Um ditado popular diz que “o ócio é o pai de todos os vícios”. Ócio significa não fazer nada. Ócio representa, por exemplo, uma folga do trabalho, do colégio ou faculdade, um momento de lazer, para aproveitar e descansar. O ócio é um instrumento de dois gumes: pode servir para corromper, mas também serve para harmonizar a pessoa.
Uma pessoa ociosa é aquela que não está fazendo nada no momento, está em estado ocioso, também conhecido como um estado de pausa física e/ou intelectual, muitas vezes necessário, para quem trabalha muito.
É interessante o uso que se faz da palavra negócio. Dentro dela está embutida a palavra ócio. Então, negócio é a “negação do ócio”, ou seja, um empreendimento ou algo que ocupa alguém.
Ócio criativo
Um sociólogo italiano chamado Domenico Di Masi, na década de 1990, cunhou a expressão 'ócio criativo'. A Teoria do Ócio Criativomostra uma visão do que pode vir a ser a sociedade pós-industrial, tendo uma distribuição justa da riqueza, do trabalho, do saber e do poder. O ócio pode se transformar em violência, neurose, vício e preguiça, mas pode também se elevar para a arte, para a criatividade e para a liberdade.
Fazemos parte de uma sociedade em que a vida adulta é empregada exclusivamente no trabalho. A vida tem uma organização linear. Às crianças e aos jovens compete estudar, educar-se e preparar-se para o mundo do trabalho, o mundo adulto. Aos adultos compete trabalhar intensamente para produzir e preparar o futuro. Aos idosos, na aposentadoria, compete desfrutar do que se acumulou durante a idade adulta. O ponto de referência é sempre o futuro. Muitas vezes, no entanto, esse futuro não chega. Na idade da aposentadoria, chegam a doença, o descarte e o senso de inutilidade.
Isso está mudando. Hoje grande parte da sociedade dedica-se a outra atividade paralela ao seu emprego e essa é a abertura para o ócio criativo. As atuais gerações também estão muito mais preocupadas com o presente, comprometidas com a felicidade e a qualidade de vida, diferente das outras gerações que esperam a aposentadoria ou as férias para curtir a vida. A nova geração está ensinando outro modo de vivenciar com satisfação, inovação e aprendizado, as atividades diárias. O foco está em aproveitar o hoje, o agora.
Somos infinitas possibilidades
Por trás desta mudança está uma nova concepção da pessoa humana. Nós somos um todo muito complexo. Titãs é o nome de uma famosa banda de rock brasileira. Esta banda tem uma música que diz: “A gente não quer só comida. A gente quer comida, diversão e arte. A gente não quer só comida. A gente quer saída para qualquer parte”. Necessidades básicas não são apenas as que se referem à sobrevivência. São também as que se referem ao sentido da vida e da convivência humana.
O sistema preventivo de Dom Bosco é fabuloso porque consegue captar a complexidade da pessoa humana. Dom Bosco nunca olha a pessoa a partir de uma única dimensão. Para ele é necessário juntar o bom cristão com o honesto cidadão. É preciso religião, razão e amorosidade. Também são famosos seus três “s” de uma educação integral: saúde, santidade e sabedoria.
O ócio criativo justamente vem tirar da pessoa essa visão unidimensional que só a vê como trabalhadora e como produtora de bens materiais. A pessoa humana não é apenas o que ela produz, o que ela faz. Ela é também o que lê, o que pensa, o que partilha, o que escuta, vê e sente.
Muitas pessoas não tiram férias porque se sentem mal, pois estão perdendo tempo.As férias, justamente são um período precioso para viver o 'ócio criativo'. Viajar não é jogar dinheiro fora. Viaja-se para conhecer novas pessoas e novos lugares, para reforçar amizades e aproximar pessoas. Curtir uma boa música, ler um romance, ver um filme, bater papo com amigos, conhecer novas pessoas, fazer o que se gosta para além do trabalho, dedicar tempo para rezar e silenciar. Isto é ócio criativo.
Agora, o importante é guardar tempo para ócio criativo distribuído durante todo o ano. Praticar um esporte, visitar pessoas, tirar tempo para rezar...
Tempo é dinheiro!? Só?
A sociedade industrial capitalista diz que “tempo é dinheiro”. É verdade, mas também é ócio criativo. É impressionante como existem pessoas e profissões que se dedicam exclusivamente a ajudar as pessoas a desfrutar bem seu tempo criativo. São profissões novas e exuberantes: agentes e guias de turismo, gastronomia, hotelaria, artistas de diversos matizes, mestres de espírito das várias religiões. Há coisas que não dão dinheiro, mas que realizam as pessoas profundamente.
Uma coisa é o tempo livre e outra é a desocupação. Há momentos para não fazer nada. E fazem bem. Mas também há momentos para partilhar e para praticar ações que desenvolvem dimensões esquecidas da pessoa humana, como os sentimentos, a arte e a religião, a solidariedade e o voluntariado.
Precisamos ficar atentos ao apelo de Deus. Também Ele descansou... no sétimo dia.