Neste ano em que comemoramos o 4º centenário da morte de São Francisco de Sales, estamos todos, juntamente com o Boletim Salesiano Brasil, conhecendo um pouco mais acerca desse grande homem, exemplo em humanidade e santidade. Não há dúvidas de que São Francisco de Sales, por meio de seu zeloso pastoreio, ensinou-nos grandes virtudes humanas como a paciência com nossa própria história e a possibilidade de sermos santos dentro do nosso próprio estilo e estado de vida, como leigo, pai e mãe de família, trabalhador, religioso, padre, entre outros.
São Francisco de Sales, por ser tão humano, mudou o seu tempo e traçou novos rumos para a nossa Igreja. Para ele, nada estava acima da pessoa humana, muito menos o pecado. Por isso, pregou incansavelmente o amor à pessoa, independentemente de sua condição ou de seus atos. Em uma conversa com Santa Joana Chantal ele disse: “Não tenhamos outra lei senão o amor”.
Notamos, assim, que São Francisco de Sales não era um legalista, mas um profundo humanista, capaz de reconhecer a debilidade da natureza humana, sem deixar de se esforçar por uma cotidiana e progressiva melhora. Em outra ocasião, ele ressaltou um pensamento que caminha justamente nessa direção: deve-se ter consciência dos erros, dos pecados, mas jamais dar atenção excessiva a eles, pois o que há de bom em cada homem e mulher, dons da graça de Deus, são elementos muito maiores. É uma perspectiva bastante interessante e um modo novo de ser cristão, pois para ele estava evidente que a graça de Deus é maior que todo o pecado.
Historicamente, quem foi Francisco de Sales? Um bispo, natural de Saboia, na França, região muito próxima ao Piemonte, norte da Itália, região de Dom Bosco. Para se ter uma ideia, entre Saboia e Castelnuovo d´Asti (cidade de Dom Bosco) há uma distância aproximada de apenas 250 quilômetros. Por essa razão, certamente, Dom Bosco ouviu falar muito em São Francisco de Sales.
Nesse sentido, surge a nossa pergunta: É possível pensar em Dom Bosco sem fazer referência a Francisco de Sales? Possivelmente sim, mas não o Dom Bosco que conhecemos hoje! Talvez nem mesmo o santo. Isso porque Dom Bosco carrega em sua vida elementos e traços característicos de São Francisco de Sales, que o ajudaram profundamente em seu ministério e em suas atividades pastorais.
A presença de São Francisco de Sales na vida de São João Bosco é tão profunda que ele decide chamar os seus filhos espirituais com o título de “Salesianos”, filhos amplamente conhecidos hoje como Família Salesiana. “Nos denominaremos ‘salesianos’, porque Francisco de Sales será o inspirador do nosso modo de estar com os jovens”. Todavia, Dom Bosco, em sua primeira missa, já o tem por modelo, e indica isso quando diz: “A caridade e a doçura de São Francisco de Sales me guiem em cada coisa!”.
Assim, desde o início do ministério sacerdotal, Dom Bosco segue São Francisco de Sales nas virtudes, sobretudo na doçura e na caridade. Entretanto, o Patrono da Juventude agregou outros elementos ao seu estilo de vida e à sua espiritualidade, provindos de Francisco de Sales. Dentre eles, o serviço pastoral, pois assim como Francisco de Sales foi um homem inteiramente imbuído da realidade, capaz de ir ao encontro do seu povo, especialmente, enquanto era bispo de Genebra, Dom Bosco também não se contentou com a sacristia da Igreja ou com a sala de estudos do Convito Eclesiástico, mas saia à procura de seus jovens em todos os lugares de Turim.
Uma outra característica de destaque que nosso Salésio possuía era a grande virtude de singularizar as pessoas, reconhecendo nelas suas particularidades, suas qualidades e pontos a crescer, fazendo-se, desse modo, amigo de cada um e cada uma. Nesta perspectiva, conforme pensa nosso Papa Francisco, era um pastor que conhecia o cheiro de suas ovelhas, atitude verificável por meio de suas cartas, escritas de forma personalizada a cada pessoa. Dom Bosco também possuía esse modo de agir, conhecia cada um de seus meninos pelo próprio nome, fazendo assim com que se sentissem amados e queridos; era a forma genuína de individualizar pessoas e marcar o coração de cada uma delas. No primeiro encontro buscava conhecer a história pessoal e familiar de cada jovem e tais fatos podem também ser consultados por meio de muitos escritos que contêm o testemunho de diversos educandos de Dom Bosco, dentre eles Beato Miguel Rua, Dom Orione, Beato José Allamano e São Domingos Sávio.
Falando, enfim, em cartas e escritos, Francisco de Sales é conhecido como o santo padroeiro dos escritores e jornalistas, exatamente porque usou dos meios de comunicação para falar do amor de Deus, de sua Igreja e da missão do cristão: ele atuou pastoralmente utilizando livros e folhetos, deixados por baixo das portas durante a noite. E sabemos que Dom Bosco serviu-se bastante desse meio em sua atuação pastoral e uma grande prova disso é o nosso Boletim Salesiano, fundado pelo próprio Dom Bosco no ano de 1877, há 145 anos, hoje presente em 132 países e em 31 idiomas.
Por meio, portanto, desses pequenos exemplos que poderiam facilmente ser estendidos, podemos perceber que não há possibilidade de um homem como São João Bosco, ao menos como o conhecemos hoje, sem a presença inspiradora de São Francisco de Sales. Não deixemos de agradecer a Deus por tamanhas preciosidades e continuemos a conhecer e a interiorizar suas virtudes na propagação da grande lei do amor, porque Deus é amor e quem vive no amor vive em Deus.
Fernando Campos Peixoto, SDB - Licenciado em Filosofia pelo Centro Universitário Claretiano, Bacharel em Teologia pela Universidade Católica Dom Bosco e mestrando em Educação pela Universidade Católica Dom Bosco.
