A arte de educar e o educar por meio da arte

Sexta, 07 Outubro 2022 18:16 Escrito por  Pe. Agnaldo Soares Lima, SDB
A arte de educar e o educar por meio da arte Camerata do Projeto Jataí
Dom Bosco, educador com ampla visão sobre formar a mente e o coração dos jovens, acreditava, já no seu tempo, na relevância da música e da arte como ferramentas educativas de qualidade essencial e capacidade transformadora.    

Em uma visita recente a uma unidade socioeducativa – espaço que acolhe adolescentes em cumprimento de medida de internação pela prática de ato infracional – fui levado a visitar uma sala onde alguns adolescentes se dedicavam à atividade musical. O quanto se empenhavam ao aprendizado de instrumentos chamava a atenção, mas, muito mais, uma frase em destaque na parede, com os dizeres: “Música é arte, entra no coração e manifesta-se na alma”. Cumprimentei-os pela dedicação à atividade, pela mensagem escrita na parede, mas quis deixar uma proposta: vocês podem completar esta frase acrescentando “manifesta-se na alma e transforma vidas!”.

 

Dom Bosco, educador com ampla visão sobre formar a mente e o coração dos jovens, acreditava, já no seu tempo, na relevância da música e da arte como ferramentas educativas de qualidade essencial e capacidade transformadora. Em sua época, o “pai e mestre” dos jovens do oratório de Turim afirmava que “uma casa salesiana sem música é como um corpo sem alma”. Evidentemente, tratava-se de trazer para a ação educativa os valores contidos nos diferentes recursos que a música oferece para aflorar bons sentimentos, nobres emoções, harmonia, alegria, espírito de festa. Ao mesmo tempo, havia, por meio da música, uma sintonia e uma forma de contato com algo que cai sempre bem no gosto dos jovens.

 

O uso da arte na educação foi para Dom Bosco muito além da música, considerando que até mesmo o teatro, tido, naquele período, como atividade não muito salutar, foi valorizado como ferramenta de grande potencial para educar para bons princípios e importantes valores humanos e cristãos. Há, ainda, que se ter presente que, quando muito jovem, Joãozinho Bosco fez das artes circenses e atividades de saltimbanco um modo de atrair colegas e até adultos para suas aulas de catequese, repetindo, após o seu espetáculo, os ensinamentos que havia escutado do seu pároco ao participar da missa paroquial.

 

Arte nas obras salesianas

Em São Carlos, interior de São Paulo, o Programa de Medidas Socioeducativas de Meio Aberto dos Salesianos adotou a pintura em tela como parte do seu projeto de redirecionamento social. Sem nenhuma experiência com o manuseio de tintas, pincéis e telas, os adolescentes participantes do Projeto Expressarte encontravam na pintura uma forma de exprimir seus sentimentos, trabalhar impulsos agressivos e dar vida a verdadeiras obras de arte. Foi um desabrochar de cores, de paisagens, com beleza e vidas renovadas e transformadas. Histórias pessoais foram recontadas e reorientadas a partir da descoberta de um potencial interior, que aqueles jovens não sabiam que tinham e foram levados a descobrir. No mesmo programa, o Projeto Brincar levou outros adolescentes a se engajarem num trabalho de arte com crianças internadas na Pediatria da Santa Casa. Algo nos moldes dos “Doutores da Alegria”. Entretinham as crianças internadas, enquanto descobriam o valor da doação.

 

Não é diferente a história do Carlos Eduardo, que também cresceu no Salesianos São Carlos, e que no trabalho atuou sempre em serviços braçais: jardinagem, auxiliar de pedreiro e montador de estruturas para uma banda de música. Esta última profissão foi, até os seus 32 anos, o mais perto que chegou do mundo da arte e da cultura. No final de 2020, após um acidente que o deixou tetraplégico e tendo de dividir seu tempo entre a cama e algumas horas na cadeira de rodas que dirige com o queixo, Carlos começou a descobrir o artista que trazia dentro de si. Com um pincel preso à testa, tem sido capaz de demonstrar uma habilidade especial para a pintura, atividade à qual foi apresentado pela Ir. Helena, da Congregação Orionita, sua professora formada em artes plásticas.

