Buscar a profissionalização é desejar conquistar um espaço no mercado de trabalho. Mas, atualmente, muitos adolescentes acabam não tendo as mesmas oportunidades que outros. A história da desigualdade social é conhecida por todos, não há segredos quanto à vulnerabilidade existente. Voltando um pouco no tempo, foi em um cenário semelhante que Dom Bosco iniciou sua obra. O sonho de Dom Bosco tornou-se realidade, e ele contou e conta até hoje com muitos parceiros. Dar continuidade a esse projeto é algo conquistado a cada dia por todos que fazem parte da obra salesiana no Brasil e no mundo; e por muitos que se identificam com o carisma.
Tal identificação e proposta deram aos salesianos aqui no Brasil uma nova parceira: o Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância). No ano de 2012, o Instituto Dom Bosco (IDB) do Bom Retiro, em São Paulo, foi selecionado pelo Unicef e recebeu o convite para participar do projeto Raízes do Futuro. Com apoio do banco Barclays e parceria técnica do CIEDS (Centro Integrado de Estudos e Programas de Desenvolvimento Sustentável), o projeto tem como objetivo central qualificar adolescentes e jovens em situação de risco e vulnerabilidade social.
No Brasil, participam do projeto cinco instituições: Ação Social Rugby para Todos; Associação Vivenda da Criança; Instituto Reciclar; Sociedade Benfeitora do Jaguaré e o Instituto Dom Bosco.
O sonho continua
O Instituto Dom Bosco não hesitou em aceitar a proposta do Unicef que, desde o início, mostrou-se em consonância com o projeto educativo de Dom Bosco. A coordenadora da Pastoral e responsável focal do IBD, Maria Clara Lemes, afirma que o projeto fortaleceu o trabalho já desenvolvido pelo Instituto. O Raízes do Futuro proporciona aos educadores e educandos a continuação do sonho de Dom Bosco, pois idealiza uma educação profissional para valores, respeitando a pessoa em suas dimensões de relacionamento, desenvolvimento e competências. A preocupação em relação à formação juvenil quanto ao universo e à inserção profissional levou os idealizadores a um olhar bastante direcionado ao adolescente como cidadão.
Aliando os pilares da educação, as competências pessoais e comportamentais e um processo personalizado ao desenvolvimento, o educando vai gradativamente interagindo em uma dinâmica evolutiva que o direciona a uma postura profissional mais assertiva. Ele chega ao projeto como mais um e sai dele com uma pessoa apta a reestruturar o próprio projeto pessoal de vida.
“O projeto tinha tudo a ver com os encontros de Formação Humana já realizados no IDB. E não apenas isso, tem tudo a ver com Dom Bosco. Foi como se ele estivesse vivo através dos agentes. Não tinha como dizer não. Quando o padre Osmar (diretor da obra) perguntou quem queria assumir, eu não pude deixar de fazê-lo. E quando olhei a proposta, vibrei!”, declara a assessora Maria Clara. Ela faz questão de ressaltar que a oportunidade recebida foi conquistada também por mérito de alguns ex-alunos, hoje educadores de uma das organizações participantes, a Sociedade Benfeitora do Jaguaré.
O desenvolvimento
Egito, Zâmbia, Uganda, Paquistão, Índia e Brasil foram os países apontados pelo Unicef como tendo o maior índice de adolescentes e jovens em situação de risco e vulnerabilidade social. O objetivo do Raízes do Futuro é capacitar cerca de 74 mil jovens dos seis países. Mas, se por um lado o Brasil está entre os países com o maior número de adolescentes e jovens em situação de risco, por outro, é a nação entre as seis com os melhores desempenhos e desenvolvimento dentro do projeto. As organizações brasileiras participantes abraçaram a iniciativa, possibilitando uma maior aposta por parte do Unicef, que oferece subsídio, formações, palestras, a possibilidade de realizar um intercâmbio de conhecimentos e informações com os participantes das organizações assistidas; e ao educador um programa de reciclagem com reuniões periódicas e palestras formativas.
O mercado prima pelo profissional tecnicamente capaz, mas idealiza aquele que, além da técnica, sabe interagir e conviver em sociedade. Desse modo, dentro de todo o programa o educando é direcionado a redescobrir sua identidade através da autoconfiança, da convivência e da capacidade cidadã. Isso significa prepará-lo desde a apresentação pessoal até a sua inserção social. Conduzir a uma qualificação através da consciência sobre a responsabilidade social, promovendo o desenvolvimento das competências pessoais; empregabilidade e relacionamento familiar.
Sobre a metodologia, a coordenadora Maria Clara afirma que o projeto Raízes do Futuro e os Encontros de Formação Humana e Cristã foram completando a formação pessoal-profissional desse adolescente e jovem, garantindo maior segurança e preparo para o mercado. Segundo ela, cerca de 85% dos participantes já estão trabalhando. O projeto oportuniza ao educando uma redescoberta, e muitas vezes superação. É um trabalho que traz resultados em médio e longo prazo; contudo, as boas sementes já são visíveis e só tendem a contribuir com a formação da identidade e capacitação dos educandos.
Raízes do Futuro e o carisma
Na Estreia de 2009, o reitor-mor, padre Pascual Chávez, fez a introdução de sua mensagem com a parábola do “grão de mostarda”. Valorizando a semente que, por menor que seja, recebendo cuidado, torna-se uma árvore frondosa, ficando maior que as outras hortaliças. Nessa mesma edição, como é de praxe, finalizou com outra história, e novamente usou a temática da semente, porém, em uma dimensão maior: as pequenas sementes tornaram-se um bosque.
Atualmente o diretor do IDB, padre Sérgio Augusto Baldin Júnior, juntamente com sua equipe, apostam na continuação desse projeto. Percebem o desenvolvimento da árvore frondosa que está crescendo a partir dessas sementes. Veem a implantação do Raízes do Futuro não apenas na profissionalização, e preparam a incorporação do projeto também a outro programa do IDB, o Programa Vida Melhor (ProVim), que atende crianças de 7 a 14 anos.
Alguns dos educandos do ProVim, sob a orientação da coordenadora de Pastoral Maria Clara, inseriram nos encontros de Formação Humana e Cristã parte das dinâmicas do Raízes do Futuro. O intuito é iniciar a preparação já no último ciclo do ProVim, com os adolescentes na faixa dos 14 anos, uma vez que os educandos, quando saem do programa, são direcionados aos cursos profissionalizantes.
Os benefícios dessa parceria são percebidos diariamente. É gratificante perceber que em meio aos preparativos da grande celebração dos 200 anos de Dom Bosco, a cada dia existem mais motivos para comemorar o seu nascimento. Ainda recordando a Estreia de 2009, essa parceria é certamente parte do fortalecimento da “semente carismática” cultivada no Instituto Dom Bosco para o fortalecimento de toda a rede.