Padre Roca desejava ir às missões quando era noviço, aos 16 anos: “Nunca me mandaram, embora me tivesse oferecido várias vezes”. Em 1986, depois de muitos e variados encargos desempenhados na Espanha e depois da morte de ambos os pais, o então reitor-mor telefonou e perguntou: “O oferecimento seria sério? Porque assim nós sempre o julgamos. Vá para a Etiópia”.
Em 24 de janeiro de 1987, depois de varias dificuldades burocráticas, aterrissava no país.Tinha 53 anos e chegava em plena guerra entre o governo comunista de Mengistu e os grupos que lutavam para depô-lo, coisa que se deu em 1991. O seu encargo era formar os seminaristas salesianos em Adigrat, na época uma simples localidade rural. Mas logo se deu conta de que havia outras necessidades. Naquela fase Adigrat não deixava de acolher refugiados: a pobreza era extrema. Faltava comida. “Nós, Salesianos, não podíamos ter um seminário só para nós. Devíamos também fazer algo pelos outros”.
Assim o padre Roca começou um programa de proteção a crianças e adolescentes, que ainda existe e pelo qual já passaram pelo menos 1000 menores nestes últimos 25 anos. “Visto que não podíamos ter uma escola, algo muito elaborado, fizemos um Centro Juvenil com atividades de tempo livre, educativo e de divertimento. E também uma biblioteca pública”, explica. Além disso conseguiu achar fundos para construir uma colônia de 40 casas para os mais vulneráveis. Iniciou também um sistema de ajuda para viúvas, para doentes com HIV/AIDS e para meninas-mães.
“Há uma frase no Novo Testamento que diz: ‘Há mais alegria em dar do que em receber’. Estou mais que convencido disso; poder fazer um pouco de bem por este povo me enche de alegria”.
Desde que chegou à Etiópia, desempenhou vários encargos: 11 anos em Adigrat,onde ensinou e cuidou de obras de proteção sociais; e 11 anos em Adis-Abeba, dos quais seis como superior da Visitadoria “África Etiópia-Eritréia”.
Em 2010, com 76 anos,voltou a Adigrat, com toda a intenção de ali ficar até a que o corpo aguente. “Não pensei em voltar para a Espanha: custaria muito adaptar-me; que fazer ali? Um sacerdote da minha idade pode celebrar missa, atender confissões e algo mais. Se voltar, serei um... aposentado. Psicologicamente, agrada-me estar perto da família. Mas no momento, me sinto muito mais útil aqui”.
Fonte: “Un misionero de 81 años más famoso que una estrella del rock” El País,de Lola Hierro