Ressurreição: creio na vida eterna

Quarta, 28 Março 2018 14:56 Escrito por  Pe. Marcos Sandrini, SDB
Ressurreição: creio na vida eterna Imagem: iStock.com
A finalidade principal da vida não é sobreviver, mas viver com dignidade. Viver com dignidade é viver com sentido, construindo pontes, construindo amizades profundas e radicais, amando numa dimensão de eternidade.  

A humanidade sempre teve uma preocupação muito grande com o além morte. O que acontece com cada pessoa após a morte? A cultura greco-romana procurou dar uma resposta a esta inquietação. Para romanos e gregos a pessoa é imortal. Só que esta imortalidade era vista não como uma continuação da pessoa concreta, corpo e alma, mas segundo três visões. Primeiro, a pessoa era imortal porque continuava sua vida nos filhos que gerava. Segundo, ela era imortal por causa dos feitos heroicos que produziu. Finalmente, era imortal porque se dissolvia e voltava para a natureza. Só que este tipo de imortalidade não atrai ninguém, porque não há uma resposta para a pessoa em sua busca de sobrevivência pessoal após a morte.

 

Luc Férry, filósofo francês, escreveu um livro intitulado Aprender a Viver. Neste livro ele afirma que o cristianismo teve um crescimento avassalador na vida e cultura da Grécia e de Roma porque enfrentou a questão da imortalidade da pessoa após a morte. A vida começa e não mais termina. Não é uma imortalidade impessoal que não dá sentido ao viver. A fé na ressurreição diz que teremos o mesmo destino de Jesus. Começamos e na hora de nossa morte Deus nos ressuscita para a vida eterna. Isto é fonte de atração e de consolação para as pessoas porque responde aos anseios pessoais de cada um de nós. Queremos viver para sempre.

 

Uma viagem de amor

A vida humana é uma longa e cativante viagem de amor. Nascemos porque Deus assim o quis e ele o quis por amor. No livro do profeta Jeremias encontramos escrito que “antes que tu nascesses no seio da tua mãe eu te conhecia e te consagrei” (Jr 1,5). Jesus assumiu a nossa vida, viveu nossas esperanças e nossas angústias. Nasceu numa gruta e nela encontrou uma mulher e um homem, Maria e José, que foram uma presença de amor. Escapou da trama do Rei Herodes e se exilou no Egito, sempre protegido amorosamente por Maria e José. Caminhou nas estradas da Galileia, da Samaria e da Judeia e encontrou pessoas que o acolheram por amor. Morreu na cruz e mesmo nesta crueldade derradeira encontrou homens e mulheres que não o abandonaram.

 

Por amor, encontrou um desconhecido que emprestou o túmulo para repousar seu corpo. Por amor, no entanto, Deus o ressuscitou também. O amor não tem fim. Ele é mais forte que a morte. Não é possível comprometer-se apenas por algum tempo. É importante comprometer-se para sempre por amor. Viver flutuando preenche vazios e abre outros. Viver fixando-se em pessoas concretas, também e sobretudo em Deus, preenche uma vida para sempre.

 

A caminhada da humanidade procura respostas para a imortalidade. Grande parte da humanidade acredita na reencarnação. A motivação principal é a conciliação de um Deus bondoso e misericordioso que não pode conviver com uma sentença de condenação eterna construída apenas durante uma vida. Então, é necessário ter outras vidas para poder purificar-se até chegar à salvação eterna. É preciso compreender quem acredita na reencarnação. E estamos rodeados por estas pessoas.

 

Deus nos ama numa dimensão de eternidade

É importante apresentarmos as motivações cristãs e evangélicas de imortalidade. A finalidade principal da vida não é sobreviver, mas viver com dignidade. Viver com dignidade é viver com sentido, construindo pontes, construindo amizades profundas e radicais, amando numa dimensão de eternidade. A vida é uma só... Além do mais, após a morte cada pessoa ressuscita na integralidade. Não é apenas a alma que ressuscita. O corpo também, embora sendo material, pela intervenção de Deus, ressuscita e vive para sempre. Como acontecerá isso? Este é o derradeiro milagre e o grande Mistério amorosamente guardado por Deus para nos presentear em nosso derradeiro e definitivo encontro com Ele. Este é o grande anúncio cristão: Deus nos ama numa dimensão de eternidade.

