Na seção de “Orientações e Diretrizes” dos Atos do Conselho Geral, n° 440, foi publicada a carta Caminhar com os jovens na cultura digital, assinada pelo padre Gildásio Mendes, conselheiro geral para a Comunicação Social. O documento foi motivado por pedidos de várias partes do mundo salesiano e é o resultado de um trabalho conjunto realizado no Setor da Comunicação Social, que incluiu o diálogo com os delegados de Comunicação, visitas às diversas regiões e encontros do setor. Em entrevista à Agência Info Salesiana – ANS, padre Gildásio trata sobre a importância desse documento, seu significado e finalidade.
Por que o Setor de Comunicação Social publicou a carta Caminhando com os jovens na cultura digital?
Pe. Gildásio Mendes – Vivemos uma revolução no mundo da comunicação e nada voltará a ser como antes. Nós, salesianos, somos chamados a dar uma resposta às questões atuais que essa enorme mudança traz. A tecnologia muda, mas os valores cristãos persistem e a carta reafirma esses valores que, para nossa ação na educação dos jovens, são um ponto de referência indispensável. Nesse contexto de evolução, é importante interpretar a realidade digital a partir de uma perspectiva salesiana.
A carta nasce da pergunta “Como podemos, no mundo digital, viver e transmitir Dom Bosco e seu carisma sem perder a essência”. Como podemos fazer isso?
Pe. Gildásio – Nosso objetivo é acompanhar os tempos. Junto com os leigos, queremos ser intérpretes do mundo contemporâneo: ouvir as novas gerações; acompanhar os adolescentes em seus mundos ‘sociais’; buscar novas linguagens e novos métodos para educá-los ao amor, ao sentido da vida e à responsabilidade pessoal e social, na construção de seu projeto, a partir dos valores do Evangelho e do Sistema Preventivo.
A carta afirma que devemos garantir que “o espaço on-line não seja apenas seguro, mas também espiritualmente vivificante”. Como fazer?
Pe. Gildásio – Para nós, o digital não é uma moda. É uma oportunidade para nos comunicar com os jovens em seu habitat. A esse ambiente, os jovens levam seus sonhos, suas histórias, seus desafios, sua criatividade; e não só: buscam respostas a perguntas cruciais para a vida. Eis por que é fundamental estabelecer um diálogo com eles; ser reconhecidos como um ponto de referência. Isto significa entender sua linguagem, acompanhá-los em sua caminhada, apontar valores sem fazer com que se sintam julgados.
Se quisermos causar impacto na vida dos jovens, há que formar apóstolos e missionários digitais. Acha que os salesianos já os formaram o suficiente?
Pe. Gildásio – Para responder a esta pergunta, é preciso considerar as recomendações da Igreja, que sempre aceitou os grandes desafios do mundo contemporâneo. Ela, de fato, nos convida a aprofundar a dimensão antropológica e ética do mundo digital. O documento Os jovens, a Fé e o Discernimento Vocacional afirma: “O ambiente digital representa, para a Igreja, um desafio em múltiplos níveis; é imprescindível, portanto, aprofundar o conhecimento de suas dinâmicas e de seu alcance do ponto de vista antropológico e ético” (n. 145).
Recentemente, o Documento da Primeira Sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos afirmou que “não podemos evangelizar a cultura digital sem antes a termos compreendido” (n. 17). Com a ajuda de teólogos e educadores, é importante aprofundar e incentivar as experiências que já se fizeram neste campo.
A educação e a evangelização são os dois pilares da missão salesiana. Quais são os esforços que a Congregação está fazendo para evangelizar o ambiente digital?
Pe. Gildásio – A Congregação Salesiana criou um movimento de comunicadores que estão acompanhando a evolução digital. Ativamos uma reflexão interdisciplinar, aproveitando da experiência dos pesquisadores em nossas Universidades. Além disso, o Setor da Comunicação – juntamente com os Setores da Formação, da Pastoral Juvenil, das Missões e da Economia – desenvolveu um denso programa de encontros e eventos de formação para compreender e administrar esse fenômeno de modo inteligente e criativo.
O senhor disse que, se Dom Bosco estivesse aqui hoje, teria imediatamente lançado à mídia digital para chegar aos jovens. O que teria feito?
Pe. Gildásio – Dom Bosco dizia que os salesianos devem “caminhar com os tempos”, “gostar das coisas de que os jovens gostam”. Isto significa estar onde estão os jovens, estar ao lado deles. Dom Bosco ia na vanguarda e imagino que ele ainda gostaria de estar ali hoje; não teria uma atitude de rejeição pelo digital, mas sim de análise das instâncias, das oportunidades e também dos perigos que nele residem.
Como os salesianos podem se preparar para o futuro digital?
Pe. Gildásio – Hoje estamos imersos na revolução digital e da Inteligência Artificial. Em contexto de mudança, é sempre importante partir da própria identidade de salesianos consagrados aos jovens. O tema do Capítulo Geral 29 é “Apaixonados por Jesus Cristo, dedicados aos jovens. Por uma vida fiel e profética de nossa vocação salesiana”.
Precisamos ser fiéis à nossa vocação e dar testemunho do nosso amor a Cristo e aos jovens mais pobres. É preciso garantir a competência educativa e tecnológica; manter uma vida emocional e espiritual saudáveis. É importante, além disso, cultivar o espírito crítico acerca do digital: é preciso entender seus mecanismos e jogos de poder. A nossa missão é humanizar o digital a partir dos valores do Evangelho, sempre fazendo com que os jovens sejam os protagonistas desse processo, e não que o sofram.
Por entre tantas inovações tecnológicas, é ainda importante a comunhão fraterna na comunicação?
Pe. Gildásio – Na carta sobre o digital, enfatizou-se que a base da comunicação cristã está no Evangelho. Comunicar a partir do Evangelho significa afirmar os valores da fraternidade, da misericórdia, da compaixão, da caridade e da solidariedade para com os mais pobres. Também na comunicação digital, a nossa mensagem se radica nas experiências que vivemos todos os dias por meio de nossas obras, que existem para servir os outros.
Para concluir: como continuar a ser comunicadores fiéis a Dom Bosco e ao seu carisma, num mundo em mudança?’
Pe. Gildásio – Na minha opinião, é importante que continuemos a viver e a dar testemunho do carisma salesiano em todo o mundo. Os jovens são o grande dom que Deus nos dá. Estar entre eles, ouvi-los, caminhar a seu lado – como Dom Bosco nos ensinou – é a melhor maneira de não perder o contato com eles. Dom Bosco repetia que há sempre um projeto para cada um de nós: viver com alegria e generosidade a vida que Deus nos dá. Este é o coração da verdadeira comunicação!
Leia a íntegra do documento Caminhar com os jovens na cultura digital no Boletim Salesiano Digital: http://revista.boletimsalesiano.org.br/banca/2024/01/