fazer realidade a plena humanidade da criança e do jovem a partir do reconhecimento de sua perfectibilidade, da educabilidade, em chave evangélica. Aqui soa, como sentido, o “sede perfeitos como meu Pai é perfeito” (Mt 5,48).

 

Dom Bosco, ao falar do Sistema Preventivo, afirma que ele consiste em dar a conhecer prescrições e regulamentos de um instituto, e vigiar de maneira que os alunos tenham sempre sobre si o olho solícito do diretor e dos assistentes, os quais como pais amorosos, falam e servem como guia em toda circunstância, dão conselhos e corrigem com amabilidade.

 

Dom Bosco acentua a presença amorosa dos educadores entre as crianças e os jovens para guiá-los e corrigi-los a tempo. E quando se dirige a eles, diz: “Acreditem que seus superiores estão conscientes da grave obrigação que têm de promover o melhor para o crescimento de vocês, e que quando lhes dão um aviso ou corrigem, querem apenas seu bem. Respeitem-nos, amem-nos, abram-lhes o coração com a certeza de que só desejam a felicidade de vocês, respeitem seus companheiros porque são irmãos e procurem estimular-se reciprocamente com o bom exemplo”.

 

A partir de uma visão integralmente cristã, Dom Bosco oferece sua mensagem a todos e implica na sua obra a mulher, valorizando sua potencialidade formativa uma vez que reconhece em Maria Mazzarello a arte de viver em chave feminina o Sistema Preventivo. Uma pobre camponesa, enfrentando o machismo de seu tempo e todos os desafios que vieram em “contramão”, não se abateu, teve ‘olhares de esperança’ e com coragem, sabedoria e paciência, soube tecer suas religiosas com afeto maternal, atingindo com maestria e feminilidade a arte de educar.

 

Assim podemos constatar que “comunicar para Maria Mazzarello não é só falar, senão, pôr em comum, dar e receber através das antenas sensíveis de seu coração”. Por isso Mazzarello não teme, ao contrário, favorece e provoca o diálogo. Vive e promove no seu tempo a reciprocidade.

 

Valores pedagógicos

Aqui, como em Dom Bosco, não é o Sistema Preventivo o que define a posição existencial, senão a opção fundamental pelo Reino, que é Jesus, os valores evangélicos, que colocam em prática tais sistemas teóricos. Os valores que inspiram os movimentos pedagógicos, nomeadamente a afirmação da vida, dignidade do homem, honra, virtude, ciência e poder devem se harmonizar plenamente para assim configurarem o ideal humano. Dom Bosco sempre acreditou que a educação libertaria o homem e que este seria também um agente de libertação.

 

Assim, afirmamos que o Sistema Preventivo é o nosso ‘modo’ salesiano de ser; mais que um método, é uma espiritualidade. Uma pedagogia da presença, não meramente física (que também se faz importante), mas de uma presença que vai além dos ‘muros’. A pergunta é desafiadora: Como ser presença hoje em tantos pátios existenciais?

 

Uma escola deve ser concebida como espaço educativo para aprender a aprender, a conviver; a crer; a ser e a fazer. Isso tudo requer pensar a escola como espaço privilegiado de comunicação de ideias e ideais, reflexão e ação, solidariedade e respeito às diferenças. A educação é exercício de humanização, é fé profunda na pessoa e na sua perfectibilidade.

 

 

Padre Reinaldo Barbosa de Oliveira, SDB, é mestre em Ciências da Educação pela Pontifícia Universidade Salesiana de Roma, psicopedagogo clínico e institucional e atualmente é diretor do Instituto Nossa Senhora Auxiliadora de Cruzeiro, SP.

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O sistema salesiano e a pedagogia da reciprocidade

Terça, 31 Março 2020 12:57 Escrito por  Pe. Reinaldo Barbosa de Oliveira, SDB
A Pedagogia Salesiana se norteia pelo Sistema Preventivo de Dom Bosco, cuja crença era que os jovens eram agentes de sua própria história e poderiam ser potencialmente estimulados à prática do bem.  

O Sistema Preventivo de Dom Bosco é uma forma de pedagogia da liberdade comprovadamente adequada para a educação dos jovens, tem suas origens alicerçadas nas Sagradas Escrituras, trabalha o desenvolvimento futuro, é rico de promessas e perspectivas. Dom Bosco nos deixou a herança de despertar nos educadores a disposição para transmitir a mensagem do amor, do trabalho e da alegria; mensagem que deve ser rígida sem perder a doçura, franca sem ser ameaçadora, mas, principalmente, deve nascer da experiência vivida pelo educador, pois Dom Bosco construiu um sistema a partir da sua própria experiência.

