Ser missionário de quem?

Sexta, 26 Abril 2013 22:03 Escrito por 
  Nos contextos complexos da nossa condição humana atual precisamos refletir sobre as razoes do nosso ser missionário. Por que a missão é tão importante ainda hoje? O que significa evangelizar na era digital? Qual é o meu lugar na nova evangelização? Afinal, o que devo anunciar?   Desde seus inicios, a Igreja pautou sua atividade fundamental na missão porque Jesus de Nazaré foi o missionário do Pai. Andou por cidades e aldeias sempre embebido desta incansável ação. Seus seguidores, sobretudo Paulo de Tarso, depois do encontro misterioso com o Senhor às portas de Damasco, tornou-se evangelizador por excelência (1 Cor 9,16). Seguido depois por Barnabé, Tiago e Pedro, Paulo ficou marcado na Igreja antiga como o grande apóstolo dos pagãos. Suas viagens missionárias dão testemunho disto e ocupam sete capítulos dos Atos dos Apóstolos (13-21). O famoso discurso no areópago de Atenas (Atos 17,22-31) marca decididamente seu estilo visionário e místico diante da grande novidade que era Jesus. São também bastante significativas suas argumentações para defender seu ministério (Atos 22,1-21; 26, 9-18). A missão para Paulo era assim um projeto de vida assumido como vocação. Uma convocação que não nasceu simplesmente de uma opção, mas de um dever (1Cor 9, 17).  

Nos contextos complexos da nossa condição humana atual precisamos refletir sobre as razões do nosso ser missionário. Por que a missão é tão importante ainda hoje? O que significa evangelizar na era digital? Qual é o meu lugar na nova evangelização? Afinal, o que devo anunciar?

A compreensão da missão como anúncio para pessoas que não conhecem o Evangelho mudou. Evidentemente que muitos ainda não ouviram explicitamente o que seja a Palavra de Deus; contudo, somos conscientes de que as sementes do Verbo da vida já estão plantadas no mundo e nossa relação com as pessoas e culturas exige abertura, diálogo, despojamento e, sobretudo, conversão pastoral, senão continuaremos a mudar as palavras sem modificar a práxis.

Isto significa que eu, você e todos os chamados, temos um serviço relevante a desenvolver. Não acredito que haja um protagonista isolado, mas toda a comunidade do Povo de Deus está convocada, segundo os carismas pessoais e vocação, a evangelizar movida pelo chamado interior diante da verdade que é Jesus.

Mas quem é Jesus, a pessoa que temos de comunicar? A pergunta sobre Jesus é perene. Para seus contemporâneos, ele foi um homem sem importância. Nasceu num lugar povoado de pastores – pessoas pobres e sem importância –, conviveu com pescadores na Galileia, seus amigos eram quase todos pobres e desprovidos de poder religioso e politico. Seu pai e sua mãe eram simples e viviam em Nazaré, uma cidade perdida da Galileia. Jesus foi assim um piedoso judeu que viveu à margem do poder dominante. Contudo, sua palavra e seus gestos deixaram marcas profundas na história a tal ponto de modificar culturas diversas. Ainda hoje Ele continua revolucionando o mundo, fascinando pessoas. Ele continua morrendo ainda hoje nos pobres e ressuscita na esperança de um mundo novo porque o tempo não para.

Cada vocação cristã – seja à vida consagrada, ao matrimônio, ao presbiterado, ao voluntariado, seja aquela missionária -, emerge na sociedade e na Igreja como fruto do fascínio que Ele exerce sobre cada um de nós. E por Ele, com Ele e n’Ele, temos a coragem de responder generosamente sim, despojando-nos de nós mesmos na bela missão de evangelizar.

Contudo, para reconhecer o dom da vocação missionária é preciso reaprender a entender o mistério. Infelizmente, na sociedade atual há grandes perdas: perda da dimensão afetiva; perda da historicidade e do tempo; perda da capacidade de compromisso estável. Tudo isto gera fragilidade e vulnerabilidade. Portanto, o ser evangelizador começa quando buscamos entender as razões de nossa fé e o mistério de nossa vida. É muito importante considerar que cada momento da vida, encontro e desencontro, perdas e ganhos, são ocasiões de resposta, de crescimento, de verdade, de transformação. O mistério não está fora de nós, mas dentro de nós mesmos. O mistério se manifesta na dor e na alegria, na solidão e na companhia, no relacionamento harmônico e desarmônico. Tudo isso é lugar da manifestação de Deus que chama.

Um animador vocacional não pode ser alguém que responde, mas uma pessoa que sabe com paciência e habilidade cavar as respostas no mistério da pessoa, ajudando-a na formulação das perguntas. A vocação é sempre um processo dialogante entre Deus que chama no mais íntimo do ser humano no emaranhado de acontecimentos, pessoas e confrontos, e da pessoa que se pergunta e busca, muitas vezes, na escuridão dos sentidos, as respostas de significado.

Ser missionário é, então, saber responder e saber perguntar. Como Maria, não tenhamos medo de dizer: “Faça-se em mim segundo a Tua palavra”.

