A lava não tem somente aspectos negativos. O terreno em torno do vulcão é muito fértil, o sistema de chuvas abundantes da zona equatorial permite também duas colheitas por ano e favorece a cultura de feijão, mandioca, batata-doce, café e muitas variedades de banana. A essa riqueza vegetal acrescenta-se, na região de Kivu do Norte cuja capital é Goma, uma enorme riqueza de seu subsolo: existe ouro, zinco e, sobretudo, três quartos da reserva mundial de coltan (columbita-tantalita), um componente essencial para os circuitos telefônicos e eletrônicos portáteis. Além disso, se fosse pacífica, a região teria grande potencial turístico.
O reverso da medalha
Se fosse pacífica... A riqueza do solo e subsolo constitui o principal infortúnio da região. Há quase vinte anos, Kivu do Norte é palco de uma série contínua de guerras e conflitos pela posse da terra e exploração dos minérios. A guerra noleste do Congo provocou a morte, por doença e desnutrição, de 4 a 5 milhões de pessoas, e a fuga de cerca de 5 milhões de habitantes para outras regiões ou países vizinhos. Milhares de mulheres foram vítimas de violência sexual, que tem sido usada como arma de guerra e favoreceu a disseminação da Aids. Ainda hoje, no interior do Kivu do Norte tem ocorrido violência entre vários grupos rebeldes e militares que atacam principalmente os civis inocentes, alimentando a insegurança. Muitas pessoas se refugiaram na cidade. Há 50 anos, Goma tinha 5.000 habitantes. Em 2000, tinha 250.000. Hoje, tem quase um milhão. Um percentual muito elevado da população vive em extrema pobreza. A ajuda da comunidade internacional é frequentemente dificultada por questões burocráticas e corrupção desenfreada. O pequeno paraíso se tornou um inferno.
A resposta para as emergências
Os salesianos estão em Goma há trinta anos, primeiro no ITIG (Instituto Técnico Industrial de Goma), depois em Ngangi. Pela sua localização e pela criatividade de padre Mario Perez – que foi diretor por 12 anos –, o Centro Dom Bosco Ngangi encontra-se à frente na organização dos atendimentos de emergência. A comunidade salesiana, com a colaboração de uma dezena de voluntários do VIS (Voluntariado Internacional para o Desenvolvimento) e dos congoleses, procurou responder imediatamente às necessidades essenciais, de homens, mulheres e crianças que tinham perdido tudo por causa da guerra ou pela erupção do vulcão. São serviços totalmente gratuitos, que começaram durante o período de emergência e continuam ainda hoje.
Muitas crianças e jovens ficaram órfãos, abandonados ou dispersos após a guerra e a erupção do vulcão. De 1997 a 2010, o Centro acolheu37.528 crianças e jovens. Ainda hoje, Dom Bosco Ngangi atende totalmente (alojamento, alimentação, vestuário, assistência médica e escola) cerca de 400 crianças e jovens.
O Centro Dom Bosco construiu mais de 150 casas (base de concreto, paredes de madeira e telhado de folhas de zinco) com dois cômodos em cada casa, para alojar as famílias desabrigadas. Nasceu assim o bairro Kinogo. Os moradores podem tornar-se proprietários, comprometendo-se a pagar um terço do custo da casa. Para ajudar as famílias a pagarem a casa própria e a manter seus filhos, no Centro funciona, há cinco anos, um serviço de microcrédito.
Para os jovens que finalizam a formação profissional, o Centro criou uma Bolsa de Trabalho. Cada ex-alunorecebe um kit com as ferramentas necessárias para exercer sua profissão e ajuda para se empregar em empresas e oficinas ou para formar pequenas cooperativas de produção.
Fiéis a Dom Bosco, os salesianos oram com as crianças e os jovens, os preparam aos sacramentos, garantem formação religiosa nas escolas, animam os grupos de ação católica, preparando com solenidade as celebrações litúrgicas. No domingo, no grande salão de eventos do Centro, são celebradas duas missas das quais participam cerca de 3.000 fiéis.
Masos salesianos também sabem que a ajuda pode acabar. Nos novos projetos, procuram a sustentabilidade, para criar estruturas e serviços que possam manter-se por si mesmos.
As maiores esperanças repousam sobre duas fazendas agrícolas que o Centro comprou há 8 anos. A situação de guerra, até agora, tornou impossível sua exploração. Agora, com um pouco de tranquilidade, pode-se pensar em um projeto para produzir alimentos para o Centro e café para a venda.
Artigo originalmente publicado em Bollettino Salesiano – Itália, em junho de 2012.
Tradução: Elaine Tozetto