 

Música para os ouvidos e o coração

Mas para retornarmos ao campo da música, há que se pensar em maravilhosas experiências de fanfarras, bandas e oficinas de música que estão presentes em diferentes obras e projetos sociais salesianos pelo Brasil. O Colégio Salesiano Santa Rosa de Niterói, RJ, primeira obra salesiana no país, possui uma banda com mais de 100 anos de existência. Precisamos recordar, ainda, a Banda Salesiana Meninos e Meninas de Dom Bosco, de São João del Rei, MG; e a Banda Salesiana de Camaragibe, PE, entre tantas outras.

 

Mais recentemente, mas já com quase 20 anos de existência, temos a Camerata Orquestra Jovem, do Projeto Jataí, obra social administrada pelos Salesianos Cooperadores de Pindamonhangaba, SP. Esse trabalho social, referência por ter uma gestão toda conduzida por salesianos leigos, envolve na Camerata mais de 80 jovens músicos, crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade, que vivenciam ali uma experiência de superação, profissionalização na música, fortalecimento da autoestima e um bonito despertar para novos horizontes de vida.

 

Não seria possível encerrar esse artigo sem citar o Projeto do Circo Social desenvolvido na Obra Salesiana de Itaquera, periferia da cidade de São Paulo. Este é exatamente o que o nome diz: o maravilhoso mundo do circo como um verdadeiro “picadeiro” da educação, fazendo parte dele, até mesmo, uma agremiação carnavalesca, que é a Escola de Samba Dom Bosco. Mas, para falar sobre essa encantadora experiência educativa, vamos precisar dedicar um artigo inteiro... Aguardem!

 

Padre Agnaldo Soares Lima, SDB, é assessor da Rede Salesiana Brasil de Ação Social (RSB-Social).

 

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Última modificação em Sexta, 07 Outubro 2022 18:36

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A arte de educar e o educar por meio da arte

Sexta, 07 Outubro 2022 18:16 Escrito por  Pe. Agnaldo Soares Lima, SDB
A arte de educar e o educar por meio da arte Camerata do Projeto Jataí
Dom Bosco, educador com ampla visão sobre formar a mente e o coração dos jovens, acreditava, já no seu tempo, na relevância da música e da arte como ferramentas educativas de qualidade essencial e capacidade transformadora.    

Em uma visita recente a uma unidade socioeducativa – espaço que acolhe adolescentes em cumprimento de medida de internação pela prática de ato infracional – fui levado a visitar uma sala onde alguns adolescentes se dedicavam à atividade musical. O quanto se empenhavam ao aprendizado de instrumentos chamava a atenção, mas, muito mais, uma frase em destaque na parede, com os dizeres: “Música é arte, entra no coração e manifesta-se na alma”. Cumprimentei-os pela dedicação à atividade, pela mensagem escrita na parede, mas quis deixar uma proposta: vocês podem completar esta frase acrescentando “manifesta-se na alma e transforma vidas!”.

 

Dom Bosco, educador com ampla visão sobre formar a mente e o coração dos jovens, acreditava, já no seu tempo, na relevância da música e da arte como ferramentas educativas de qualidade essencial e capacidade transformadora. Em sua época, o “pai e mestre” dos jovens do oratório de Turim afirmava que “uma casa salesiana sem música é como um corpo sem alma”. Evidentemente, tratava-se de trazer para a ação educativa os valores contidos nos diferentes recursos que a música oferece para aflorar bons sentimentos, nobres emoções, harmonia, alegria, espírito de festa. Ao mesmo tempo, havia, por meio da música, uma sintonia e uma forma de contato com algo que cai sempre bem no gosto dos jovens.

