Segundo informações recentes da Agência de Notícias Salesiana (InfoANS), o campo de refugiados de Kakuma, no Quênia, está superpovoado. A guerra no Sudão do Sul continua a provocar o fluxo de entrada de pessoas que abandonam tudo e fogem para esse campo no país vizinho. Originariamente construído para abrigar 120 mil pessoas, Kakuma agora hospeda mais de 180 mil.
Neste ambiente, os salesianos atuam no conforto às famílias e na promoção de uma vida melhor para crianças e jovens. Além das ações para o socorro de primeiras necessidades, procuram proporcionar novos serviços, como uma escola de formação profissional, que possa dar esperança de um futuro melhor .
Vinte nações
Segundo os dados do Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (Acnur), no fim de maio de 2014 o campo de refugiados de Kakuma já acolhia 155.477 refugiados, provenientes de... 20 nações!
O campo oferece um lugar seguro para aqueles que provêm de países em guerra civil. Há alojamento, assistência sanitária, água potável e serviços higiênicos. E é basicamente com isso que vivem as milhares de famílias ali reunidas. Como ressaltam os salesianos que trabalham no local, os jovens de Kakuma “são os mais vulneráveis do mundo” e, depois de passarem por tantas violências e traumas, estão em um lugar em que as oportunidades de educação, de lazer sadio e de construção de uma vida melhor são mínimas.
Os salesianos em Kakuma dirigem a Paróquia Santa Cruz e o Centro profissional Dom Bosco, onde 1.044 jovens, meninos e meninas, recebem formação humana e para o trabalho. “O nosso é o único centro de formação técnica formal do campo”, explica o padre salesiano Lucas Mulayinkal, diretor da obra. Ao final do curso, os alunos recebem certificado reconhecido pelo governo, o que tem um grande valor para que os refugiados possam reconstruir suas vidas.
Ajudar as crianças a serem crianças
Atualmente os salesianos acompanham também o programa “Helping Children to be Children” (Ajudar as crianças a serem crianças), que, por meio de jogos, atividades lúdicas e aulas, cursos de desenho e de inglês, melhoram a vida de mais de 3.000 crianças. No momento, o programa é dirigido por voluntários e não há financiamentos estáveis. Quando é possível conseguir apoio financeiro, a prioridade é garantir comida aos alunos e seus familiares.
“Precisamos expandir os nossos serviços para satisfazer a crescente demanda de alojamento, comida, educação, suporte social, infraestruturas, para os nossos programas”, prossegue o padre Mulayinkal. Já está programada também a construção de uma nova capela, que se tornará a sexta da missão salesiana em Kakuma, para oferecer um lugar de oração e apoio social aos refugiados.
Novo centro profissionalizante
O mais novo projeto idealizado pelos salesianos é a construção de uma escola profissionalizante em uma área adjacente ao campo, chamada Kakuma-4. Nessa área não há serviços disponíveis e as organizações que atuam ali pretendem preparar uma infraestrutura adequada. Foi oferecido aos salesianos um terreno nos arredores de uma das capelas, para que possam ali construir um centro de formação profissional.
Porém, atualmente os salesianos contam apenas com o terreno. É preciso ainda delimitá-lo, levantar as alas e adquirir máquinas e aparelhagem. Depois de consultar os refugiados, os religiosos decidiram começar pelos ofícios de carpintaria, soldagem e costura. Também serão oferecidos cursos de inglês para adultos, já que não existe uma língua comum entre os refugiados das diferentes nacionalidades que hoje estão no campo, e isso facilitaria a comunicação entre eles.
Os salesianos consideram urgente o objetivo de angariar fundos para montar as oficinas e salas de aula; e, mais, para dotar o novo centro de emergência para os refugiados, de material adequado. “Quando vemos o grande número de jovens vagando no campo de refugiados, sem ter nada que fazer, sabemos que a única forma para evitar episódios de violência é levar os serviços e todos os atendimentos para mais perto dos refugiados”, afirmam os salesianos do local.
Com informações de: InfoANS
“Não há nada mais importante que salvar vidas de crianças carentes”
“Sempre quis trabalhar com e para meninos de rua, em minha vida adulta; antes no meu país, a Eslovênia; depois na Etiópia, no ‘Bosco Children’; e, a seguir, no Quênia”. Assim tem início o testemunho de Polona Dominik, jovem agente social eslovaca, ao Boletim Salesianoda África Leste.
Cheguei ao centro “Bosco Boys”, de Nairóbi, no Quênia, em fevereiro de 2012. Ali passei dois anos como voluntária. Sou assistente social de profissão. Havia conosco quase 200 dos ex-meninos de rua do ‘Bosco Boys’, de Langata e Kuwinda, e mais outros que estavam sob nossa tutela após ter completado o programa do Bosco Boys. Todos os dias chegavam novos pedidos de admissão: de modo que, como assistente social, havia muito que fazer. Aprendi muito.
Uma coisa é certa: a vida não oferece oportunidades iguais para todos. Encontrei crianças e famílias com histórias de sofrimento, pobreza, negligência, abuso, devastação.... Isso em um país que, seja como for, é muito rico. Todos os dias, encontrava meninos cujas famílias estavam ausentes ou eram incapazes de dar-lhes comida, casa, educação. Eles eram obrigados a se virar por si mesmos: roubando ou ganhando algum trocado com trabalhos de rua (recolhendo lixo, por exemplo). Muitas crianças vivem assim, Só uma pequena porcentagem delas têm a possibilidade de reabilitar-se junto a um centro, como o ‘Bosco Boys’.
Acredito que a culpa nunca é de uma criança, se ela vive na rua. Como poderia sê-lo? Ela é apenas uma criança. Veio ao mundo. Foi confiada às mãos do mundo dos adultos, um mundo que, muitas vezes, não consegue cuidar dela. Ela é somente uma criança. E quando ela ou ele não tem êxito na vida, a falência é NOSSA. Quero dizer com isso que a responsabilidade é de todos nós; dessa nossa sociedade dividida em ricos e pobres, com os ricos incapazes de partilhar todo ‘o possível’ com os pobres; das instituições, que recebem essas crianças, mas as crianças ali não crescem dentro de si; da sociedade, que não conhece o mundo e as exigências das crianças.
Em resumo: é isto o que posso dizer depois de ficar quase três anos no Quênia. Agora eu não trabalho mais COM o ‘Bosco Boys’. Trabalho POR eles, na sede dos Salesianos da África Leste, lutando todos os dias, buscando tocar o coração do povo do Quênia, para atrair a simpatia dos que foram mais afortunados. Para que sejam capazes de dar, de partilhar.
Posso descrever a minha experiência no “Bosco Boys” com uma frase: não há nada mais nobre ou mais importante no mundo do que salvar vidas de crianças carentes. E estou feliz de poder dizer que no Bosco Boys eu fiz parte dessa causa.