 

Nossa missão é fazer com que a ressurreição não aconteça apenas no final de nossa vida. Por que amar apenas após a morte? Por que alegrar-se apenas após a morte? Esta vida é um vale de lágrimas ou é um rio de alegrias? Nossas alegrias atingem nosso corpo. Por ele nos encarnamos no mundo, nos relacionamos com pessoas concretas, vivemos num tempo determinado, somos mortais, somos sexuados, nos comunicamos com os outros. Nossas alegrias atingem também nossa alma. Vivemos intensamente um projeto de vida, buscamos a verdade, admiramos a beleza, acreditamos na bondade. Olhamos o mundo não apenas no que ele é, mas também no que ele será com o nosso empenho. Quem assim vive, no dia de sua morte vai viver tudo isto com uma intensidade imensa na companhia do Senhor da Vida e da Esperança.

 

Todos ressuscitaremos

O mundo, porém, não oferece apenas o que apresentamos acima. Ele também está perpassado de maldade, de feiura, de mentiras. A quem vive este projeto está prometida a condenação eterna. No entanto, na bondade e na misericórdia de Deus, quem está nessa condição? Este é o grande Mistério que só será revelado no dia do juízo final.

 

Todos ressuscitaremos, isto é, viveremos definitivamente numa dimensão de amor eterno com toda a humanidade. Jesus nos precedeu. Ele é o Ressuscitado primeiro, o mirante de onde contemplamos a vida em sua plenitude e profundidade. O que Ele é, nós seremos. Ele ressuscitou para a vida eterna feliz por causa da vida que levou. Vida como Jesus viveu dá certo porque é o caminho escolhido por Deus para seu Filho. Não aceitou a prepotência dos poderosos, incluiu quem estava marginalizado, chamou a atenção para o sofrimento escondido, não se apropriou dos bens de uma forma esganada, mostrou que a vida é mais do que vemos e que é preciso contemplar o Invisível e Misterioso, não aceitou o desprezo ao corpo. Por isso o cristão é convidado a ler e meditar o Evangelho para “amar como Jesus amou, sonhar como Jesus sonhou, pensar como Jesus pensou, viver o que Jesus viveu, sentir o que Jesus sentia, sorrir como Jesus sorria” (P. Zezinho).

 

A esperança na Ressurreição na tradição salesiana

A Páscoa marca profundamente a vida salesiana. Apenas dois fatos para comprovar isso. O primeiro é que Dom Bosco transferiu definitivamente o Oratório para a Casa Pinardi no dia de Páscoa de 1846. Na capela desta casa existe uma pintura do Ressuscitado. O outro fato é que Dom Bosco foi canonizado, isto é, declarado santo, na Páscoa de 1934. Foi o único santo canonizado num dia de Páscoa. O Papa Pio XI declarou Dom Bosco “apóstolo da juventude, inteiramente dedicado à glória de Deus e à salvação das almas”. A grande obsessão de Dom Bosco foi a salvação de seus jovens. “Eu os quero ver felizes no tempo e na eternidade”. A eternidade se completa na morte e na ressurreição pessoal de cada um. Esta é a missão dos que se inspiram em Dom Bosco. Salvar as pessoas para a felicidade aqui e para sempre.

 

Conclusão

Além da ressurreição e da reencarnação encontramos pessoas que não acreditam na vida eterna. Até pouco tempo havia uma discriminação muito grande para com estas pessoas, os ateus. Também eles procuram o sentido da vida e razões para viver e para sonhar. A convivência com quem pensa o mundo de forma diferente é um caminho sem volta. Ateus, cristãos, reencarnacionistas... buscamos viver e ajudar a viver com dignidade. Afinal, o amor de Deus em Jesus não foi e não será em vão para quem encontrou o Amor. A Ressurreição pessoal é o encontro amoroso de pessoas que se amam: Deus e cada um de nós.

 

Jesus Cristo e Maria nos antecederam. Nós caminhamos nessa direção. Pés no chão e olhar no horizonte da vida eterna.