 

O uso da arte na educação foi para Dom Bosco muito além da música, considerando que até mesmo o teatro, tido, naquele período, como atividade não muito salutar, foi valorizado como ferramenta de grande potencial para educar para bons princípios e importantes valores humanos e cristãos. Há, ainda, que se ter presente que, quando muito jovem, Joãozinho Bosco fez das artes circenses e atividades de saltimbanco um modo de atrair colegas e até adultos para suas aulas de catequese, repetindo, após o seu espetáculo, os ensinamentos que havia escutado do seu pároco ao participar da missa paroquial.

 

Arte nas obras salesianas

Em São Carlos, interior de São Paulo, o Programa de Medidas Socioeducativas de Meio Aberto dos Salesianos adotou a pintura em tela como parte do seu projeto de redirecionamento social. Sem nenhuma experiência com o manuseio de tintas, pincéis e telas, os adolescentes participantes do Projeto Expressarte encontravam na pintura uma forma de exprimir seus sentimentos, trabalhar impulsos agressivos e dar vida a verdadeiras obras de arte. Foi um desabrochar de cores, de paisagens, com beleza e vidas renovadas e transformadas. Histórias pessoais foram recontadas e reorientadas a partir da descoberta de um potencial interior, que aqueles jovens não sabiam que tinham e foram levados a descobrir. No mesmo programa, o Projeto Brincar levou outros adolescentes a se engajarem num trabalho de arte com crianças internadas na Pediatria da Santa Casa. Algo nos moldes dos “Doutores da Alegria”. Entretinham as crianças internadas, enquanto descobriam o valor da doação.

 

Não é diferente a história do Carlos Eduardo, que também cresceu no Salesianos São Carlos, e que no trabalho atuou sempre em serviços braçais: jardinagem, auxiliar de pedreiro e montador de estruturas para uma banda de música. Esta última profissão foi, até os seus 32 anos, o mais perto que chegou do mundo da arte e da cultura. No final de 2020, após um acidente que o deixou tetraplégico e tendo de dividir seu tempo entre a cama e algumas horas na cadeira de rodas que dirige com o queixo, Carlos começou a descobrir o artista que trazia dentro de si. Com um pincel preso à testa, tem sido capaz de demonstrar uma habilidade especial para a pintura, atividade à qual foi apresentado pela Ir. Helena, da Congregação Orionita, sua professora formada em artes plásticas.

 

Música para os ouvidos e o coração

Mas para retornarmos ao campo da música, há que se pensar em maravilhosas experiências de fanfarras, bandas e oficinas de música que estão presentes em diferentes obras e projetos sociais salesianos pelo Brasil. O Colégio Salesiano Santa Rosa de Niterói, RJ, primeira obra salesiana no país, possui uma banda com mais de 100 anos de existência. Precisamos recordar, ainda, a Banda Salesiana Meninos e Meninas de Dom Bosco, de São João del Rei, MG; e a Banda Salesiana de Camaragibe, PE, entre tantas outras.

 

Mais recentemente, mas já com quase 20 anos de existência, temos a Camerata Orquestra Jovem, do Projeto Jataí, obra social administrada pelos Salesianos Cooperadores de Pindamonhangaba, SP. Esse trabalho social, referência por ter uma gestão toda conduzida por salesianos leigos, envolve na Camerata mais de 80 jovens músicos, crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade, que vivenciam ali uma experiência de superação, profissionalização na música, fortalecimento da autoestima e um bonito despertar para novos horizontes de vida.

 

Não seria possível encerrar esse artigo sem citar o Projeto do Circo Social desenvolvido na Obra Salesiana de Itaquera, periferia da cidade de São Paulo. Este é exatamente o que o nome diz: o maravilhoso mundo do circo como um verdadeiro “picadeiro” da educação, fazendo parte dele, até mesmo, uma agremiação carnavalesca, que é a Escola de Samba Dom Bosco. Mas, para falar sobre essa encantadora experiência educativa, vamos precisar dedicar um artigo inteiro... Aguardem!

 

Padre Agnaldo Soares Lima, SDB, é assessor da Rede Salesiana Brasil de Ação Social (RSB-Social).

 

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