 

O Sistema Preventivo está mais centrado na criança e nos limites de sua idade, portanto, com uma assistência assídua e amorosa do educador, que paternal ou maternalmente está presente, aconselha e ampara. Na contemporaneidade, essa é a pedagogia da reciprocidade, onde a empatia é aquele ato que consente de olhar o outro com calor, raiva, afeto, simpatia, em outras palavras, de compreendê-lo com um olhar humano, de acolhê-lo com uma palavra humana, onde se considera o outro não como objeto, mas como sujeito.

 

Amor e reciprocidade

Prevenir atualmente se transmuta na oferta de alternativas que conduzam o educando a efetuar escolhas significativas para sua vida. Um sistema de educação que em muito supera o sistema repressivo linear que, desde o tempo de Dom Bosco, já direcionava o educador a ser mero cumpridor das ordens. A novidade do Sistema Preventivo (do qual Dom Bosco não é o criador, mas sim um grande promotor e sobretudo experimentador) baseia-se em sua fidelidade às fontes inspiradoras que têm a ver com a preocupação por fazer realidade a plena humanidade da criança e do jovem a partir do reconhecimento de sua perfectibilidade, da educabilidade, em chave evangélica. Aqui soa, como sentido, o “sede perfeitos como meu Pai é perfeito” (Mt 5,48).

 

Dom Bosco, ao falar do Sistema Preventivo, afirma que ele consiste em dar a conhecer prescrições e regulamentos de um instituto, e vigiar de maneira que os alunos tenham sempre sobre si o olho solícito do diretor e dos assistentes, os quais como pais amorosos, falam e servem como guia em toda circunstância, dão conselhos e corrigem com amabilidade.

 

Dom Bosco acentua a presença amorosa dos educadores entre as crianças e os jovens para guiá-los e corrigi-los a tempo. E quando se dirige a eles, diz: “Acreditem que seus superiores estão conscientes da grave obrigação que têm de promover o melhor para o crescimento de vocês, e que quando lhes dão um aviso ou corrigem, querem apenas seu bem. Respeitem-nos, amem-nos, abram-lhes o coração com a certeza de que só desejam a felicidade de vocês, respeitem seus companheiros porque são irmãos e procurem estimular-se reciprocamente com o bom exemplo”.

 

A partir de uma visão integralmente cristã, Dom Bosco oferece sua mensagem a todos e implica na sua obra a mulher, valorizando sua potencialidade formativa uma vez que reconhece em Maria Mazzarello a arte de viver em chave feminina o Sistema Preventivo. Uma pobre camponesa, enfrentando o machismo de seu tempo e todos os desafios que vieram em “contramão”, não se abateu, teve ‘olhares de esperança’ e com coragem, sabedoria e paciência, soube tecer suas religiosas com afeto maternal, atingindo com maestria e feminilidade a arte de educar.

 

Assim podemos constatar que “comunicar para Maria Mazzarello não é só falar, senão, pôr em comum, dar e receber através das antenas sensíveis de seu coração”. Por isso Mazzarello não teme, ao contrário, favorece e provoca o diálogo. Vive e promove no seu tempo a reciprocidade.

 

Valores pedagógicos

Aqui, como em Dom Bosco, não é o Sistema Preventivo o que define a posição existencial, senão a opção fundamental pelo Reino, que é Jesus, os valores evangélicos, que colocam em prática tais sistemas teóricos. Os valores que inspiram os movimentos pedagógicos, nomeadamente a afirmação da vida, dignidade do homem, honra, virtude, ciência e poder devem se harmonizar plenamente para assim configurarem o ideal humano. Dom Bosco sempre acreditou que a educação libertaria o homem e que este seria também um agente de libertação.

 

Assim, afirmamos que o Sistema Preventivo é o nosso ‘modo’ salesiano de ser; mais que um método, é uma espiritualidade. Uma pedagogia da presença, não meramente física (que também se faz importante), mas de uma presença que vai além dos ‘muros’. A pergunta é desafiadora: Como ser presença hoje em tantos pátios existenciais?

 

Uma escola deve ser concebida como espaço educativo para aprender a aprender, a conviver; a crer; a ser e a fazer. Isso tudo requer pensar a escola como espaço privilegiado de comunicação de ideias e ideais, reflexão e ação, solidariedade e respeito às diferenças. A educação é exercício de humanização, é fé profunda na pessoa e na sua perfectibilidade.

 

 

Padre Reinaldo Barbosa de Oliveira, SDB, é mestre em Ciências da Educação pela Pontifícia Universidade Salesiana de Roma, psicopedagogo clínico e institucional e atualmente é diretor do Instituto Nossa Senhora Auxiliadora de Cruzeiro, SP.

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