 

Padre Marcos Sandrini, SDB, é coordenador de Assuntos Comunitários da Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre, RS.
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Última modificação em Quarta, 27 Abril 2022 14:08

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Ressurreição: creio na vida eterna

Quarta, 28 Março 2018 14:56 Escrito por  Pe. Marcos Sandrini, SDB
Ressurreição: creio na vida eterna Imagem: iStock.com
A finalidade principal da vida não é sobreviver, mas viver com dignidade. Viver com dignidade é viver com sentido, construindo pontes, construindo amizades profundas e radicais, amando numa dimensão de eternidade.  

A humanidade sempre teve uma preocupação muito grande com o além morte. O que acontece com cada pessoa após a morte? A cultura greco-romana procurou dar uma resposta a esta inquietação. Para romanos e gregos a pessoa é imortal. Só que esta imortalidade era vista não como uma continuação da pessoa concreta, corpo e alma, mas segundo três visões. Primeiro, a pessoa era imortal porque continuava sua vida nos filhos que gerava. Segundo, ela era imortal por causa dos feitos heroicos que produziu. Finalmente, era imortal porque se dissolvia e voltava para a natureza. Só que este tipo de imortalidade não atrai ninguém, porque não há uma resposta para a pessoa em sua busca de sobrevivência pessoal após a morte.

 

Luc Férry, filósofo francês, escreveu um livro intitulado Aprender a Viver. Neste livro ele afirma que o cristianismo teve um crescimento avassalador na vida e cultura da Grécia e de Roma porque enfrentou a questão da imortalidade da pessoa após a morte. A vida começa e não mais termina. Não é uma imortalidade impessoal que não dá sentido ao viver. A fé na ressurreição diz que teremos o mesmo destino de Jesus. Começamos e na hora de nossa morte Deus nos ressuscita para a vida eterna. Isto é fonte de atração e de consolação para as pessoas porque responde aos anseios pessoais de cada um de nós. Queremos viver para sempre.

 

Uma viagem de amor

A vida humana é uma longa e cativante viagem de amor. Nascemos porque Deus assim o quis e ele o quis por amor. No livro do profeta Jeremias encontramos escrito que “antes que tu nascesses no seio da tua mãe eu te conhecia e te consagrei” (Jr 1,5). Jesus assumiu a nossa vida, viveu nossas esperanças e nossas angústias. Nasceu numa gruta e nela encontrou uma mulher e um homem, Maria e José, que foram uma presença de amor. Escapou da trama do Rei Herodes e se exilou no Egito, sempre protegido amorosamente por Maria e José. Caminhou nas estradas da Galileia, da Samaria e da Judeia e encontrou pessoas que o acolheram por amor. Morreu na cruz e mesmo nesta crueldade derradeira encontrou homens e mulheres que não o abandonaram.

 

Por amor, encontrou um desconhecido que emprestou o túmulo para repousar seu corpo. Por amor, no entanto, Deus o ressuscitou também. O amor não tem fim. Ele é mais forte que a morte. Não é possível comprometer-se apenas por algum tempo. É importante comprometer-se para sempre por amor. Viver flutuando preenche vazios e abre outros. Viver fixando-se em pessoas concretas, também e sobretudo em Deus, preenche uma vida para sempre.

 

A caminhada da humanidade procura respostas para a imortalidade. Grande parte da humanidade acredita na reencarnação. A motivação principal é a conciliação de um Deus bondoso e misericordioso que não pode conviver com uma sentença de condenação eterna construída apenas durante uma vida. Então, é necessário ter outras vidas para poder purificar-se até chegar à salvação eterna. É preciso compreender quem acredita na reencarnação. E estamos rodeados por estas pessoas.

 

Deus nos ama numa dimensão de eternidade

É importante apresentarmos as motivações cristãs e evangélicas de imortalidade. A finalidade principal da vida não é sobreviver, mas viver com dignidade. Viver com dignidade é viver com sentido, construindo pontes, construindo amizades profundas e radicais, amando numa dimensão de eternidade. A vida é uma só... Além do mais, após a morte cada pessoa ressuscita na integralidade. Não é apenas a alma que ressuscita. O corpo também, embora sendo material, pela intervenção de Deus, ressuscita e vive para sempre. Como acontecerá isso? Este é o derradeiro milagre e o grande Mistério amorosamente guardado por Deus para nos presentear em nosso derradeiro e definitivo encontro com Ele. Este é o grande anúncio cristão: Deus nos ama numa dimensão de eternidade.

