“Alegremo-nos e exultemos”, pronunciou o Papa Francisco antes de anunciar o dia 9 de outubro como a data de canonização de dois novos santos: João Batista Scalabrini e o Salesiano Irmão Artêmides Zatti. Como os definiu o Papa, “São exemplos de vida cristã e de santidade a serem propostos a toda a Igreja, especialmente tendo em conta a situação do nosso momento”.
Pouco antes, o prefeito do Dicastério para as Causas dos Santos, o cardeal Marcello Semeraro, havia apresentado os perfis dos dois apóstolos da caridade profundamente dedicados aos doentes, aos últimos, aos migrantes, aos muitos rostos de Cristo sofredor na Terra. Sobre Artêmides Zatti, afirmou que ele “viveu tanto a experiência de migrante quanto a da doença, testemunhando o poder salvador da Páscoa e a alegria que caracteriza o estilo de Dom Bosco e que permeia toda a Família Salesiana da qual ele fazia parte”.
O padre Pierluigi Cameroni, postulador geral dos Salesianos, ressaltou que Zatti é um modelo de santidade particularmente atual nestes tempos marcados pela pandemia da Covid-19 e em que muitos são obrigados – pela doença, pela fome ou pela guerra – a abandonar sua terra natal. “Sua canonização será uma festa para muitos; um novo santo próximo ao sofrimento e não apenas porque dedicou a vida por eles, mas porque viveu em primeira pessoa a experiência da doença, amadurecendo uma extraordinária sensibilidade para com os doentes e nunca perdendo a esperança e a alegria”, lembrou.
Quem é o novo santo salesiano?
Para toda a Igreja, especialmente para a Família Salesiana, a canonização de Artêmides Zatti é uma notícia que enche o coração de alegria.
Zatti nasceu em 12 de outubro de 1880 em Boretto, Itália, em uma família de camponeses. No começo de 1897, obrigada pela pobreza, a família Zatti teve de migrar da Itália para a Argentina, estabelecendo-se em Bahía Blanca. Ali, o jovem Artêmides começou a frequentar a paróquia dirigida pelos Salesianos. Ele já contava 20 anos quando entrou para o aspirantado de Bernal e, ao dar assistência a um jovem sacerdote enfermo de tuberculose, contraiu a mesma doença.
Sua recuperação aconteceu na Casa Salesiana de Viedma, onde havia um hospital missionário, com um enfermeiro salesiano que praticamente atuava como médico: o padre Evasio Garrone. Este convidou Artêmides a rezar a Nossa Senhora Auxiliadora para obter a cura e ele, seguindo o conselho, prometeu que, caso fosse curado, dedicaria sua vida aos doentes. Ele diria depois: “Acreditei, prometi e fiquei curado!”.
Zatti fez a primeira profissão religiosa como Salesiano Irmão em 11 de janeiro de 1908 e a profissão perpétua no dia 8 de fevereiro de 1911.
Coerentemente com sua promessa a Nossa Senhora, devotou-se imediata e totalmente ao hospital, cuidando, num primeiro momento, da farmácia anexa. Quando, em 1913, morreu o padre Garrone, teve de arcar com toda a responsabilidade pelo hospital: tornou-se vice-diretor, administrador e enfermeiro especialista, estimado por todos os doentes e pela equipe de saúde.
Seu serviço não se limitava ao hospital: estendia-se a toda a região de Viedma, na Patagônia. Em caso de necessidade, deslocava-se a qualquer hora do dia ou da noite, com qualquer tempo, chegando aos abrigos da periferia, e tudo fazendo gratuitamente.
Em 1950, o incansável enfermeiro caiu de uma escada: foi nessa ocasião que se manifestaram os sintomas de um tumor maligno que ele mesmo, lucidamente, diagnosticou. Continuou, entretanto, a cumprir sua promessa por mais um ano, até que foi-se apagando, também lucidamente, em 15 de março de 1951, cercado pelo afeto e gratidão de toda a população.
O que é canonização
A canonização é o reconhecimento oficial da Igreja Católica da santidade de uma pessoa.
Para esse reconhecimento, é necessário um processo longo, no qual, inicialmente, são levantados documentos e relatos que comprovem que o candidato à santidade viveu as virtudes cristãs em grau heroico. Se isso é comprovado, o candidato recebe o título de Venerável.
Na segunda fase, são analisados os possíveis milagres que tenham sido realizados por intercessão desse venerável, para que ele possa receber a beatificação. Por fim, é necessária a comprovação de mais um milagre realizado após a beatificação para que a pessoa seja canonizada, ou seja: declarada oficialmente como santa.