Ira
Aira deixa de ser pecado e se transforma em virtude quando significa capacidade de indignar-se com a injustiça, com a banalização do mal. Ela se transforma em virtude quando significa paixão pela vida e pelo Senhor da vida, ânsia de fazer o bem vencer, capacidade de se entregar radicalmente à missão. No sul do Brasil existem duas expressões que são o contrário disto que estamos falando: boca mole e boca aberta. Uma pessoa boca mole é aquela que não sai do lugar, que não luta, não se apaixona por nenhuma causa.
Luxúria
A luxúria se transforma em virtude quando significa capacidade de apaixonar-se, escolher uma pessoa amada e viver intensamente sua afetividade e sexualidade. Sexo e afetividade são virtudes quando vividos na perspectiva da promoção e realização do outro e de si mesmo.
Preguiça
A preguiça pode ser vista e vivida na perspectiva do tempo livre e do lazer. É muito interessante que, hoje, o lazer esteja colocado entre as necessidades básicas do ser humano. Toda pessoa tem direito ao lazer. Saber dosar tempo livre e trabalho é uma grande virtude. Tempo é dinheiro, diz a sociedade capitalista. Sim, é isso, mas também é gratuidade. É preciso ser gratuito, sem ser supérfluo.
Orgulho
O orgulho é a capacidade de sentir-se bem com o próprio sucesso e com o sucesso do próximo. A baixa autoestima é deletéria para a pessoa, para a convivência social e para a cidadania. A alta autoestima realista faz bem para todos e levanta o astral de todos. Viver sem complexo de culpa, mas com grande senso de responsabilidade favorece o orgulho sadio. Sei reconhecer quando erro, mas também sei reconhecer quando acerto.
Inveja
A inveja pode significar a capacidade de ser mexido pelo sucesso do outro. Minha inveja é estímulo paraconviver como bem-estar do outro. Hoje se fala muito em inteligências múltiplas. Nem todos são bons em tudo. Há espaço para todos. Saber conviver com o sucesso do outro é uma grande virtude. No popular se fala em santa inveja. Eu não sei tocar violão, mas aprecio quem sabe fazê-lo e tenho inveja de quem sabe tocar. Isto é fonte de alegria para mim e não me deprime ou rebaixa. “Eu tenho inveja de você” pode significar “você me estimula, você é exemplo de vida para mim...”.
Avareza
A avareza como vício é ausência de partilha, esganação. No entanto, é também capacidade de poupança, capacidade de gerir bem os bens pessoais, familiares, empresariais e sociais. O esbanjamento e o consumismo são deletérios para a sociedade. Consumir sem ser consumista é uma grande virtude. Avareza é também fugir do crédito fácil que compromete o futuro e do cartão de crédito que compromete radicalmente as finanças pessoais e familiares. Poupar é virtude desde que na linha do compromisso pessoal, familiar e cidadão.
Gula
Finalmente, a gula como vício é fonte de doenças e, no dia seguinte, produz ressaca e vazio. Como virtude, ela se transforma na capacidade de alimentar-se bem, de criar hábitos alimentares sadios e adequados. Uma boa alimentação substitui ou diminui a utilização da farmácia e o consumo de remédios. Comer bem não é comer em demasia, mas comer adequadamente. Um dos cinco sentidos humanos é o paladar. Ele foi feito para saborear os alimentos. Isso faz parte de nossa natureza. Então... a bulimia e a anorexia são doenças modernas de quem não sabe alimentar-se adequadamente.
Concluindo...
Concordo que os sete vícios podem se transformar em virtudes desde que vividos na lógica do amor, da partilha, da solidariedade. É interessante que esses vícios estão ligados a paixões fundamentais da pessoa humana. Uma vida sem paixão não é digna de ser vivida. Essas paixões se tornam vício e, portanto, pecado, quando escapam do quadro da racionalidade e do amor. Apaixonar-se pelo outro, pelos outros, é virtude porque estimula a convivência e torna mais humano nosso viver.