Animação vocacional e iniciação cristã

Segunda, 06 Mai 2013 21:38 Escrito por 
  Animação vocacional é saber proporcionar às pessoas, sobretudo aos jovens, um processo de conscientização da vida como vocação e serviço.   A iniciação cristã, define o Documento de Aparecida, é “propriamente falando, a primeira iniciação nos mistérios da fé, seja na forma do catecumenato batismal para os não batizados, seja na forma pós-batismal para os batizados não suficientemente catequizados” (DA, 288). A iniciação cristã é mergulhar a pessoa no mistério de Jesus Cristo. Não se trata, pura e simplesmente de receber um sacramento, mas de vivê-lo no encontro com o Salvador. Contudo, mergulhados como estamos numa cultura pós-cristã, é muito importante desenvolver a animação vocacional dentro dessa perspectiva catequética. Proponho, então, alguns elementos metodológicos que podem ajudar neste serviço.   O primeiro elemento de conscientização vocacional é a experiência de saber que foi iniciado na fé cristã. Isto quer dizer o seguinte: a pessoa precisa tomar consciência de que é um cristão, discípulo de Jesus Cristo, que recebeu o dom da fé, dádiva da liberdade de Deus, dentro da vivência, experiência e testemunho de uma comunidade cristã, educadora da fé. Começa aqui o amadurecimento da vida cristã como vocação – chamado – que se desdobra na fé celebrada, vivida, experimentada, compreendida, testemunhada e anunciada. Esse processo é dialogal porque acontece entre Deus que convoca a pessoa e a resposta generosa de quem se sente chamado, pois toda a assembleia dos fiéis é vocacionada. É muito importante sublinhar que no isolamento social e eclesial será cada vez mais difícil conscientizar alguém de que a vida é vocação.  

O segundo elemento deste processo é dialogal com a mediação da Igreja que acompanha. Na comunidade eclesial o catequista, o padre, o bispo, a religiosa, ou seja, todos os agentes da evangelização são os companheiros e interlocutores que tornam visível essa mediação eclesial. A família também é um agente, não obstante o clima complexo no qual os vínculos familiares hoje se desenvolvem. Quem realiza um processo iniciático precisa de acompanhamento para que as metas, os ritos e a experiência do mistério sejam possíveis. Imaginar uma animação vocacional sem um agente interlocutor que gere o diálogo e o confronto é tornar todo esse trabalho como a semente que cai na terra, mas não encontra terra boa para penetrar, morrer e ressurgir com todo o seu vigor. O diálogo é o lugar da preparação do bom terreno para a semente.

 

Outro ponto desta animação vocacional iniciática é o anúncio explícito e a acolhida do Evangelho na vida da pessoa de forma que produza a conversão, ou seja, uma mudança a partir de dentro, do quadro valórico da pessoa, que desemboque no seguimento de Jesus concretizado na vivência da caridade, porque a forma mais concreta da fé recebida é a caridade que leva a evangelizar. A pessoa iniciada na fé saboreia o ato de crer na ação evangelizadora, na qual se insere como resposta aos apelos de Deus. Vocação, portanto, é sempre resposta. Isso supõe abertura e acolhida da parte da pessoa para as várias formas de experiência eclesial: grupos, pastorais, associações laicais, ministérios eclesiais, congregações religiosas, institutos seculares. Observar e conviver com a diversidade da Igreja ajuda a perceber os apelos reais do cotidiano. A Igreja é um corpo vivo, cujos membros não são iguais, mas formam sua estrutura visível na riqueza de carismas e serviços. Compreender isto é fundamental para motivar o processo de conscientização vocacional.

 

O quarto elemento é a experiência do voluntariado para sentir mais de perto as dores e as angústias, alegrias e esperanças do Povo de Deus, onde o cristão não passa indiferente, mas se torna missionário segundo o dom recebido. É aqui, nesta fase da iniciação vocacional, que a mediação eclesial fará a proposta vocacional explícita à vida religiosa e ao presbiterado. O cristão jovem precisa ouvir esse apelo para que se sinta provocado e sensibilizado para uma ação concreta, o vinde e vede de Jesus. Nessa fase é muito importante apresentar aos iniciados as famílias religiosas com seus carismas específicos, o sentido sacramental do matrimônio, a espiritualidade presbiteral.

 

É fato que nos dias de hoje muitos jovens não conseguem entender o porquê de deixar de constituir uma família, ou ter alguém para partilhar da sexualidade; não conseguem entender as razões de uma vida pobre pelo Reino de Deus; não aceitam que a liberdade pode ser vivida na obediência radical ao Evangelho. Uma animação vocacional ao ritmo da iniciação cristã saberá respeitar os tempos, proporcionará acompanhamento, favorecerá a leitura orante da Palavra, a experiência do encontro com Jesus na liturgia, nos sacramentos e nos mais pobres, em vista de uma doação exclusiva a Deus.

 

O importante nesse processo é perceber o belo do chamado de Deus que não pede que sejamos infelizes, mas que nos chama a transcender no amor a partir da redescoberta do Mistério da Vida.

