Já alguns dias antes as condições de saúde do Pontífice Emérito tinham se agravado, também devido à idade, como referira a Sala de Imprensa, atualizando seu estado de saúde. O Papa Francisco também partilhou publicamente a notícia sobre a piora do estado de saúde do Predecessor, no final da última Audiência Geral do ano, em 28 de dezembro, quando convidou todos a rezarem pelo Papa Emérito, “muito doente”, para que Deus o consolasse e sustivesse “nesse Seu testemunho de amor pela Igreja, até o fim”. E em todos os Continentes se haviam logo multiplicado iniciativas de oração, com mensagens de solidariedade também do mundo não eclesial.
Nascido em 1927, filho de um gendarme, numa família simples e muito católica da Baviera, Alemanha, Joseph Ratzinger foi um dos protagonistas da Igreja do último século. Ordenado sacerdote com seu irmão, Georg, em 1951, se doutorou em Sagrada Teologia dois anos depois; e em 1957 obteve a habilitação para o ensino de Teologia Dogmática. Ensinou em Freising, Bonn, Munique, Tubinga e, por fim, em Ratisbona.
Com ele desaparece o último dos Pontífices envolvidos pessoalmente nos trabalhos do Concílio Vaticano II. De fato, muito jovem e já estimado teólogo, Ratzinger havia acompanhado de perto a Assembleia como perito do Cardeal Frings, de Colônia, e bem próximo da ala de reformas.
Paulo VI, em 1977, o nomeou, com apenas 50 anos, Arcebispo de Munique e, poucas semanas depois, o criou Cardeal. João Paulo II confiou-lhe, em novembro de 1981, a condução da Congregação para a Doutrina da Fé. Foi o início de uma união muito intensa entre o Papa polonês e o Teólogo bávaro, destinada a quebrar-se apenas com a morte do Papa João Paulo II. A obra mais importante foi certamente a elaboração do novo Catecismo da Igreja Católica, trabalho que durou seis anos, e que veio à luz em 1992.
Depois da morte de João Paulo II, o Conclave de 2005 o chamou a sucedê-lo. O Papa Bento XVI, já com 78 anos, se apresentou na Basílica Vaticana como “um humilde trabalhador na vinha do Senhor”.
Inicialmente reservado, não renunciou às viagens: também o seu pontificado foi itinerante como o do seu Predecessor. Entre os momentos mais tocantes, a visita a Auschwitz em maio de 2006, com o Papa alemão que diz: “Em um lugar como este, emudecem as palavras, quedando-se no profundo apenas um clamoroso silêncio – um silêncio que grita pelo rumo de Deus: ‘Por que pudestes tolerar tudo isto?”.
Bento XVI enfrentou viagens difíceis, confrontou-se com a secularização galopante de sociedades descristianizadas e com dissensos internos na Igreja. Celebrou seu aniversário na Casa Branca, junto com George Bush Jr; e, alguns dias depois, em 20 de abril de 2008, rezou em Ground Zero, abraçando os parentes das vítimas do ‘11 de Setembro’.
Como Papa, falou acerca do “júbilo de ser cristãos”, e dedicou a sua primeira Encíclica ao Amor de Deus: “Deus caritas est”. “No Início do ser cristão – escreve - não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa”. Entre as decisões que recordar está o ’Motu proprio' que liberaliza o Missal Romano pré-conciliar e a instituição de um ‘Ordinariato’ para permitir o retorno à comunhão com Roma das Comunidades anglicanas.
Os últimos anos de seu pontificado foram marcados por nova explosão dos escândalos da pedofilia e do Vatileaks - fuga de documentos subtraídos da escrivaninha papal e publicados em livro. Bento XVI foi determinado e duro ao enfrentar o problema da “sujeira” dentro da Igreja. Introduziu regras severíssimas contra o abuso de menores e chegou a dizer que a perseguição mais grave contra a Igreja não vinha de seus inimigos externos, mas do pecado no Seu interior.
Perante os escândalos e o carreirismo eclesiástico, Bento XVI continuou a chamar à conversão, à penitência e à humildade. Durante a última viagem à Alemanha, em setembro de 2011, convidou a Igreja a ser menos mundana: “Liberta dos fardos e dos privilégios materiais e políticos, a Igreja poderá dedicar-se melhor e em modo realmente cristão a todo o mundo: pode estar realmente aberta ao mundo…”.
No Consistório ordinário de 11 de fevereiro de 2013, anunciou a renúncia “ao Ministério de Bispo de Roma, Sucessor de São Pedro” com a decorrente ‘sede vacante’ em 28 do mesmo mês.
Fonte: Vatican News/ Agência Info Salesiana - ANS