O país poderia recair no pesadelo da guerra civil do final dos anos 1990, de que saíra por meio dos acordos de Arusha, Tanzânia, em 2000. Tais acordos vetavam ao presidente candidatar-se uma terceira vez. Entretanto, em abril, Pierre Nkurunziza decidiu candidatar-se assim mesmo, e em julho recebeu um novo mandato, mas por meio de eleições boicotadas pelas oposições.
Para complicar o quadro, existe o componente étnico: no país convivem uma maioria hutu (perto de 80%) e uma minoria tutsi. A oposição ao presidente não se compõe exclusivamente de tutsis; mas permanece o fato de que os bairros da capital onde a oposição ao voto foi mais forte são de maioria tutsi.
Agora, a meu ver, a ‘carta’ do governo é jogar tutsis contra hutus. Mas assim, evidentemente, arrisca-se uma forma de luta étnica. Que isso descambe em um genocídio…, não creio absolutamente. Mas o perigo existe”, referiu à Rádio Vaticana o padre Gabriel Ferrari, ex-superior dos Xaverianos, que atuou por um ano como missionário em Burundi.
Um perigo concreto se for verdade, como reporta “Le Monde”, que o ministro da Segurança Pública recordou aos Tútsis que a situação deles é minoritária, acrescentando: “Se as ‘forças da ordem’ falharem, disporemos de nove milhões de cidadãos a quem basta dizer «façam alguma coisa»”.
“A situação real é que os mortos continuam a multiplicar-se: dizem-me que todas as manhãs se encontram pelas ruas, muitos, além do mais, torturados. Trata-se de gente assassinada e deixada pelas ruas como ‘sinal’ para os demais”, conclui o padre Ferrari.