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Última modificação em Quinta, 28 Agosto 2014 17:58

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Animação vocacional e iniciação cristã

Segunda, 06 Mai 2013 21:38 Escrito por 
  Animação vocacional é saber proporcionar às pessoas, sobretudo aos jovens, um processo de conscientização da vida como vocação e serviço.   A iniciação cristã, define o Documento de Aparecida, é “propriamente falando, a primeira iniciação nos mistérios da fé, seja na forma do catecumenato batismal para os não batizados, seja na forma pós-batismal para os batizados não suficientemente catequizados” (DA, 288). A iniciação cristã é mergulhar a pessoa no mistério de Jesus Cristo. Não se trata, pura e simplesmente de receber um sacramento, mas de vivê-lo no encontro com o Salvador. Contudo, mergulhados como estamos numa cultura pós-cristã, é muito importante desenvolver a animação vocacional dentro dessa perspectiva catequética. Proponho, então, alguns elementos metodológicos que podem ajudar neste serviço.   O primeiro elemento de conscientização vocacional é a experiência de saber que foi iniciado na fé cristã. Isto quer dizer o seguinte: a pessoa precisa tomar consciência de que é um cristão, discípulo de Jesus Cristo, que recebeu o dom da fé, dádiva da liberdade de Deus, dentro da vivência, experiência e testemunho de uma comunidade cristã, educadora da fé. Começa aqui o amadurecimento da vida cristã como vocação – chamado – que se desdobra na fé celebrada, vivida, experimentada, compreendida, testemunhada e anunciada. Esse processo é dialogal porque acontece entre Deus que convoca a pessoa e a resposta generosa de quem se sente chamado, pois toda a assembleia dos fiéis é vocacionada. É muito importante sublinhar que no isolamento social e eclesial será cada vez mais difícil conscientizar alguém de que a vida é vocação.  

O segundo elemento deste processo é dialogal com a mediação da Igreja que acompanha. Na comunidade eclesial o catequista, o padre, o bispo, a religiosa, ou seja, todos os agentes da evangelização são os companheiros e interlocutores que tornam visível essa mediação eclesial. A família também é um agente, não obstante o clima complexo no qual os vínculos familiares hoje se desenvolvem. Quem realiza um processo iniciático precisa de acompanhamento para que as metas, os ritos e a experiência do mistério sejam possíveis. Imaginar uma animação vocacional sem um agente interlocutor que gere o diálogo e o confronto é tornar todo esse trabalho como a semente que cai na terra, mas não encontra terra boa para penetrar, morrer e ressurgir com todo o seu vigor. O diálogo é o lugar da preparação do bom terreno para a semente.

 

Outro ponto desta animação vocacional iniciática é o anúncio explícito e a acolhida do Evangelho na vida da pessoa de forma que produza a conversão, ou seja, uma mudança a partir de dentro, do quadro valórico da pessoa, que desemboque no seguimento de Jesus concretizado na vivência da caridade, porque a forma mais concreta da fé recebida é a caridade que leva a evangelizar. A pessoa iniciada na fé saboreia o ato de crer na ação evangelizadora, na qual se insere como resposta aos apelos de Deus. Vocação, portanto, é sempre resposta. Isso supõe abertura e acolhida da parte da pessoa para as várias formas de experiência eclesial: grupos, pastorais, associações laicais, ministérios eclesiais, congregações religiosas, institutos seculares. Observar e conviver com a diversidade da Igreja ajuda a perceber os apelos reais do cotidiano. A Igreja é um corpo vivo, cujos membros não são iguais, mas formam sua estrutura visível na riqueza de carismas e serviços. Compreender isto é fundamental para motivar o processo de conscientização vocacional.

 

O quarto elemento é a experiência do voluntariado para sentir mais de perto as dores e as angústias, alegrias e esperanças do Povo de Deus, onde o cristão não passa indiferente, mas se torna missionário segundo o dom recebido. É aqui, nesta fase da iniciação vocacional, que a mediação eclesial fará a proposta vocacional explícita à vida religiosa e ao presbiterado. O cristão jovem precisa ouvir esse apelo para que se sinta provocado e sensibilizado para uma ação concreta, o vinde e vede de Jesus. Nessa fase é muito importante apresentar aos iniciados as famílias religiosas com seus carismas específicos, o sentido sacramental do matrimônio, a espiritualidade presbiteral.

 

É fato que nos dias de hoje muitos jovens não conseguem entender o porquê de deixar de constituir uma família, ou ter alguém para partilhar da sexualidade; não conseguem entender as razões de uma vida pobre pelo Reino de Deus; não aceitam que a liberdade pode ser vivida na obediência radical ao Evangelho. Uma animação vocacional ao ritmo da iniciação cristã saberá respeitar os tempos, proporcionará acompanhamento, favorecerá a leitura orante da Palavra, a experiência do encontro com Jesus na liturgia, nos sacramentos e nos mais pobres, em vista de uma doação exclusiva a Deus.

 

O importante nesse processo é perceber o belo do chamado de Deus que não pede que sejamos infelizes, mas que nos chama a transcender no amor a partir da redescoberta do Mistério da Vida.

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