Monsenhor Jonas Abib nasceu em 21 de dezembro de 1936, na cidade de Elias Fausto, SP, e foi ordenado sacerdote salesiano em 8 de dezembro de 1964, com o lema “Feito tudo para todos” (1 Cor 9,22). Ele saiu da Congregação para iniciar a Comunidade Católica Canção Nova, mas, como destaca nesta entrevista, nunca deixou de ser um salesiano de coração. Tanto que a Canção Nova, desde 2010, é um dos ramos oficiais da Família Salesiana.
Boletim Salesiano – O senhor acaba de completar 50 anos de sacerdócio. Quais foram as principais alegrias ou desafios, ao longo dessa trajetória?
Monsenhor Jonas Abib – Os desafios foram muitos e as alegrias igualmente. Mas eu penso que o maior desafio foi justamente quando eu estava no último ano de teologia, portanto, para ser ordenado. Eu fiquei doente. Uma doença inexplicável, a ponto de eu ter de deixar o seminário e ficar cerca de seis meses fora do curso teológico. Foi só por Deus que eu consegui superar. Nesse ínterim, eu tive a graça do meu encontro pessoal com Jesus: o que mudou os rumos da minha vida! Isso me deu uma força tão especial, que fez com que eu falasse com meus superiores. Embora eu tivesse passado seis meses fora do seminário, eu estudei a matéria do primeiro semestre, fiz os exames e, segundo meus superiores, se eu passasse, eu me ordenaria. Passei! Com a nota mínima, mas passei. E, com isso, no dia 8 de dezembro de 1964, eu recebi a ordenação sacerdotal. Foi realmente uma graça especial de Deus. Um desafio que foi posto diante de mim e que, pela graça de Deus, superei.
BS – Quais são as recordações mais intensas do tempo vivido no seminário salesiano?
Monsenhor Jonas – A maior lembrança é dos meus formadores. Eu tive homens santos durante a trajetória dos anos do meu seminário. Homens realmente de Deus e homens de acordo com o coração de Dom Bosco, de maneira que eles me passaram uma formação muito boa, que foi de um valor enorme para minha vida e também para aquilo que hoje eu realizo que é estar à frente da Canção Nova. Eu louvo a Deus pelos superiores que eu tive, pelos formadores que Deus me deu.
BS – Em que contexto nasceu a Comunidade Canção Nova e qual foi o principal objetivo de sua fundação?
Monsenhor Jonas – Foi depois de um capítulo da Inspetoria Salesiana. Uma coisa estranha aconteceu comigo. Eu senti que eu devia deixar a Congregação e caminhar no trabalho com jovens. Todos acharam estranho: por que querer trabalhar com jovens fora da Congregação? Mas, era algo superior a mim mesmo. Eu conversei com meus superiores, foi todo um diálogo que foi necessário se realizar porque, como eu expliquei, era uma coisa incompreensível, mas eles cederam. Eu dei este passo e era o que Deus queria. O trabalho com jovens cresceu muito, nós realizamos inúmeros encontros, depois experiências de oração. Nesse meio tempo, eu tinha conhecido a Renovação Carismática Católica, apliquei isso também com aqueles jovens e foi uma coisa admirável. E, foi dessa forma que surgiu a ideia da Canção Nova. Que era justamente termos uma comunidade com a qual se multiplicasse o meu trabalho. Com a comunidade podemos fazer mais ainda para a glória de Deus. Isto tudo resultou o que é a Canção Nova nos dias de hoje. Era vontade de Deus realmente que isso acontecesse. Eu, na verdade, saí da Congregação apenas canonicamente, mas o meu coração foi sempre salesiano e o meu modo de ser foi sempre salesiano. Tanto assim que, hoje, nós somos Família Salesiana e fazemos questão de sê-lo de verdade!
BS – Na opinião do senhor, quais foram as principais conquistas da Canção Nova, ao longo desses 36 anos?
Monsenhor Jonas –A primeira conquista foi justamente a conversão de inúmeras pessoas. Pessoas que não tinham religião e que voltaram pra Deus. Pessoas que já eram de Igreja, mas que se afervoraram. Tornaram-se verdadeiros apóstolos e se entregaram literalmente a Deus. Esse sim é o maior trabalho, a maior realização. Mas fomos impulsionados pelo Evangelii Nuntiandi, a também utilizar os meios de comunicação. No início, uma pequena rádio que cresceu rapidamente e isso é admirável aos nossos olhos. Da rádio gerou a televisão com toda sua potência - é a 5ª maior emissora do país e transmitimos também para o exterior. Então eu só posso dizer: essa é uma Obra admirável!
BS – O que significou para a Comunidade Canção Nova ser admitida oficialmente na Família Salesiana?
Monsenhor Jonas – Foi tudo! Porque era o coroamento daquilo que nós éramos. O reitor-mor veio justamente assinar embaixo daquilo que nós éramos. E, agora ele, com autoridade de reitor-mor nos dizia: “Vocês são Família Salesiana”. E nós, mais do que nunca, abraçamos aquela realidade que já vivíamos, mas que agora éramos oficialmente. Nós somos muito gratos ao reitor-mor, à Congregação Salesiana, somos muito gratos a Deus.
BS – Como o carisma de Dom Bosco é vivido, hoje, na Comunidade Canção Nova?
Monsenhor Jonas – Com toda modéstia, eu digo, é vivido na sua totalidade. Primeiro porque nosso grande trabalho é com os jovens. Temos trabalho também na área de educação, um grande colégio além de uma faculdade. Mas, principalmente o nosso trabalho é levar Cristo a uma multidão de jovens. Com os encontros que nós realizamos aqui em Cachoeira Paulista, com os encontros que nós fazemos por todo o Brasil, com os livros e também com os nossos programas de televisão. Nós estamos totalmente inseridos no trabalho com a juventude. Outro trabalho muito especial que nós fazemos é o trabalho social. Como Dom Bosco, nós trabalhamos diretamente com a juventude mais pobre que precisa realmente promover-se, que precisa se profissionalizar, que precisa conhecer a Deus, voltar à Igreja. Nós trabalhamos com a juventude mais pobre aqui em nossa cidade e queremos fazer isso com mais intensidade.
BS – Para finalizar a entrevista, que mensagem o senhor teria aos leitores do Boletim Salesiano?
Monsenhor Jonas – Vivamos o sistema preventivo! Eu afirmo que ele funciona. Ele realiza naquilo que Dom Bosco queria e que nós hoje traduzimos assim: “Homens novos para um Mundo Novo”. Realmente vivendo o sistema preventivo nós estaremos aí, lado a lado com os jovens. Quantos problemas que a nossa juventude está enfrentando e o sistema de Dom Bosco atende a tudo isso. Especialmente, que nós levemos educação e religião a esses jovens. O que eles estão necessitando é disso. Eles precisam de Deus. E eles precisam ser “bons cristãos e honestos cidadãos”. Dom Bosco tinha a chave – nós devemos com essa chave abrir a porta para que muitos possam ser aquilo que Deus quer.