No Boletim Salesiano de agosto-setembro refletimos sobre “A arte de educar e o educar por meio da arte”. A reflexão ali contida nos conduziu para perceber como a arte, desde os tempos de Dom Bosco, ainda menino, esteve presente como uma importante ferramenta para promover a educação juvenil.
O que foi ali trazido como referência sobre esse método de educar, realizado em várias das nossas obras sociais no Brasil, demonstrou sua projeção internacional no Encontro virtual de projetos educativos da Rede América Social Salesiana (RASS), que contou com a participação de dezenas de obras presentes em 14 países e/ou inspetorias salesianas das Américas: Colômbia - Medellín (COM), Venezuela (VEN), Peru (PER), Colômbia - Bogotá (COB), Haiti (HAI), América Central (CAM), Bolívia (BOL), Argentina Norte (ARN), Uruguai (URU), Paraguai (PAR), Chile (CIL), México (MEM), Equador (ECU) e Argentina Sul (ARS).
O Festival Artístico de Obras Sociais Salesianas, intitulado “Juventude, arte e transformação social”, realizado nos dias 30 e 31 de agosto, com 27 apresentações artísticas, teve como objetivo destacar o papel dos jovens como agentes de mudança, seja em suas vidas, seja na sociedade, divulgando seu potencial, reconhecendo em particular o talento dos que participam das obras sociais da América. No rol das apresentações se fez emergir os frutos do talento de jovens nas artes do teatro, dança, canto, música e circo.
Festival
Um dos objetivos da RASS é divulgar o grande trabalho realizado pelas obras sociais na transformação da vida de crianças, adolescentes e jovens em situação de vulnerabilidade social e, desta vez, por meio da arte, abordar temas como a capacidade de resiliência e a luta por sonhos, direitos e redução das desigualdades.
Durante os dois dias do festival, cada jovem artista compartilhou uma parte de sua vida e de seus sonhos, expressando-se por meio dos ritmos da “champeta” colombiana, das “cumbias” de vários países, das danças andinas ou de canções dedicadas a Dom Bosco; além de espetáculos circenses, fantoches, teatro, poesia e percussão. Com sua arte, eles tocaram corações e sensibilizaram a opinião pública sobre os problemas sociais dos jovens e sobre o quanto os salesianos ainda precisam trabalhar para transformar a realidade da América.
“Sem dúvida, há muito potencial artístico e transformador nas crianças, nos adolescentes e nos jovens das obras sociais das Américas e este potencial é promovido graças à dedicação, amor e paciência de educadores, leigos e consagrados, que o tornam possível. Como RASS, temos o grande desafio de multiplicar Valdocco para os jovens de hoje, para que possamos ser uma rede na qual nos relacionamos, nos comunicamos e nos sentimos como uma família inclusiva e transformadora que gera oportunidades de desenvolvimento integral”, declara a RASS.
Circo Social Dom Bosco
Voltando nosso olhar para a Rede Salesiana Brasil de Ação Social (RSB) e, mais especificamente, no contexto da cidade de São Paulo, merece um destaque especial o trabalho educativo realizado pelos Salesianos no Circo Social Dom Bosco de Itaquera. Esta presença salesiana, que teve início na periferia de São Paulo em 1981, tendo já então à frente o carismático padre Rosalvino Moran Viñayo, localiza-se num contexto populacional de mais de 520 mil habitantes e alcança, por meio dos dois grandes espaços educacionais que gerencia, um público diário de mais de 4 mil crianças, adolescentes, jovens e suas famílias.
No bairro, com uma população predominantemente formada por pessoas simples e onde mais de 10% vivem em situações de alta vulnerabilidade, o trabalho do Circo Social Dom Bosco atrai e encanta todas as crianças e jovens que dele participam, seja pela diversidade de alegres oficinas que o compõem, seja pelos resultados transformadores que alcança.
O projeto, que é conveniado com a Prefeitura Municipal de São Paulo, já encaminhou sete artistas para o famoso Cirque du Soleil, afirma a coordenadora Maria Célia Fernandes dos Santos. Padre Rosalvino complementa lembrando que o Cirque du Soleil é um dos maiores circos da América, senão do mundo.
Além do picadeiro
Dentro e fora do Picadeiro, já que o local onde o projeto acontece conta com uma grande lona de circo, mas também com quadras, dezenas de salas e oficinas, campo de futebol e piscina, são muitas e diversificadas as atividades educativas: arte circense e lazer, atletismo, banda marcial, capoeira, dança, iniciação à ginástica, ginástica artística e rítmica, música, taekwondo, teatro, iniciação esportiva e cidadania. Outras oficinas, ofertadas às mães e outras senhoras, como modelagem e costura, apoiam com a confecção dos uniformes.
Fato é que o “Saltimbanco dos Becchi”, como carinhosamente é chamado Dom Bosco pelos seus inícios como jovem educador e catequista, no lugarejo onde nasceu e cresceu, é hoje também venerado na Igreja como Patrono do Circo. Seu agir inspirou e fez escola ao longo dos séculos, nos mostrando como, por meio desta arte – que resiste ao tempo – é possível trabalhar a imaginação, a disciplina, a criatividade, o protagonismo, o respeito, a solidariedade, a alegria e a cultura, desenvolvendo habilidades e competências que preparam para a vida e a cidadania responsável.
Para todos que acreditam na educação, no trabalho social e que carregam dentro de si a alegria e a fantasia do circo, esta é mais uma iniciativa salesiana digna de toda valorização, apoio e aplauso. – “Respeitável público, vamos aplaudir o maravilhoso mundo do compromisso salesiano com a educação das novas gerações, em especial dos que vivem em maior risco e vulnerabilidade”.
Padre Agnaldo Soares Lima, SDB, é assessor da Rede Salesiana Brasil de Ação Social (RSB-Social).