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Última modificação em Quinta, 28 Agosto 2014 18:00

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Ser missionário de quem?

Sexta, 26 Abril 2013 22:03 Escrito por 
  Nos contextos complexos da nossa condição humana atual precisamos refletir sobre as razoes do nosso ser missionário. Por que a missão é tão importante ainda hoje? O que significa evangelizar na era digital? Qual é o meu lugar na nova evangelização? Afinal, o que devo anunciar?   Desde seus inicios, a Igreja pautou sua atividade fundamental na missão porque Jesus de Nazaré foi o missionário do Pai. Andou por cidades e aldeias sempre embebido desta incansável ação. Seus seguidores, sobretudo Paulo de Tarso, depois do encontro misterioso com o Senhor às portas de Damasco, tornou-se evangelizador por excelência (1 Cor 9,16). Seguido depois por Barnabé, Tiago e Pedro, Paulo ficou marcado na Igreja antiga como o grande apóstolo dos pagãos. Suas viagens missionárias dão testemunho disto e ocupam sete capítulos dos Atos dos Apóstolos (13-21). O famoso discurso no areópago de Atenas (Atos 17,22-31) marca decididamente seu estilo visionário e místico diante da grande novidade que era Jesus. São também bastante significativas suas argumentações para defender seu ministério (Atos 22,1-21; 26, 9-18). A missão para Paulo era assim um projeto de vida assumido como vocação. Uma convocação que não nasceu simplesmente de uma opção, mas de um dever (1Cor 9, 17).  

Nos contextos complexos da nossa condição humana atual precisamos refletir sobre as razões do nosso ser missionário. Por que a missão é tão importante ainda hoje? O que significa evangelizar na era digital? Qual é o meu lugar na nova evangelização? Afinal, o que devo anunciar?

A compreensão da missão como anúncio para pessoas que não conhecem o Evangelho mudou. Evidentemente que muitos ainda não ouviram explicitamente o que seja a Palavra de Deus; contudo, somos conscientes de que as sementes do Verbo da vida já estão plantadas no mundo e nossa relação com as pessoas e culturas exige abertura, diálogo, despojamento e, sobretudo, conversão pastoral, senão continuaremos a mudar as palavras sem modificar a práxis.

Isto significa que eu, você e todos os chamados, temos um serviço relevante a desenvolver. Não acredito que haja um protagonista isolado, mas toda a comunidade do Povo de Deus está convocada, segundo os carismas pessoais e vocação, a evangelizar movida pelo chamado interior diante da verdade que é Jesus.

Mas quem é Jesus, a pessoa que temos de comunicar? A pergunta sobre Jesus é perene. Para seus contemporâneos, ele foi um homem sem importância. Nasceu num lugar povoado de pastores – pessoas pobres e sem importância –, conviveu com pescadores na Galileia, seus amigos eram quase todos pobres e desprovidos de poder religioso e politico. Seu pai e sua mãe eram simples e viviam em Nazaré, uma cidade perdida da Galileia. Jesus foi assim um piedoso judeu que viveu à margem do poder dominante. Contudo, sua palavra e seus gestos deixaram marcas profundas na história a tal ponto de modificar culturas diversas. Ainda hoje Ele continua revolucionando o mundo, fascinando pessoas. Ele continua morrendo ainda hoje nos pobres e ressuscita na esperança de um mundo novo porque o tempo não para.

Cada vocação cristã – seja à vida consagrada, ao matrimônio, ao presbiterado, ao voluntariado, seja aquela missionária -, emerge na sociedade e na Igreja como fruto do fascínio que Ele exerce sobre cada um de nós. E por Ele, com Ele e n’Ele, temos a coragem de responder generosamente sim, despojando-nos de nós mesmos na bela missão de evangelizar.

Contudo, para reconhecer o dom da vocação missionária é preciso reaprender a entender o mistério. Infelizmente, na sociedade atual há grandes perdas: perda da dimensão afetiva; perda da historicidade e do tempo; perda da capacidade de compromisso estável. Tudo isto gera fragilidade e vulnerabilidade. Portanto, o ser evangelizador começa quando buscamos entender as razões de nossa fé e o mistério de nossa vida. É muito importante considerar que cada momento da vida, encontro e desencontro, perdas e ganhos, são ocasiões de resposta, de crescimento, de verdade, de transformação. O mistério não está fora de nós, mas dentro de nós mesmos. O mistério se manifesta na dor e na alegria, na solidão e na companhia, no relacionamento harmônico e desarmônico. Tudo isso é lugar da manifestação de Deus que chama.

Um animador vocacional não pode ser alguém que responde, mas uma pessoa que sabe com paciência e habilidade cavar as respostas no mistério da pessoa, ajudando-a na formulação das perguntas. A vocação é sempre um processo dialogante entre Deus que chama no mais íntimo do ser humano no emaranhado de acontecimentos, pessoas e confrontos, e da pessoa que se pergunta e busca, muitas vezes, na escuridão dos sentidos, as respostas de significado.

Ser missionário é, então, saber responder e saber perguntar. Como Maria, não tenhamos medo de dizer: “Faça-se em mim segundo a Tua palavra”.

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