 

Nossa missão é fazer com que a ressurreição não aconteça apenas no final de nossa vida. Por que amar apenas após a morte? Por que alegrar-se apenas após a morte? Esta vida é um vale de lágrimas ou é um rio de alegrias? Nossas alegrias atingem nosso corpo. Por ele nos encarnamos no mundo, nos relacionamos com pessoas concretas, vivemos num tempo determinado, somos mortais, somos sexuados, nos comunicamos com os outros. Nossas alegrias atingem também nossa alma. Vivemos intensamente um projeto de vida, buscamos a verdade, admiramos a beleza, acreditamos na bondade. Olhamos o mundo não apenas no que ele é, mas também no que ele será com o nosso empenho. Quem assim vive, no dia de sua morte vai viver tudo isto com uma intensidade imensa na companhia do Senhor da Vida e da Esperança.

 

Todos ressuscitaremos

O mundo, porém, não oferece apenas o que apresentamos acima. Ele também está perpassado de maldade, de feiura, de mentiras. A quem vive este projeto está prometida a condenação eterna. No entanto, na bondade e na misericórdia de Deus, quem está nessa condição? Este é o grande Mistério que só será revelado no dia do juízo final.

 

Todos ressuscitaremos, isto é, viveremos definitivamente numa dimensão de amor eterno com toda a humanidade. Jesus nos precedeu. Ele é o Ressuscitado primeiro, o mirante de onde contemplamos a vida em sua plenitude e profundidade. O que Ele é, nós seremos. Ele ressuscitou para a vida eterna feliz por causa da vida que levou. Vida como Jesus viveu dá certo porque é o caminho escolhido por Deus para seu Filho. Não aceitou a prepotência dos poderosos, incluiu quem estava marginalizado, chamou a atenção para o sofrimento escondido, não se apropriou dos bens de uma forma esganada, mostrou que a vida é mais do que vemos e que é preciso contemplar o Invisível e Misterioso, não aceitou o desprezo ao corpo. Por isso o cristão é convidado a ler e meditar o Evangelho para “amar como Jesus amou, sonhar como Jesus sonhou, pensar como Jesus pensou, viver o que Jesus viveu, sentir o que Jesus sentia, sorrir como Jesus sorria” (P. Zezinho).

 

A esperança na Ressurreição na tradição salesiana

A Páscoa marca profundamente a vida salesiana. Apenas dois fatos para comprovar isso. O primeiro é que Dom Bosco transferiu definitivamente o Oratório para a Casa Pinardi no dia de Páscoa de 1846. Na capela desta casa existe uma pintura do Ressuscitado. O outro fato é que Dom Bosco foi canonizado, isto é, declarado santo, na Páscoa de 1934. Foi o único santo canonizado num dia de Páscoa. O Papa Pio XI declarou Dom Bosco “apóstolo da juventude, inteiramente dedicado à glória de Deus e à salvação das almas”. A grande obsessão de Dom Bosco foi a salvação de seus jovens. “Eu os quero ver felizes no tempo e na eternidade”. A eternidade se completa na morte e na ressurreição pessoal de cada um. Esta é a missão dos que se inspiram em Dom Bosco. Salvar as pessoas para a felicidade aqui e para sempre.

 

Conclusão

Além da ressurreição e da reencarnação encontramos pessoas que não acreditam na vida eterna. Até pouco tempo havia uma discriminação muito grande para com estas pessoas, os ateus. Também eles procuram o sentido da vida e razões para viver e para sonhar. A convivência com quem pensa o mundo de forma diferente é um caminho sem volta. Ateus, cristãos, reencarnacionistas... buscamos viver e ajudar a viver com dignidade. Afinal, o amor de Deus em Jesus não foi e não será em vão para quem encontrou o Amor. A Ressurreição pessoal é o encontro amoroso de pessoas que se amam: Deus e cada um de nós.

 

Jesus Cristo e Maria nos antecederam. Nós caminhamos nessa direção. Pés no chão e olhar no horizonte da vida eterna.

 

Padre Marcos Sandrini, SDB, é coordenador de Assuntos Comunitários da Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre, RS.
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